Fezes de pássaro resultam em café caríssimo no Espírito Santo

Fazenda Camocim produz o “Café do Jacu”, obtido nas fezes da ave; quilo sai por mais de R$ 1,5 mil

Por Maurício Brum
Atualizado em 25 jul 2025, 23h02 - Publicado em 25 jul 2025, 14h00
Além das visitas guiadas, fazenda também tem cafeteria própria, servindo a produção local (Fazenda Camocim/Divulgação)
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No interior da capixaba Domingos Martins, a cerca de 95 km da capital Vitória, a Vila de Pedra Azul é o local de nascimento de um dos mais inusitados e caros cafés produzidos no Brasil: é o “Café do Jacu“, um grão biodinâmico feito a partir das fezes da ave.

A premissa pode até assustar à primeira vista, mas acaba garantindo um produto com sabor e características únicas, sem qualquer interferência humana. Além de apreciar uma xícara desse café diferente que, não se abale, é devidamente higienizado antes de chegar ao consumidor também é possível conhecer pessoalmente o local onde ele é produzido, a Fazenda Camocim, que organiza visitas guiadas.

A mística do “Café do Jacu”

O jacu é uma ave famosa por se alimentar de grãos diversos, inclusive aqueles do café. Historicamente visto como um inimigo dos cafezais brasileiros, o pássaro ganhou um novo significado na Camocim. A inspiração veio do outro lado do mundo: o Kopi Luwak, um café típico da Indonésia obtido a partir das fezes do civeta, um mamífero que vive por lá.

A lógica é a seguinte: ao digerir os grãos, a ave submete o café a um processo que não é replicável em nenhuma outra situação da natureza, expondo-o a bactérias e enzimas que só existem no sistema digestivo do animal. Esse processo rende sabores únicos, que acabam se tornando uma exclusividade nacional porque, bem, o jacu é nativo de nosso território, especialmente na área de Mata Atlântica.

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Fanático por grãos, inclusive os do café, o jacu passou de inimigo a aliado da produção na Camocim (Dario Sanches/Wikimedia Commons)
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Curiosamente, a Camocim passou a investir nesse café para tentar manter uma relação mais amistosa com as aves, que invadiam a plantação e arruinavam as safras numa época crucial: quando os grãos estão maduros. Os pássaros vivem livres e todo o processo acontece sem que humanos se metam em qualquer etapa antes que o grão parcialmente digerido do café seja eliminado no cocô do bicho.

Essa ausência de intervenção faz com que não haja seleção dos grãos, e o resultado é um blend do que é produzido na fazenda, que inclui o café arábica e o icatu amarelo (uma cruza de café arábica e robusta). Uma vez comidos pelo jacu, os grãos são recolhidos, passando por processos de secagem, higienização e torra, em uma produção que leva muitos meses, mas acaba compensando os produtores pelo alto preço praticado no mercado.

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1 kg do “café do jacu” sai por R$ 1,5 mil, mas é possível comprá-lo em embalagens de até 100 gramas (Camocim/Divulgação)
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Pois sim: se você acha a premissa engraçada, fique sabendo que a iguaria é muito apreciada por amantes de uma boa xícara e o quilo do “Café do Jacu” atualmente sai por R$ 1.530. Quem deseja provar, mas não pode viajar até o Espírito Santo, tem como adquirir online. Para não pesar tanto no bolso, a Camocim vende pacotes a partir de 100 gramas, por R$ 153.

Como funciona a visita

A Fazenda Camocim, onde é produzido o café Jacu Bird, realiza visitas guiadas. É preciso entrar em contato previamente pelo número (27) 99831-4502.

Quem chega sem agendamento pode visitar apenas a cafeteria, onde é possível degustar e conhecer um pouco mais sobre os cafés exclusivos da Camocim. O funcionamento é de sexta-feira a domingo, das 10h às 17h.

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A Fazenda Camocim está na Rota do Carmo, no interior do município de Domingos Martins. São cerca de 2,5 km de estrada de chão a partir da Vila de Pedra Azul, pegando o caminho que sai do trevo da BR-262.

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