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Animais sem fronteiras: dicas para viajar com seu pet

Um dossiê completo com a documentação necessária, macetes para encontrar hospedagens e viajar sem neuras com seu amigo bicho

Por Debbie Corrano
Atualizado em 21 ago 2018, 19h11 - Publicado em 20 ago 2018, 18h47
É preciso atenção à vários detalhes na hora de viajar com seu pet. Confira nossas dicas! (damedeeso/iStock)
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Estava em Chiang Mai, a segunda maior cidade da Tailândia, apertando todas as campainhas de hospedagens que tinham placas de aluguel. Em uma mistura de inglês e um tailandês improvisado do Google Tradutor, perguntava se algum dos quartos disponíveis aceitava cachorros. Após a cara de espanto, vinha a risada: é claro que não.

Eu sabia que morar com meus dois cachorros na Tailândia seria desafiador, mas não sabia quão complicado até a parte mais básica dessa jornada se sairia. Encontrar um lugar para morar com meus dois cães, na incrível Chiang Mai, foi uma das partes mais complicadas da nossa estadia na Ásia. De repente, passear com meus cães e ter vários cachorros de rua nos seguindo virou parte do nosso cotidiano.

Depois de mais de 50 visitas, conversas, ligações e indicações de conhecidos e desconhecidos, descobri que existe uma política na Tailândia que proíbe animais em condomínios residenciais. São leis do país. Dei sorte de encontrar uma das poucas hospedagens que aceitavam animais em toda a região e consegui um lugar para ficar por pouco mais de um mês.

Não me surpreendi de saber que todos os meus vizinhos, a maioria deles também expatriados, escolheram aquele lugar por conta de seus animais de estimação.

Cachorro e gato em quarto de hotel
(WebSubstance/iStock)

Viajar com a Lisa e o Luca, meus vira-latas encontrados nas ruas da Zona Norte de São Paulo, sempre foi desafiador. Na maior parte das vezes, o desafio começa meses antes, enquanto estou pesquisando sobre todos os documentos necessários para que eles possam entrar nos países de destino. Papelada, exames, vacinas e burocracias, na maior parte das vezes em línguas que eu não falo, já viraram rotina na nossa vida de nômades.

São mais de 4 anos na estrada e já passamos por mais de 10 países, dentre eles Alemanha, Portugal, Itália, Sérvia, Tailândia e México. Pegamos quase 20 voos juntos, mudamos de país de carro, viajamos pela Europa e pela Tailândia de trem e só não pegamos ônibus ou navio, ainda, por falta de oportunidade.

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TRABALHAR VIAJANDO O MUNDO: COMO COMEÇAMOS

Como muitos profissionais nos dias de hoje, me tornei autônoma em 2013. Sou publicitária por formação e trabalho criando conteúdo e estratégias para marcas e agências. Para tentar fugir do trânsito diário e do tempo perdido entre uma reunião e outra, trabalhar de casa foi uma solução natural que, aos poucos, foi sendo aceita pelos meus clientes sem grandes problemas.

Trocar o escritório para a mesa da minha sala foi o primeiro passo para que eu pudesse entender como levar meu emprego comigo para qualquer lugar do mundo. Não demorou muito para que eu começasse a me planejar para morar fora do Brasil pela primeira vez – e, é claro, levar meus dois cães comigo.

Cachorro em mala - viagem com animais
(humonia/iStock)

Meu primeiro ano como autônoma foi todo em São Paulo, fazendo a adaptação do trabalho presencial para o remoto, educando meus clientes e também juntando dinheiro. Após um ano de muito trabalho e planejamento, embarquei para Berlim, na Alemanha, já ao lado da Lisa e do Luca.

Hoje eu tenho a felicidade de dizer que já trabalhei de praias na Tailândia, cafés da Espanha e da Itália, um coworking no México e incontáveis aviões e aeroportos.

A IDEIA VAI TOMANDO FORMA

Documentação

Minha maior preocupação quando comecei a entender esse universo dos nômades digitais – pessoas que trabalham pela internet e podem viver em qualquer lugar – era saber se poderia viver essa vida junto dos meus cães. Eu não sairia do Brasil sem eles.

