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Espírito Santo: Pedra Azul, Caparaó, Pico da Bandeira e mais

As cidadezinhas que valem a parada, o roteiro de charme e o agroturismo em torno da Pedra Azul – e um gran finale no topo do Pico da Bandeira

Por Fernando Leite
Atualizado em 5 ago 2022, 11h28 - Publicado em 23 jan 2018, 17h36

Ao perguntar o preço da diária dos hotéis de Aracê, a resposta invariavelmente é: com vista para a Pedra Azul, a diária custa tantos reais; sem vista, muito menos. A informação mostra o protagonismo desse monolito gigante cuja coloração muda conforme os raios solares.

Predomina o azul, mas podem aparecer tons esverdeados e amarelados. De quebra, uma saliência no alto da pedra remete à escalada de um lagarto. Em volta dessa paisagem bucólica, há uma consistente rede hoteleira – pousadas românticas, hotelões para famílias, restaurantes transados e propriedades especializadas em produtos orgânicos.

Sem sombra de dúvida, a Pedra Azul, com seus 1 822 metros e dentro do parque estadual homônimo, é o grande cartão-postal da Serra Capixaba – não à toa, muitos conhecem a região por esse nome. Mas fica no distrito de Aracê, que pertence a Domingos Martins. Pois é, meio confuso.

Estrada de terra do Alto do Caparaó
Estradinha de terra no Alto do Caparaó (BRUNO MAGALHAES / NITRO/Wikimedia Commons)

Para entender melhor, vamos retroceder 51 quilômetros, BR-262 abaixo. Lá fica Domingos Martins, a entrada da Serra Capixaba, uma simpática cidade colonizada por italianos, alemães e pomeranos. A Casa da Cultura, perto do Museu da Colonização Alemã, é uma espécie de première da região. Há peças de artesanato e um documentário sobre a chegada dos primeiros imigrantes. Ali perto, a Cervejaria Barba Ruiva serve ótimas cervejas artesanais – mas, vamos combinar, quem está dirigindo não pode beber.

De volta à estrada, o trecho de subida de serra é um pouco íngreme, mas com curvas sutis – a direção flui rapidamente. Se você espera ver a Pedra Azul ganhando forma à medida que se aproxima, melhor esquecer. O traçado é fechado, cheio de árvores, e ela aparece uma vez, do lado esquerdo da estrada. Para saciar a curiosidade, entre na Rota do Lagarto, estradinha estreita de paralelepípedos com restaurantes e pousadas charmosos – em 2 quilômetros, aparece a portaria do Parque Estadual da Pedra Azul.

O caminho das pedras

Fazenda Fjorland, Espírito Santo
Passeio a cavalo na Fazenda Fjorland (Divulgação/Divulgação)

E o que se pode fazer dentro do parque? Alcançar o topo é para escaladores feras, mas há duas trilhas abertas ao público. Até a base da pedra, chegar é moleza. O caminho tem 1,5 quilômetro (ida e volta) e pode ser feito por netinhos e vovós. A outra trilha vai até as famosas piscinas naturais, exige condicionamento físico para encarar uma escalada de 100 metros com cordas e precisa ser feita com guia agendado. O visual compensa.

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No final da Rota do Lagarto, 5 quilômetros depois da portaria do parque, o Quadrado de São Paulinho tem pousadas e locais para uma refeição leve. No Tuia, o chocolate quente é imperdível; na vizinha Marietta Delicatessen, resistir aos biscoitos é uma provação.

Agroturismo do bom

Vista dos cafezais da Venda Nova do Imigrante, Espírito Santo
Venda Nova do Imigrante tem trilhas por cafezais orgânicos (Tadeu Banconi/ Opção Brasil Imagens/Wikimedia Commons)

Em Aracê, há vida além da Pedra Azul. Pouca, é verdade. Mas bem interessante. Na estrada para Afonso Cláudio, há uma série de produtores rurais. Primeira parada: Apiário Florin, com loja recheada de produtos com mel. Um pouco mais adiante, o Sítio dos Palmitos vende sete tipos do produto em vários formatos: conservas, antepastos, massas secas, recheio de massas frescas e até fondue. Tem uma bancada para degustação, mas não há acesso à área de plantação.

Para fechar o ciclo, uma visita a um dos mais importantes produtores orgânicos do país: a Domaine Ile de France, que ocupa um terreno de 100 hectares em meio à Mata Atlântica. De lá sai um tour guiado que passa por todas as etapas de produção de vários itens – em uma hora e meia, caminha-se 2,5 quilômetros pela fazenda. Além da lojinha, há dois restaurantes, cujas receitas têm ingredientes orgânicos, claro, e uma pousada.

Essa sequência de produtores rurais é um aperitivo para o próximo destino. A 18 quilômetros de Aracê, a Venda Nova do Imigrante foi colonizada por imigrantes do Vêneto, uma italianada que apostou forte nos produtos rurais e colocou a cidade no mapa do agroturismo.

