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Máscaras usadas estão indo parar nos mares e nas ruas

O novo normal está produzindo um novo lixo. Máscaras e luvas usadas estão sendo descartadas sem o devido cuidado, trazendo potenciais riscos à saúde

Por Giovanna Simonetti
Atualizado em 29 set 2020, 18h49 - Publicado em 22 jun 2020, 10h36
(tataks/Getty Images)

A máscara se tornou uma das principais marcas no combate à Covid-19. Apesar de não ser a medida mais eficiente para impedir a contaminação (o essencial mesmo é higienizar constantemente as mãos e evitar aglomerações), ela diminui as chances de um infectado transmitir o vírus adiante – mas existe um porém. A máscara tem vida curta e alguns modelos, em especial os cirúrgicos e feitos com TNT, não podem ser usados mais de uma vez. Juntando isso ao fato de que o ideal é trocá-la a cada quatro horas, estamos diante de um outro problema: se for descartada da maneira errada, as máscaras podem ser uma ameaça para os oceanos. 

A organização francesa sem fins lucrativos Opération Mer Propre já vem alertando sobre a questão. O grupo, que frequentemente recolhe lixo no litoral da Côte d’Azur, publicou fotos e vídeos nas suas redes sociais em que mergulhadores encontraram uma porção de máscaras cirúrgicas, luvas de proteção e frascos de álcool em gel em pleno mar.  

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Em sua página do Facebook, o fundador da organização, Laurent Lombard ironizou: “Você quer dar um mergulho com Covid-19 neste verão?”. Ele ainda ressaltou a encomenda de 2 bilhões de máscaras descartáveis feita pelo governo da França e alertou que, em breve, “pode haver mais máscaras do que águas-vivas nas águas do Mediterrâneo”.

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E a preocupação já chegou ao governo francês: o deputado representante da região, Éric Pauget, escreveu uma carta ao presidente Emmanuel Macron, cobrando providências oficiais para tratar desse risco ambiental. No documento, o político menciona que muitas máscaras são feitas com plásticos que demoram 450 anos para se decompor e as classificou como “bombas-relógio ecológicas”. Por fim, Pauget pede que o presidente apoie iniciativas que produzam máscaras sustentáveis. Diante do problema, o governo francês tem um plano de aumentar as multas para quem jogar lixo nas ruas. O valor atualmente é de 68 euros, mas pode passar para 135 euros.

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Essa situação não aconteceu apenas na França. Em Hong Kong, quantidades cada vez maiores estão aparecendo na costa. Recentemente, em uma de suas visitas às praias da região, a ONG ambiental Oceans Asia recolheu 70 máscaras descartáveis em uma área de apenas 100 metros. Uma semana depois, mais 30 unidades apareceram, conta Gary Stokes, fundador da organização. À AFP, ele ainda explicou que as máscaras podem machucar e até matar animais marinhos caso sejam confundidas com comida.

Gary Stokes, da organização Oceans Asia, mostra as máscaras usadas que estavam jogadas nas praias de Hong Kong (Gary Strokes/Facebook/Reprodução)

Para além dos oceanos

Cada vez mais necessário no nosso cotidiano – seja para ir ao mercado, andar de ônibus ou até viajar de avião –, usar a máscara virou sinônimo de sair de casa. E, para além dos mares, o descarte do artefato nas cidades também é uma preocupação. Encontrar máscaras jogadas nas ruas já está virando algo comum

Nas redes sociais, usuários divulgaram as cenas e pediram para que as pessoas tivessem responsabilidade. Na Flórida, a polícia de Palm Beach fez uma publicação no Twitter para conscientizar os residentes. O post diz: “Todos que estiverem jogando máscaras e luvas usadas no chão, pensem duas vezes. Descarte seu material de proteção individual de forma correta. Jogar lixo no chão é um crime e nojento”. 

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Na Inglaterra, o fotógrafo Dan Giannopoulos ficou assustado com a quantidade de luvas e máscaras jogadas nas ruas do seu bairro, na cidade de Nottingham. Ele então decidiu registrar todos os materiais que encontrava quando precisava sair de casa – à BBC, Dan conta que não conseguia andar poucos metros sem topar com esse novo lixo na rua. No total, foram mais de 300 máscaras e luvas jogadas no chão, cujas fotos foram transformadas em uma grande montagem.

(Dan Giannopoulos/Reprodução)

O problema de se livrar desse material incorretamente não inclui apenas a poluição: além de sujar as ruas e os oceanos, o descarte de máscaras e luvas usadas em locais inadequados é um risco à saúde das pessoas, principalmente dos profissionais de limpeza, que poderão ser contaminados ao manusear o material. 

Qual o jeito correto de descartar as máscaras?

O mais importante é que esses equipamentos não entrem em contato com o ambiente e sejam separados do lixo reciclável – pelo seu risco infeccioso, nenhuma máscara pode ser reciclada. Para ir ao lixo comum (de preferência uma lixeira com tampa), a máscara deve estar dentro de um saco de plástico ou papel, bem fechado. O ideal mesmo é deixá-la selada na sacola por 72 horas, antes de colocá-la no lixo. 

As máscaras “verde”

Para minimizar o problema do descarte, a melhor alternativa é optar por máscaras reutilizáveis. Mesmo que também tenham um prazo de validade – ao sinal de desgaste do tecido, o Ministério da Saúde recomenda a troca –, elas podem ser esterilizadas e assim duram mais.

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Para lavar, é indicado deixar a máscara de molho em água sanitária e um pouco de sabão por 30 minutos, enxaguar e, depois de seca, passá-la com ferro quente. Quando não estiver sendo usada, ela deve sempre ser mantida em um saquinho.

Além de serem laváveis, as máscaras também podem ser feitas de forma sustentável. Uma série de iniciativas estão produzindo os equipamentos de proteção com material reutilizado, como garrafas de plástico recicladas ou retalhos de tecidos, como este projeto em Portugal.

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