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Isso, invariavelmente, me levou a um dos principais desafios que já enfrentei: entender como o processo de viajar com animais saindo do Brasil funcionava. São muitos sites com informações ultrapassadas, veterinários que ainda não sabem sobre isso e falta de informação geral, causando um medo muito grande no dono de cachorro ou gato de primeira viagem.

Esse processo de emissão dos documentos pode levar bastante tempo e tudo vai depender do seu destino final. Meu primeiro destino ao sair do Brasil foi a Alemanha, então precisei pesquisar muito sobre esse processo focado em toda a União Européia.

Para viajar do Brasil para a Europa, por exemplo, levantar a documentação completa pode demorar quase 5 meses. Durante esse tempo, você precisa fazer a aplicação do microchip, aguardar 30 dias, coletar o sangue para enviar para análise no laboratório autorizado, aguardar os 90 dias de quarentena e solicitar o Certificado Zoossanitário Internacional (CZI) junto ao Ministério da Agricultura – Unidade de Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO). Já para os Estados Unidos e para o Canadá, o processo é muito mais simples e rápido, necessitando apenas da vacinação antirrábica e um atestado de saúde.

Girafa em van - viagem com animais
(Orla/iStock)

Para entrar na União Européia com um animal, o primeiro passo é o microchip, que garante que o animal está identificado. Ele pode ser de qualquer marca, desde que tenha o padrão internacional ISO 11784/11785 e qualquer veterinário pode aplicá-lo – a aplicação já com o microchip sai, em média, 300 reais.

A partir daí, é preciso aplicar a vacina antirrábica e aguardar 30 dias. Esse período é importante para que a o corpo do animal possa produzir os anticorpos da vacina, que serão testados no próximo passo.

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A vacinação antirrábica é requerida em absolutamente todos os países do mundo: Brasil, Argentina, México, Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Tailândia, Japão, não importa o destino. Ela precisa estar em dia sempre e o vencimento vai depender da localização que você a aplicou. Por exemplo, na Alemanha, como a raiva está erradicada, eles calculam o vencimento para apenas daqui 3 anos. No Brasil, a validade é de apenas um ano.

Após aguardar 30 dias da vacinação antirrábica, você precisa fazer a coleta de sangue do animal e mandar para um exame de sorologia antirrábica. São poucos os laboratórios que fazem esse exame no Brasil e são credenciados pela União Européia, então muitas empresas especializadas acabam enviando até para outro país.

Até o ano de 2017, o CCZ de São Paulo costumava fazer o exame, mas em 2018 apenas o Tecsa Laboratórios, em Belo Horizonte, e o Instituto Pasteur, em São Paulo, estão autorizados a fazê-lo. O exame sai em torno de 500 reais, mas é preciso pensar também no valor da coleta e do envio da amostra até São Paulo ou BH, que vai depender do seu veterinário.

Esse exame precisa resultar em anticorpos acima de 0,50 UI/ml. Caso contrário, o processo começa do zero novamente: outra vacina antirrábica precisa ser aplicada, aguardo de mais de 30 dias e outra coleta de sangue. Por sorte, quando fiz os exames dos meus cachorros, tudo deu certo desde a primeira vez.

A sorologia antirrábica é exigida por toda a União Européia, mas não para países como os Estados Unidos, a Tailândia, o México e nem países do Mercosul. De qualquer forma, sempre que você estiver pensando em viajar com seu animal, eu já aconselho que faça a sorologia para ter mais tranquilidade.

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Cachorro ao lado de bagagem - viagem com animais
(YakobchukOlena/iStock)

Esse documento é válido por toda a vida do animal, desde que a vacina esteja sempre em dia, e com ele em mãos você consegue viajar para praticamente todos os lugares do mundo que possuem burocracias mais rígidas. Outro benefício de ter a sorologia em mãos é que você poderá viajar de forma mais rápida para a União Européia, saindo de qualquer lugar do mundo, sem precisar passar por todo esse processo novamente.

