Fui ao Caribe em plena pandemia. Já é hora de sair do Brasil?
Tensão, perrengues e recompensas de cruzar fronteiras sob o risco do coronavírus
Em março, a única missão possível para a VT era pensar como viajar sem sair de casa. Depois, à medida que a quarentena se estendia, tratamos de como viajar pertinho, em segurança. E, depois de 9 meses de pandemia e isolamento, parecia que, finalmente, estávamos vendo a brecha que tanto esperávamos.
O número de casos estava diminuindo e as fronteiras, se abrindo. Já era possível viajar para vários destinos paradisíacos, como Maldivas, Indonésia e Butão. E, quando várias ilhas do Caribe começaram a receber brasileiros, a VT foi convidada a ver como Aruba havia se adaptado aos protocolos contra a covid-19.
Em dezembro, embarquei na primeira viagem internacional da pandemia. E não vou mentir: foi uma delícia encontrar um destino com todas as medidas de segurança e, mais importante, a 30% de sua capacidade. Sim, a maior recompensa de viajar no meio da pandemia foi viver o lugar como nas melhores fotos: vazio.
É claro que, quando entra no hotel medindo a temperatura, de máscara, passando álcool em gel, você vai se lembrar da pandemia. E também quando vai tomar café: os tradicionais bufês self-service deram lugar a porções servidas por atendentes mascarados. Mas priorizei atividades ao ar livre, especialmente em horários alternativos, e consegui até esquecer um pouco tudo que estamos vivendo desde março de 2020 – especialmente no Brasil, com sua interminável onda de contaminação.
Mas o privilégio de esquecer, ainda que momentaneamente, o coronavírus, não chega sem preço. Divido com você, que não aguenta mais de vontade de cruzar fronteiras, tudo o que pesa na hora de sair do país sob a ameaça da covid-19.
1) Tudo pode mudar
–Duas semanas depois de dizer que seus cidadãos poderiam viajar para destinos considerados seguros, a Holanda decidiu impor bandeira laranja e recomendar viagens apenas em situações estritamente necessárias. Com isso, os holandeses que haviam comprado pacotes para Aruba tiveram que mudar de ideia. Viajar na pandemia é isso: estar pronto para rever planos o tempo todo. Voos mudam, são cancelados ou adiados. Regras mudam o tempo todo.
Em dezembro, era possível fazer o exame ao chegar ao aeroporto de Aruba ou mostrar o resultado na hora ao funcionário local. A partir de janeiro, o PCR negativo já deve constar do formulário digital para a entrada no país, a ser preenchido antes do embarque.
Nesse curto período de tempo, houve outra mudança muito relevante: desde 30 de dezembro, os brasileiros precisam apresentar um teste negativo feito 72h antes de embarcar de volta para o país. Isso quer dizer que, antes de comprar qualquer passagem, é preciso se perguntar: 1) esse país está aberto para brasileiros (na quinta-feira (14), o Reino Unido decidiu barrar a nossa entrada)?; 2) quais são as exigências para entrar (alguns lugares exigem quarentena, além de teste); 3) tenho como fazer um teste lá que me entregue o resultado em tempo hábil para conseguir voltar ao Brasil? 4) se o teste der positivo, tenho como me manter em quarentena por lá até conseguir embarcar de volta (considerando o ótimo cenário de não precisar de assistência médica especializada)?
Se você decidir ir para Aruba, já sabe que precisa de um teste para entrar e aviso que é fácil fazer o teste para a volta, embora salgado: cerca US$ 120 por pessoa. Seguem alguns lugares que oferecem o serviço:
* Clínica MedCare: medcare.aw – (+297) 280-0630 – Whatsapp (+297) 562-4440 – info@medcare.aw
* MedLab: lab.aw – (+297) 586-1600 – Celular/Whatsapp (+297) 592-0709 – info@lab.aw
* Hospital Horacio Oduber: https://www.arubahospital.com/ – Celular/Whatsapp (+297) 597-4522 – servicecenter@hoharuba.com
2) Novas exigências
Além de poder simplesmente fechar a fronteira do dia para a noite (vide caso da Argentina), os países podem impor exames, como comentamos acima, além de período de quarentena (na Coreia do Sul, são 14 dias, mesmo com teste negativo) e até mesmo a compra de um seguro específico caso precise de assistência médica no destino por causa do coronavírus.
