Serão as melhores viagens de trem da sua vida. A Suíça tem ferrovias impecáveis, que integram um dos sistemas de transporte mais densos e pontuais do mundo, somando uma extensão de 29 mil quilômetros – em um país menor que o Espírito Santo. Mas não se trata apenas de eficiência. Por entre montanhas altíssimas com picos eternamente nevados, vales profundos varados por cachoeiras, lagos cristalinos e cidadezinhas que parecem de brinquedo, qualquer deslocamento na Suíça acaba sendo quase como uma viagem por um mundo encantado a bordo de um trem da Disney. Eis o que você precisa saber:
Swiss Travel Pass: vale a pena?
O Swiss Travel Pass é um passe supercompleto, que dá direito a viagens ilimitadas em trens – incluindo os panorâmicos –, ônibus e barcos; uso de todos os meios de transporte público em mais de 90 áreas urbanas; entrada gratuita em 500 museus e 50% de desconto em excursões de montanha, entre outros passeios.
Para oito dias seguidos, custa CHF 392,30 na segunda classe e CHF 622 na primeira. Para oito dias não consecutivos no período de um mês, o preço é CHF 238,28 e CHF 696,37, respectivamente. O franco suíço vale praticamente a mesma coisa que o euro atualmente.
Achar o passe caro ou barato vai depender de quanto você utiliza os benefícios, claro. Mas, como quase sempre uma viagem pela Suíça é “picadinha”, passando por várias cidadezinhas, vale a pena na maioria das vezes.
Primeira ou segunda?
Os trens da Suíça são o topo da cadeia alimentar em termos de conforto. Independente da classe em que você viaje, os vagões têm ar-condicionado, poltronas aconchegantes e, muitas vezes, wi-fi grátis. Na primeira classe, as poltronas costumam ser menos numerosas e mais espaçosas. Além disso, quase sempre há tomadas para carregar o celular (na segunda classe, isso é um pouco menos frequente).
Na minha experiência, o maior diferencial de ter o passe first class foi quanto ao número de pessoas: viajei sozinha em vários vagões, o que é uma vantagem extra em meio a uma pandemia. Nos trens panorâmicos, os vagões de primeira também são os mais bem posicionados. Em um deles, fui sentada na primeira poltrona do trem, praticamente cercada por paredes de vidro e ao lado do maquinista. Foi uma experiência e tanto.
Como funciona?
Não existe catraca na Suíça. Se você compra um bilhete de trem ou metrô, valida nas máquinas das estações e pronto. Já com o Swiss Travel Pass, basta tê-lo impresso ou no celular, pronto para apresentar junto ao passaporte. Os controladores nem sempre aparecem para fiscalizar e quase nunca pedem o passaporte, principalmente dentro das cidades. Mas todo mundo cumpre as regras direitinho e os poucos que são pegos no pulo pagam multas salgadas. Não passe essa vergonha, por favor.
Como planejar as viagens?
A única pega dos trens suíços é que, muitas vezes, você precisa fazer conexões em viagens mais longas. De Locarno, na parte italiana, a Montreux, na francesa, mudei três vezes de trem, por exemplo. Por isso, o aplicativo da SBB é uma mão na roda para planejar todas as rotas, sabendo exatamente em que plataforma cada trem chega e aonde você precisa ir para pegar o seguinte.
Durante a viagem, o app vai mostrando o quanto você já avançou no trajeto e avisa sobre qualquer atraso – apesar de serem muito mais pontuais que a média mundial, os trens suíços sofrem, sim, pequenos atrasos. Você também pode incorporar o QR Code dos seus passes ao aplicativo para facilitar na hora da fiscalização e comprar bilhetes com um clique. Outra maravilha de viajar de trem na Suíça é que você não precisa reservar. É entrar, sentar e viajar.
Dentro dos trens: modo de usar
Suíços falam baixo. E, fique atento: nos vagões silenciosos, não é permitido falar no celular e nem ficar conversando. Em algumas linhas, o trem não para necessariamente em todas as estações, a menos que alguém solicite. Nesse caso, você precisa apertar o mesmo botão que abre a porta para avisar o “motorista” que descerá na parada seguinte. Essas estações estarão claramente indicadas na rota que vai aparecendo na tela dentro do vagão. Também são dados avisos pelos alto-falantes, em inglês, alemão, francês e, dependendo de onde, em italiano também.
A questão da bagagem
Viajar de trem na Suíça (ou em qualquer lugar do mundo) só não é extremamente fácil pra quem estiver com uma mala gigantesca. Geralmente, há espaço entre os assentos e no compartimento superior (tipo o do avião, só que aberto) para malas pequenas. Já as grandes, devem ser deixadas em um espaço reservado coletivo, geralmente perto da entrada, como na maioria dos trens na Europa. Casos de roubo são raríssimos, mas, se você não consegue relaxar longe da sua bagagem, prefira uma mala pequena. Arrastar um trambolho nas conexões é outro perrenguinho. Muitas vezes, há elevador para acessar a plataforma, mas vira e mexe você tem que encarar uma escada.
O caminho é o destino
Se você pretende aproveitar as viagens de trem na Suíça para fazer qualquer coisa que não seja olhar pela janela, desista. Ou desperdiçará uma boa parte da graça de viajar pelo país. Ler, dormir, trabalhar? Deixe pra depois e curta a paisagem. Os visuais incríveis não se limitam aos trens panorâmicos. E não é exagero dizer que, se você for à Suíça só pra ficar andando de trem pra lá e pra cá, vale a viagem.
Trens panorâmicos
O fator “viagem por um mundo encantado a bordo de um trem da Disney” atinge o ápice nos trens panorâmicos. Eles podem até estar no seu caminho e servirem como meio de transporte. Mas também podem ser um passeio. O Grand Train Tour é um grande roteiro pelo país que combina várias linhas de trens panorâmicos ao longo de 1280 quilômetros. Taí um jeito bacana de fazer o seu Swiss Travel Pass render.
Como eu não tinha tanto tempo assim, fiz dois trechos desse rolê. O primeiro foi pela ferrovia Vigezzina-Centovalli, que atravessa 83 pontes e viadutos entre Locarno, na Suíça italiana, e Domodossola, na Itália, passando por incontáveis cachoeiras.
Depois, embarquei em um dos trechos classificados como premium com o GoldenPass. Partindo de Montreux, na Suíça francesa, até Zweisimmen, na parte alemã, ele cruza toda aquela imagem que habita o seu imaginário e as embalagens de chocolate suíço: campos absurdamente verdes, vaquinhas pastando, lagos, montanhas, fazendinhas fofas, cidadezinhas que não parecem de verdade. Fazer esse trecho no verão, sozinha no vagão, em um dia de céu azulíssimo, foi inesquecível. Repetir no inverno, com tudo nevado, ou na primavera, em meio a campos floridos, são bons motivos para voltar.