A partir da coleta do sangue, você precisa aguardar 90 dias até poder embarcar com seu animal. Esse período é a única quarentena que ele vai precisar passar, já que não existe mais quarentena para animais entrando na Europa ou na maioria dos demais países com a documentação correta, processo obrigatório apenas na Nova Zelândia e na Austrália.

Muitas pessoas acreditam que essa quarentena após a coleta do sangue é um período em que o animal precisa ficar isolado, mas não funciona dessa forma. A vida do animal continua idêntica, ele pode sair para passear e interagir com outros cachorros sem absolutamente nenhum problema, só não está autorizado a embarcar.

Depois que da quarentena passar, tendo sua passagem em mãos, você precisa fazer um agendamento na VIGIAGRO para fazer o requerimento do CZI. No dia anterior a data agendada, você precisa passar em um veterinário para retirar um atestado de saúde simples que tem validade de apenas 72 horas. Esse atestado costuma sair em torno de 60 reais e a documentação na VIGIAGRO é toda feita de forma gratuita.

Em todos esses anos viajando com animais, se tem uma lição que eu aprendi é que preciso saber absolutamente todos os detalhes do que estou fazendo. Já precisei entender burocracias em muitas línguas que não falo absolutamente nada. Para viajar para a Tailândia, por exemplo, eu contratei um tailandês pela internet para que ele pudesse fazer toda a pesquisa necessária, ligar para os órgãos responsáveis e me explicar exatamente o que eu precisava fazer.

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Viajando na Sérvia, um país na Europa que não faz parte da União Européia, estava indo da capital, Belgrado, em direção a Novi Sad. Quando cheguei no trem com meus dois cachorros, pronta para embarcar, os guardas sérvios não queriam que eu viajasse com eles apenas na coleira, dizendo que era ilegal. Só que tinha um detalhe: eu havia comprado o ticket de embarque deles um dia antes na estação de trem.

Já estou tão acostumada a lidar com esses problemas que nem me preocupei muito. Encontrei um sérvio que falava um pouco de inglês, pedi ajuda para explicar para eles que sim, animais podem viajar de trem só na coleira, e que ali estava o ticket do trem específico para os cachorros como prova. Eles analisaram, conversaram com umas duas pessoas diferentes no rádio e me liberaram para viajar. 

Isso é uma coisa extremamente comum em todas as formas de transporte. Até no aeroporto eu já tive que explicar para as atendentes, durante o check-in, como eles deveriam adesivar a caixa de transporte dos meus cachorros. No México, tive que acessar o site oficial do Ministério da Agricultura, direto do guichê de embarque, para mostrar que eu tinha toda a documentação necessária para voar com meus cães de uma cidade para outra.

Cachorro viajando de carro
(igorr1/iStock)

Viajar com animais vem se popularizando a cada dia e o processo vem ficando mais fácil aos poucos. Ainda assim, é algo muito novo para muita gente. Sempre sou bombardeada de perguntas quando estamos prestes a embarcar no aeroporto, meus cães já tiraram fotos com os comissários de bordo de um avião e ainda existe muita desinformação sobre isso.

Esse foi o principal motivo pelo qual eu decidi criar o site Viajar com Animais, onde eu conto de detalhes à roteiros. Também criei um guia com todos os detalhes contando sobre a burocracia, que hoje já ajudou mais de 1000 animais a saírem do Brasil.

A curiosidade sobre o tema viajar com animais é enorme e muitas pessoas sonham em levar seus pets para outros países, mas isso também vem com um problema comum: a quantidade de boatos. Já perdi a conta de quantas vezes tive que desmentir histórias sobre viajar com animais. O tema ainda é um tabu e são poucas pessoas que viveram esse processo para falar sobre isso.

Quem sai perdendo, no fim, é o dono do animal, que adoraria viajar com seu bichinho mas desiste por estar com medo.

Hospedagem

A maioria dos sites de busca hoje em dia tem um filtro focado em quartos, hotéis, casas e até hostels que aceitam animais. Para evitar dores de cabeça, eu sempre reservo hospedagens com antecedência pela internet e já garanto que meus cães serão aceitos desde o início.

