Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Tailândia de norte a sul: Ko Tao, a pechincha do mergulho

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h13 - Publicado em 5 mar 2008, 14h03

Você mergulha? Não? Xiii… em Ko Tao (ou Koh Tao) você será um peixe literalmente fora d’água, e não terá assunto para tentar um approach com aquela tal sueca. A ilha é um dos lugares mais baratos do mundo para se conseguir um certificado da PADI (Professional Association of Diving Instructors), a maior e mais respeitada associação internacional de mergulho. E é justamente com esse intuito que 90 por cento das pessoas vão para lá.

Em Ko Tao, o curso de quatro dias que garante um certificado de Open Water Diver, a categoria mais básica da hierarquia dos mergulhadores – que habilita o sujeito a alugar um equipamento completo e mergulhar a até 18 metros de profundidade em quase qualquer lugar do mundo – sai por 170 euros. E por 190 a 210 euros o pacote inclui curso (com quatro mergulhos), hospedagem e uma comidinha (frutas, chá, biscoito e etc) no barco. Nas outras ilhas tailandesas, só o curso custa mais de 200 euros.

Mas quando a esmola é muita o santo não desconfia? Humm… depende. O mergulho em Ko Tao sempre foi mais barato porque os “diving sites”, ou seja, corais, pedras, cavernas submarinas, são muito próximos à ilha, o que reduz o tempo da viagem e permite aos operadores arrebanharem mais mergulhadores em um mesmo dia. Por ouro lado, a tal da fama acabou fazendo com que o lugar se transformasse em uma verdadeira indústria dos certificados PADI (os próprios instrutores brincam dizendo que a sigla quer dizer “Put american dollars in”).

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Na alta temporada, 700 pessoas costumam submergir diariamente. E aí é que mora a possibilidade de roubada. As chances de você disputar a tapa os peixinhos coloridos embaixo d’água e levar uma garrafada de um mergulhador de primeira viagem dentro do barco são altíssimas. Para se dar bem, é bom checar quantas pessoas estarão em cada grupo (para que o instrutor possa prestar atenção a todos) e, importantíssimo, quantas pessoas estarão no barco de mergulho, já que muitos mergulhadores desengonçados em um espaço reduzido pode render vários hematomas resultantes de esbarrões com pesos e garrafas.

O meu grupo de aula era formado por oito pessoas divididas em dois instrutores.  Por sorte, fiquei na turma do figuraça Vee, um tailandês altamente zen que, apesar de falar um inglês incompreensível, era eficiente e atencioso. O resto do povo caiu nas mãos do ressacoso Merlin, um holandês com metade da cabeça raspada em um penteado ao estilo do palhaço Bozo, que decidiu seguir a carreira de instrutor quando descobriu que “mergulhar era melhor do que tomar um ácido” (primeira frase dita por ele na primeira aula). Enquanto assistíamos a um vídeo que dizia que fumar e beber antes de mergulhar é perigoso, nosso amigo Bozo fumava oitocentos cigarros enquanto tentava disfarçar o seu bafo de cerveja amanhecida tomando um Gatorade cercado por meia dúzia de “marias garrafa”, uma espécie endêmica na região.

Ressacas e muvucas à parte, não me conformo em ter demorado 31 anos para mergulhar. Ao menor contato com a água, o peso da garrafa desaparece, o corpo fica leve. Um novo mundo se abre. Tudo é lento e silencioso: arraias, peixes infinitamente coloridos, moréias, anêmonas, ouriços gigantes, barracudas… O tal do Bozo tinha razão. Quem precisa de ácido?

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