Atualizado em julho de 2019
Os canadenses de Quebec, capital da província de mesmo nome no pedaço francês do país, são pessoas doces. Até a gente perguntar o que os distingue dos patrícios do lado inglês. A jornalista Caroline é direta: “Comer, pensar, viver, são mundos separados. Chegamos antes. Eles são reservados; nós, quentes e alegres. Aproveitamos o dia; eles são negociantes. A política federal é deles, por isso muitos quebequenses querem se separar do país”.
Fundada em 1608, a cidade reitera uma identidade própria em todo lugar – as placas dos carros, por exemplo, vêm com o lema Je me souviens (“eu me lembro”), referência às origens francesas. A boa notícia é que eles não demonstram insatisfação ao falar inglês com os turistas.
Circular pela localidade mais europeia do Canadá é moleza, apesar de não haver metrô. Assim como em Salvador, a porção histórica se divide em Basse-Ville e Haute-Ville, as cidades Baixa e Alta, conectadas uma à outra pelo funiculaire, que funciona desde 1879, acessado na parte alta pelo Terrasse Dufferin.
Taí um ponto de pausa para clicar o horizonte e o Rio Saint-Laurent, seja no verão vibrante, seja no implacável porém gracioso inverno, que mancha os telhados triangulares de branco (no Natal, ainda é tranquilo, faz 0 °C, mas, em fevereiro, chega a bater -30 °C).
Melhor iniciar a caminhada pela Cidade Alta. Perto do funicular revelam-se torres que esbanjam elegância. É ele, o Château Frontenac, castelo aberto em 1893 como hospedaria, hoje com a bandeira de luxo da rede de hotéis Fairmont. Não se paga nada para dar uma espiadinha no chiquetê interno.
Ao norte do Château, mais exemplares magníficos de contemplação. Vem primeiro a Place D’Armés, zona de carruagens que levam turistas para um rolê. Ao redor da praça há bares e bistrôs. Não faltam canhões, fortificações e pontos de vigia.
Desemboque na Rue du Tresor, com tantos artistas de rua que lembra até o parisiense MontMartre. Depois vê-se a católica Notre-Dame, paróquia mais antiga da América do Norte. Deslumbrante como La Citadelle, fortaleza muralhada construída no século 18, que hoje guarda ruelas de pedra. Em volta dela, deixe-se perder por cafés, museus e casas de telhados pontiagudos para escoar a neve.
Termine o passeio pelos altos, no Parc des Champs-de-Bataille, onde, em 1759, os ingleses deram uma sova nos franceses, determinando o controle britânico sobre o Canadá.
Para cair na parte baixa, basta descer 170 degraus da L’Escalier du Casse-Cou, a escadaria quebra-pescoço. Lá fica a Place Royale, marco zero da cidade, contígua à Rue Saint-Jean, daquelas por onde não passa carro.
Comprar nela é menos vantajoso do que na Avenue Cartier, que tem o bônus das primorosas épiceries (mercearias), mas eita Saint-Jean joia para comer. Boas opções são o novíssimo Chez Boulay, perito em magret de ganso, ou o Tournebroche, com receitas de frango.
A noite também bomba por ali. Tome uma no Saint-Patrick. “Somos mais franceses que os parisienses, que só pensam em comprar”, orgulha-se François, habitué do pub. Nada mais marselhês, verdadeira resistência, a não ser pelo fato de que nas caixas soava o inglês dos Rolling Stones.
Quebec é também conhecida por seu Carnaval. Essa festa popular atrai cerca de um milhão de farristas durante 17 dias de festa. Mas aos brasileiros é preciso um aviso: trata-se de um carnaval de inverno. Fevereiro em Quebec significa temperaturas que chegam a menos de 20 graus negativos. E qual o remédio encontrado pelos locais para sair na rua e dançar com todo esse frio? Beber muito, claro!
Em Île d”Orléans, graciosa ilhota a 15 minutos de carro ou ônibus de Quebec, há produtores de queijos de leite cru, cidras e outras tantas delícias para degustação.
Na estradinha principal, procure placas das auto cuielletes (você colhe frutas e leva). E por um dos mais clássicos ranchos do melado maple syrup (xarope de bordo), o familiar Richard Boily (https://www.erabliereiledorleans.qc.ca/textes/welcome.html), com 6 mil árvores-símbolo do país, cujo processo de extração é detalhado pela Nicole.
Incrível como o Parc de la Chute Montmorency (https://www.sepaq.com/destinations/parc-chute-montmorency/index.dot), com cataratas homônimas de 83 metros de altura, 30 a mais do que Niágara. Vá de abril à metade de novembro, pois no restante do ano faz tanto frio que os moradores se mandam pra Flórida
Guia VT
Onde ficar
Na Cidade Alta, região do Parc des Champs-de-Bataille, está o Château Frontenac, castelo de 1893 que virou hotel. Mais barato, o Chez Hubert é uma casa vitoriana com vitrais.
O que comer
Na Cidade Baixa, nas imediações do marco zero, a Place Royale, vá de magret de ganso no Chez Boulay ou de frango no Tournebroche.
O que fazer
Se tiver fôlego após visita à Basílica Notre-Dame, encare uma gelada no Saint-Patrick.
Quando ir
Quebec é uma cidade muito agradável entre os meses de março e outono.
Línguas
Francês e Inglês.
Saúde
Para entrar no Canadá, nenhuma vacina é obrigatória.
Documento
O visto é exigido. Quem possui visto de turismo para os Estados Unidos pode solicitar o eTA (eletronic Travel Authorization, autorização eletrônica de viagem).
Por Bruno Favoretto