Eu costumo utilizar o Airbnb para reservar hospedagens mais longas e o Booking ou o Hostelworld para reservar locais em que vou passar apenas algumas noites. Todos possuem o filtro “aceitam animais”, mas eu costumo enviar uma mensagem confirmando antes de fazer a reserva.

Quando saí do Brasil para me mudar para Berlim, na Alemanha, meu plano era ficar por lá ao menos 6 meses. A Alemanha inteira é um país muito amigável com animais, e em Berlim, você é aceito em bares, restaurantes, lojas, parques, transporte público, centros comerciais e galerias de arte. Mas não são todos os apartamentos que os aceitam, por isso, antes de reservar qualquer coisa, conversei por semanas com muitos donos de apartamentos para entender muito bem como o aluguel funcionaria ali.

Eu costumo alugar apartamentos inteiros para nós, mas nem sempre funciona dessa forma. Em Chiang Mai, na Tailândia, eu consegui um quarto privado no No.9 Hostel & Cafe por uma semana. Durante esse período fui visitar vários lugares diferentes até encontrar um local que aceitasse os cães e cumprisse as nossas necessidades. Enquanto eu estava fora, os cachorros ficavam dentro do quarto. 

A hospedagem definitiva que eu encontrei em Chiang Mai foi o Flora House, uma guesthouse com apartamentos com sala e cozinha, um dos poucos locais que aceitam animais na cidade.

Cão em cama de hotel
(Prystai/iStock)

Quando estive em Pattaya, na Tailândia, eu não tive a mesma sorte que tive no resto do mundo. Estava planejando ficar 7 dias nessa região próxima a Bangkok, aproveitando os últimos dias no país para curtir o sol. Fiz uma reserva pelo Airbnb e, desde o início, foi garantido que eu poderia me hospedar com os cães.

Assim que cheguei no prédio, no entanto, vi que não era bem assim. Três placas bem na frente da entrada deixavam claro que animais não eram aceitos na propriedade. No elevador, mais duas placas avisando. Em todos os andares, outras notificações. No dia seguinte, a dona do apartamento me mandou uma mensagem falando que ela tinha se enganado e eu precisaria sair.

Mesmo no desespero de sair o mais rápido possível, eu consegui mandar mensagem para outras propriedades utilizando o Airbnb e reservei um segundo lugar que, em teoria, poderia aceitar animais. Me confirmaram por mensagem que estava tudo certo, chamei um Uber e fui.

Assim que cheguei na nova hospedagem, levando meus cachorros na coleira, eu retirei a chave do apartamento onde me foi indicado e, quando estava subindo no elevador, o segurança do prédio me seguiu até a entrada, falando em tailandês no rádio o tempo inteiro. No dia seguinte, como já era de se esperar, a gerência do prédio tocou na minha porta pedindo para que eu me mudasse – mais uma vez. Estava sem casa na Tailândia pela segunda vez em menos de 2 dias.

Nessa última vez, fui pessoalmente visitar o Le Viman Resort Pattaya Thailand, um hotel que na internet dizia aceitar animais. O dono é um francês muito simpático e dei sorte de ter encontrado esse lugar, porque era minha última tentativa antes de desistir de passar um tempo por lá.

Esse é um dos motivos pelos quais eu sempre confirmo que o local aceita animais antes de fazer uma reserva – e, mesmo assim, nem sempre as coisas saem como esperado.

A forma de aluguel também varia de lugar para lugar, já que todos tem suas particularidades. Quando morei em Budapeste, comecei a pesquisar apartamentos em grupos no Facebook e encontrei um lugar por um preço ótimo utilizando a rede social. Estava morrendo de medo que a mulher poderia não aparecer de última hora, mas no fim deu tudo certo. Paguei a primeira parte do aluguel assim que cheguei e ficamos lá por dois meses.

O problema de negociações informais é que você está correndo muito mais riscos do que se alugar direto de um site como o Airbnb. É preciso pensar bastante se o preço que você vai pagar vai valer a pena a possível dor de cabeça – e só enviar uma parcela para reservar a hospedagem caso você tenha muita certeza que não tem como nada dar errado.

