
Plataforma da Estação Aeroporto Guarulhos: viagem rápida, geladinha e barata (FB/Arquivo pessoal)
O relógio marcava 15:03 quando o trem partiu da estação da Luz e 15:28 quando chegou à estação Aeroporto Guarulhos. A viagem durou 25 minutos e fez apenas uma parada na estação Guarulhos Cecap, uma antes de Cumbica.
Considero isso um feito. Principalmente por se tratar de São Paulo, a cidade mais maltratada, caótica e imprevisível quando o assunto é trânsito. Já levei meia hora do bairro de Pinheiros, onde moro, até Guarulhos – era madrugada e o Uber aproveitou pra pisar fundo. O mesmo trajeto já fiz em duas horas numa véspera de feriado e quase perdi o voo.

Plataforma exclusiva na Estação da Luz: saídas a cada hora cheia, das 5h até a meia-noite (Fabrício Brasiliense/Arquivo pessoal)
Não foi uma nem duas vezes que ouvi alguém dizer: “tenho que estar em Cumbica uma hora antes, preciso sair pelo menos com duas horas e meia de antecedência porque nunca se sabe quanto tempo vai levar.”
O trem para o aeroporto de Guarulhos trouxe previsibilidade, ainda mais agora com 20 saídas diárias a cada hora cheia, nos dois sentidos, desde 5h da manhã até a meia-noite. E são trens novos, encomendados para cumprir exclusivamente esse trajeto. Assim como a nova geração de comboios da CPTM, não há divisórias entre os vagões e você pode circular livremente em busca de espaço. E lugar é o que não falta, inclusive para as malas: há compartimentos em cima de todos os assentos e bagageiros verticais espalhados em toda sua extensão. É quase inacreditável.
A paisagem no trajeto acaba sendo uma aula involuntária de Brasil para gringos: vai da caótica ocupação da zona leste a favelas com esgoto a céu aberto, passando por alguns trechos de muito verde na altura do Parque Ecológico do Tietê. Mas dentro do trem, o ar condicionado é perfeito, geladinho, viajo sentado e o que vejo pela janela quase não me afeta. Quer coisa mais paulistana?

Espaço de sobra para levar as malas (Fabrício Brasiliense/Arquivo pessoal)
Alguém aí já deve estar chiando: ah, mas o trem não para no terminal. É fato. Mas, sinceramente, me parece o menor dos problemas se considerar justamente a previsibilidade, o preço (R$ 4,40 por viagem contra uns R$ 80 de Uber até a zona oeste) e a solução encontrada de colocar ônibus gratuito até os terminais (foram seis minutos da estação até o terminal 2). Concordo, o ideal seria parar no subsolo do aeroporto ou na porta, como acontece em várias outras cidades turísticas importantes, como Barcelona e Chicago. Mas é o que temos pra hoje e funciona.
A estação Aeroporto Guarulhos não é Cabul, tudo é moderno e amplo. Ao sair do trem, você desce um lance de escada rolante, ou de elevador, atravessa a catraca, desce mais um lance de escada rolante e chega à beira da calçada de onde parte o ônibus gratuito que leva aos terminais. No trajeto você não precisou subir ou descer a mala no muque em nenhum momento (alô, metrô de Paris!) e o caminho é todo coberto, ninguém se molha nos dias de chuva. Daria pra melhorar? Sem dúvida. E não falo do monotrilho, que o Dória já avisou que irá construir, mas sabe-se lá se sairá mesmo até o final deste ano. Falo de uma solução hoje, pra já: ampliar a frequência dos ônibus, que é de 15 minutos entre um e outro – nem sempre cumpridos, como já relataram diversos usuários –, e colocar aqueles sanfonados grandalhões. E de preferência com janelões, quem sabe com alguma cor mais viva, os de hoje lembram mais um caveirão.

Passarela coberta liga a estação ao ponto ônibus que leva aos terminais (Fabrício Brasiliense/Arquivo pessoal)

A caminho da catraca da estação Aeroporto Guarulhos (FB/Arquivo pessoal)

Ponto de onde saem os ônibus para os terminais (FB/Arquivo pessoal)
Sim, estou tentando convencer você de que, mesmo não sendo perfeito, concentrar as viagens em Guarulhos virou um bom negócio. Viajar por Congonhas continua sendo outra loteria no quesito trânsito. E quem for se hospedar nos hotéis da região da Paulista, basta uma baldeação para a linha Amarela quando chegar na Luz (a depender da altura do seu hotel, pode ser preciso mais uma transferência para a linha Verde).
O trem para Guarulhos é uma boa opção se você
- mora em qualquer cidade brasileira e está acostumado a andar de transporte público;
- viaja com mala pequena;
- precisa economizar;
- tem como origem ou destino alguma estação da linha Amarela ou Azul do metrô;
- não tem preguiça de fazer baldeação caso seja preciso fazer mais de uma
O trem para Guarulhos não é uma boa opção se você
- nunca pega transporte público no Brasil ou só anda quando vai pra Nova York, Europa, exterior em geral;
- viaja com criança pequena e precisa levar carrinho de bebê;
- viaja com mala pesada (aliás, por que em 2021 alguém ainda faz isso?);
- vai chegar à estação da Luz por outra linha de metrô na hora do rush e 1) tem alguma dificuldade de locomoção, 2) viaja com crianças ou, de novo, 3) tem muitas malas. Se agendar seus voos para o meio da manhã ou da tarde ou ainda fim de semana, a muvuca é muito menor;
- tem medo de ser sequestrado na saída da catraca, de ser levado para um terreno baldio, ter a carteira depenada e os rins arrancados para a venda na deep web (contra a paranoia, não há argumentos)

Ônibus saindo do ponto de ônibus no Terminal 2: mais parece um caveirão (FB/Arquivo pessoal)
Veja os detalhes do serviço de trem entre a estação da Luz e o aeroporto de Guarulhos neste link.
P.S.1: depois que eu publiquei este texto, um leitor chamou a minha atenção para um detalhe: no sentido aeroporto, o trem para apenas na estação Guarulhos Cecap; já no sentido contrário, de Guarulhos até a Luz, o trem para também na plataforma da estação Brás. Por que o trem não para no Brás na ida para o aeroporto? A resposta está aqui.
P.S.2: este blog volta à ativa depois de um hiato de alguns anos e nele pretendo falar um pouco de São Paulo e de Floripa, as duas cidades em que vivo o meu home office, e também do turismo em geral. Seja muito bem-vindo e fique à vontade para me escrever no fabricio.brasiliense@abril.com.br