No caso de Aruba, o governo estabeleceu um seguro obrigatório de US$ 30 que deve ser comprado antes do embarque a anexado ao ED-Card, o cartão digital que garante sua entrada na ilha. Além de despesas com tratamento, incluindo internação, se necessário, no valor de até US$ 75 mil, o seguro também cobre o custo de estadia caso a pessoa precise fazer quarentena na ilha. Mas não quero nem imaginar o que deve ser ter que ficar trancado num quarto quando se tem à disposição um mar azulzinho e areias branquinhas e desertas.
3) Reflexos da crise
Se, na sua cidade, muitas coisas fecharam por causa da crise gerada pela pandemia, no destino isso provavelmente também aconteceu. Numa ilha como Aruba, em que mais de 90% da renda vêm do turismo, seria impossível preservar todos os estabelecimentos e empregos depois de meses fechada. Nos centros comerciais que ficam próximos aos hotéis, muitas lojas estavam vazias, outras, funcionando em horário reduzido. Alguns restaurantes e mesmo hotéis aproveitaram a baixa para reformar. E tudo estava fechando às 23h, inclusive os cassinos. Casa noturna, então, nem pensar. O mais próximo que passei de um entretenimento foi o animador da piscina do hotel à noite, que reunia as poucas famílias que estavam hospedadas.
Isso certamente altera a paisagem que você vai encontrar no destino, mas está longe de ser um grande problema. A não ser que seu objetivo seja ir às compras – mesmo com a cotação do dólar nas alturas. Se o destino tem praias paradisíacas, o fato de um cassino ou museu estarem fechados não faz nenhuma diferença, mas, no caso de uma grande cidade, a situação pode ser frustrante. Mesmo na Coreia do Sul, onde a pandemia está relativamente sob controle, ainda não é possível ir a um bar, por exemplo. Que dirá um karaokê…
4) Passeios indisponíveis
Assim como lojas, museus, centros culturais ou mesmo alguns passeios podem estar indisponíveis durante a sua viagem. Se você faz questão de ver algo, é bom checar antes de comprar o destino, para evitar decepções. E, mesmo assim, nada garante que as regras ficarão as mesmas entre a compra do bilhete e a sua chegada (voltamos ao item 1 desta lista!).
Em Aruba, um Museu Arqueológico Nacional estava fechado, mas os passeios mais importantes, como praias e esportes aquáticos, estavam disponíveis, e o Parque Nacional de Arikok estava funcionando normalmente. No hotel onde ficamos, o Divi All Inclusive, porém, o stand para emprestar pranchas de SUP, por exemplo, estava funcionando apenas de 8h às 13h, por causa da redução de jornada imposta pela pandemia. Por precaução, também vale a pena comprar o próprio snorkel, se você gosta de mergulhar.
Outro cuidado que vale a pena é privilegiar um barco menor, se for fazer um passeio – alguns barcos maiores têm um clima de bar, com música e bebida, e, como sabemos, o álcool entra e a máscara cai. Apesar de ser ao ar livre, é bom não dar bobeira. Se for fazer um passeio de carro, não é preciso dizer que ônibus devem estar fora de questão. Quanto menos você interagir com outros grupos, menores as chances de ter que ficar isolado no paraíso.
5) Mais antecedência
Está com passaporte vencido, não tem atestado de vacina (em Aruba, você precisa de comprovação para imunização contra febre amarela)? Na hora de planejar a viagem, lembre-se de que tarefas simples podem demorar mais do que a média durante a pandemia. Vale checar se está tudo em dia antes de comprar a passagem e, se não estiver, ter ideia de quanto demora para resolver nas atuais circunstâncias. Viajar na pandemia vai requerer mais planejamento – mesmo que, na véspera, tudo mude de repente.
Ou seja: se você procura previsibilidade e não quer arriscar perder dias de suas preciosas férias, não é o momento de sair do país. O Brasil tem muitos destinos, para quem quer praia, montanha, natureza, o que for. Mas, se você está disposto a arriscar a aventura, prepare-se para alguns perrengues extras. E receba em compensação um paraíso quase deserto como você nunca mais achava que fosse ver.