EMBARCANDO

De avião

Assim que você fizer a reserva do seu voo, precisa ligar na companhia aérea e reservar um espaço para o seu animal. O procedimento funciona assim em qualquer lugar do mundo: não é possível chegar de forma espontânea no aeroporto e querer embarcar seu animal no mesmo voo sem reserva.

Gato em avião
(GummyBone/iStock)

As companhias costumam ter espaços limitados para animais voarem, dependendo do tamanho do avião, então é importante sempre confirmar com elas antes de você finalizar a compra. Eu costumo ligar para a companhia aérea, confirmar o espaço na aeronave, fazer a compra online e ligar novamente para reservar o transporte dos meus animais. 

Em alguns países, como o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia, você só pode levar animais em rotas autorizadas previamente pelo país. Não são em todos os voos que vão para, por exemplo, Londres, que você pode levar animais.

Para garantir que não terá nenhum problema, é importante checar diretamente no site oficial das autoridades do país de destino antes de fazer a compra da passagem. Em alguns casos, vale a pena ligar na embaixada do país.

Algumas companhias aéreas não costumam aceitar animais nos seus voos porque a aeronave não tem suporte para garantir sua segurança. Seja pelo tamanho do compartimento, pela falta de mão de obra ou simplesmente por regras da empresa, você precisa sempre checar as regras da companhia aérea. Companhias aéreas low-cost, operando especialmente na Europa, não costumam aceitar.

Dependendo do tamanho do seu animal, ele vai viajar na cabine ou despachado. Meus dois cachorros, que pesam 7kg e 10kg, viajam despachados. Eles costumam viajar na mesma caixa de transporte e nunca tomam nenhum sedativo.

Muitas companhias aéreas, inclusive, proíbem que você dê qualquer tipo de calmante para o seu animal antes da viagem, garantindo que ele terá como se equilibrar caso haja uma turbulência e também que não tenha nenhuma possível reação.

Viajar com animais na mesma caixa de transporte é possível apenas em algumas companhias aéreas e só se os animais são realmente muito próximos. Quando viajei de Cancún, no México, para Bruxelas, na Bélgica, por exemplo, peguei um voo da companhia aérea Tui Fly, que não autorizava dois animais na mesma caixa de transporte. A solução foi investir em uma caixa de transporte nova apenas para fazer esse trajeto e deixá-la para trás em seguida.

Esse é apenas um detalhe de muitos que você precisa checar com a companhia aérea antes de comprar a sua passagem aérea. Eu costumo me comunicar diretamente com a companhia aérea e tirar todas as minhas dúvidas antes de efetuar a compra pela internet.

Os dias que antecedem a primeira viagem com animais são sempre complicados. Eu já peguei quase 20 voos com meus cães e, até hoje, continuo passando noites sem dormir me preocupando com esse momento.

Para deixar as coisas um pouco mais complicadas, ainda existem alguns países que exigem que você faça uma parte da documentação apenas alguns dias antes de embarcar, acumulando essa burocracia com todas as outras preocupações de uma viagem.

No caso de sair do Brasil para a Europa, é preciso passar na VIGIAGRO no mínimo 10 dias antes do seu embarque. Assim que você souber a data do seu voo, é sempre interessante já tentar agendar a sua visita ao órgão para garantir que você terá tempo hábil para fazer todo o processo. A VIGIAGRO costuma ficar nos aeroportos internacionais da cidade e, no dia da visita, você não precisa levar seu animal.

cachorro no aeroporto
(damedeeso/iStock)

Para isso, você precisa se dirigir até o aeroporto, levando um atestado veterinário emitido menos de 72 horas antes, a carteira de vacinação do seu animal em dia, certificado do microchip e sorologia efetuada há mais de 90 dias. Com tudo isso em mãos, você pode requerer o CZI. Depois de feita a solicitação, em alguns dias você precisa retornar à VIGIAGRO para retirar o documento e só então estará com tudo pronto para o seu animal embarcar.

No caso de outros países, você pode precisar de outros documentos diferentes além do CZI. Para ir ao Reino Unido, você precisa fazer um tratamento para prevenir o animal da tênia. Para ir aos Estados Unidos, você não precisa ter a sorologia, apenas a vacinação em dia.

No dia do embarque, é importante chegar com bastante antecedência no aeroporto. Você precisa fazer o check-in pessoalmente, efetuar o pagamento do transporte – que costuma sair entre 100 e 300 dólares, dependendo da companhia aérea e tamanho da caixa de transporte – e, caso o animal vá despachado, eles vão adesivar a caixa.

Eles costumam colocar um adesivo com os dados do voo, como se fosse uma mala de viagem que pode ser escaneada, e alguns outros indicando a posição correta de transporte da caixa de transporte e seus cuidados com ela.

Além desses adesivos, eu mesma coloco meus dados na caixa de transporte, identificando o voo que eles vão pegar, país de origem e destino, meu telefone e endereços nos dois países.

De trem

Depois de viajar de avião com meus cachorros, começar a viajar de trem dentro da Europa com eles foi um grande alívio. Enquanto o voo com animais é estressante e tem uma série de burocracias que demoram meses para ficarem prontas, o trem é extremamente simples: você só precisa confirmar no site da companhia ferroviária se eles aceitam animais, comprar sua passagem e pronto.

Cachorro de trem
(PongMoji/iStock)

Na maior parte dos países europeus, animais viajam de graça na bolsa de transporte ou pagam o preço de meia passagem para viajar apenas na coleira. O único requerimento, além de, é claro, ter a vacinação em dia, é ter uma focinheira para o animal. Eu sempre viajo com uma focinheira na mochila, mas nunca precisei utilizá-la.

Quando viajei de trem da Áustria para a Itália, mesmo que a viagem fosse longa, de quase 10 horas e com duas conexões, os trens eram muito confortáveis, ninguém me pediu a documentação deles e os dois viajaram na coleira o tempo inteiro.

Na maior parte da Europa, você não precisa ficar em nenhum vagão específico que aceite animais, só precisa que eles sejam respeitosos e não ocupem o lugar de nenhum outro passageiro.

Infelizmente, não são todos os lugares do mundo que são tão amigáveis com animais como a Europa. Na maioria dos estados dos Estados Unidos, você só pode levar seu animal dentro de uma caixa de transporte. Elas não podem ocupar o espaço de outra pessoa e precisam ser levadas na mão. Isso impossibilita que pessoas que tenham animais de porte médio ou grande, como é o meu caso, viajem apenas de trem com eles.

Nos trens do Canadá, animais não são autorizados a viajarem com seus donos. Você só pode transportar seu cão ou gato caso o trem tenha um bagageiro para malas. Isto é, o animal não vai contigo, mas junto com as malas de todos os passageiros em um bagageiro específico, dentro de uma caixa de transporte apropriada. Na Austrália e na Nova Zelândia, as proibições também são muito semelhantes.

Mesmo na Europa, não são todos os países que aceitam animais viajando apenas na coleira de trem. Em Portugal, por exemplo, animais só são aceitos dentro de uma bolsa de transporte que possa ser levada na mão.

De ônibus

Ônibus costumam ser um pouquinho mais complicados para viajar com animais de uma cidade para outra. É preciso consultar a companhia de ônibus primeiro e confirmar suas condições de transporte, já que cada uma delas possui suas regras individuais que podem mudar a qualquer momento.

No Brasil, normalmente você pode viajar com animais de ônibus apenas se eles couberem em uma bolsa de transporte que você carregue na mão. No México, eles podem viajar com algumas companhias, porém apenas despachados no bagageiro, dentro de uma caixa de transporte apropriada. Isso também acontece nos Estados Unidos e no Canadá.

VIVENDO EM OUTRAS CULTURAS COM SEU PET

Eu lembro até hoje a primeira vez que entrei com meus cães em um castelo. Estava viajando com eles pelo sul da Alemanha, em Heidelberg, e fomos visitar o jardim do Heidelberger Schloss, castelo bem no meio da cidade. Estava fascinada que aquilo estava mesmo acontecendo.

Cachorro na praia
(titiya/iStock)

A sensação boa durou pouco, porque assim que chegamos perto de uma árvore, os cachorros viram um monte de esquilos nas árvores e saíram em disparada para tentar caçar alguns deles. Eu demorei quase 10 minutos para conseguir pegá-los de volta, correndo atrás deles em meio a grupos de turistas fotografando o castelo – e a palhaçada que estava acontecendo.

Nessa mesma viagem, paramos em um campo aberto em uma estrada tranquila para os cachorros brincarem um pouco. Quando me dei conta, o Luca tinha se enfiado atrás de uns arbustos tentando caçar alguma coisa.

Quando ele percebeu que não conseguiria voltar pelo mesmo caminho que fez inicialmente, começou a saltar como uma gazela de um lado para o outro, tentando me enxergar do outro lado dos arbustos, para garantir que eu ainda estava lá esperando por ele.

Logo na Alemanha eu já pude notar que a educação dos meus cães – ou falta dela – poderiam ser um problema para a integração deles. Todos os dias saía para passear na Weichselplatz ou na beira do Landwer Canal, em Berlim, e passava horas tentando adestrar meus cachorros para que eles ficassem mais tranquilos e latissem menos no dia a dia.

Na Alemanha, é obrigatório que animais sejam adestrados quando adotados, e você pode até mesmo levar uma multa caso seu cão não seja educado. Em Berlim, os cachorros são tão adestrados que muitos andam até sem coleira, lado a lado com seus donos, até mesmo para atravessar a rua. É comum ver donos de cães dando biscoitos para eles sempre que estão parados esperando o sinal verde. Adestramento, afinal, é tarefa para a vida toda.

Quando morei em Barcelona, fiquei hospedada na principal região turística da cidade, o Barri Gòtic, palco das fotos mais icônicas da cidade. Sempre que eu saía do prédio para passear com os cães, acabávamos nos misturando com grupos enormes de chineses. Perdi a conta das vezes que vi turistas fotografando a Lisa fazendo xixi, apontando e dando risada como se ela fosse parte das atrações turísticas do bairro.

Cachorro viajando na Itália
(Fly_dragonfly/iStock)

Outro fator importante para nossa vida no exterior é que meus cães são meus parceiros de viagem, então o bem estar deles é essencial. Costumo dar prioridade para hospedagens que possuam uma praça ou um parque por perto, como quando eu vivi em Budapeste bem perto da ilha Margitsziget, que fica bem no meio do rio Danúbio e é basicamente um grande parque, e conseguia levá-los para passear por lá todos os dias.

Mesmo quando morava em Bangkok, consegui me hospedar perto do campus da Universidade Srinakharinwirot e tinha certeza que conseguiria passear com meus cachorros por lá. Na segunda vez que fomos para o passeio, no entanto, fomos cercados por uns 5 cachorros de rua tentando nos atacar.

Só conseguimos sair intactos porque meu ex-namorado e alguns tailandeses se juntaram e foram espantando os cachorros, um por um, enquanto eu segurava um cachorro no colo e tentava proteger o outro com as minhas pernas. Agora a história é engraçada, mas na hora foi desesperador.

Minha rotina de trabalho em casa também é totalmente adaptada às necessidades deles: sempre fazemos dois ou três passeios diários, cozinho alimentação natural para os dois, sempre adaptando seus pratos com o que consigo encontrar localmente na cidade que moro e brincamos muito todos os dias. Além disso, também sempre aprendemos coisas novas juntos, todos os dias, mesmo eles já sendo cachorros de 10 anos de idade.

Meus cachorros sempre foram parte da família, e quando comecei a viajar com eles nos aproximamos ainda mais. Muitas pessoas relatam que essa vida de trabalhar enquanto se viaja o mundo, mesmo que seja uma vida dos sonhos, acaba sendo muito solitária.

Eu só posso dizer que tenho sorte de ter dois companheiros de viagem que deixam tudo mais alegre mesmo em dias mais cinzas.

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