Produtos da loja Apiário Florin
Produtos da lojinha do Apiário Florin, Aracê (Divulgação/Divulgação)

Pode preparar bolso e estômago, e reserve espaço no porta-malas: você vai querer abastecer a dispensa com as delícias locais. O grosso dos produtores se distribui pela Rodovia Pedro Cola, que segue em direção a Castelo. Praticamente a cada quilômetro aparece algum estabelecimento para te tentar.

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Ainda na cidade, abrindo os trabalhos, ficam a Venda da Cláudia, especializada em artesanato de madeira, e a Tia Cila, com ótimos biscoitinhos feito no forno a lenha. Pioneira no agroturismo local, a Fazenda Carnielli produz laticínios, cafés e ótimos embutidos. Quase ali ao lado, fica a propriedade dos Busato, em que os visitantes conhecem o alambique, a produção de açúcar e provam a Teimosinha, a famosa cachaça da família. Encerrando o tour por essa estrada, o trabalho da família Brioshi tem semelhança com o da Carnielli na produção de leite, café e embutidos – e lá dá para conhecer o curral.

Essa é a rota básica para um primeiro contato com o agroturismo da região. Mas há mais propriedades espalhadas por Venda Nova, como a Cervejaria Altezza, no distrito de São José do Alto Viçosa, com acesso por estrada de chão. Lá, as águas geladas da região fazem a diferença no preparo das cervejas, que são servidas em um sobrado no meio do mato.

RESERVA KAUTSKY

Roberto Anselmo Kautsky descobriu cedo sua paixão por orquídeas, bromélias e afins. Pegou um terreno da família com 325 mil m², na entrada de Domingos Martins, e replantou 100 mil mudas oriundas de deslizamentos pela região. O projeto resultou em uma reserva linda, que pode ser visitada com agendamento.

Até o fim de sua vida, em 2010, o próprio Roberto Kautsky gostava de conduzir os grupos pelas 16 trilhas do local. Mas a equipe atual não deixou a bola cair, e os visitantes são levados por uma interessante aula de botânica. No topo da reserva, a 850 metros de altura, há uma capela – e a deslumbrante vista das montanhas capixabas.

 

Adrenalizando

Parque Nacional do Caparaó
Vista geral do Parque Nacional do Caparaó (LEO DRUMOND / NITRO/Wikimedia Commons)

BR-262 adiante, os programas mudam de perfil. O charme em torno da Pedra Azul e o agroturismo dão lugar ao turismo de aventura. Entram em cena as elevações do Caparaó, a mais alta cadeia de montanhas da região Sudeste, na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais. Protagonista nessas bandas, o Parque Nacional do Caparaó tem portarias nos dois estados, a capixaba Pedra Menina e a mineira Alto Caparaó – ambas com acesso à estrela local: o Pico da Bandeira, terceiro mais alto do país, com 2 892 metros.

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Chegar ao topo dá um certo trabalho. Pelo lado mineiro, a caminhada ao Bandeira percorre 14 quilômetros em trilha de sete horas (ida e volta). No lado capixaba, uma hora a menos para percorrer 9 quilômetros – é bem mais íngreme. Muitos sobem por um lado e descem pelo outro, combinando antes o traslado de volta. Contratar guias não é obrigatório, mas é altamente recomendável pela segurança e experiência na área – as setas amarelas pintadas nas pedras às vezes são bem espaçadas e confundem os andarilhos.

Pico da Bandeira, Espírito Santo
O cobiçado topo do Pico da Bandeira. Dá trabalho chegar mas é uma beleza (LEO DRUMOND / NITRO/Wikimedia Commons)

Quem topa enfrentar o friozinho pode passar a noite nos campings/abrigos de montanha e iniciar a subida ao topo no meio da madrugada – para ver o dia nascer lá no alto do pico, com as nuvens lá embaixo. Ainda dá tempo de curtir as quedas-d’água dentro do parque nacional. A Cachoeira Bonita, um paredão de 80 metros com ótimo poço de banho, fica do lado mineiro. No outro lado, o destaque é a Cachoeira da Farofa, com quatro cachoeiras e acesso fácil (o carro chega perto, e é preciso andar apenas uns 200 metros).

Depois de se aventurar caminhando pelas montanhas do Caparaó, vale relaxar num passeio de jipe. Há um monte de roteiros possíveis, inclusive voltando às quedas-d’água e mirantes do parque nacional ou explorando o entorno. As rotas mais procuradas seguem até a Cachoeira das Andorinhas e o Poço do Egito ou para conhecer a plantação de café da Fazenda Ninho da Águia.

DOMINGOS MARTINS/ARACÊ/PEDRA AZUL

Ficar

Hotel Aroso Paço, Espírito Santo
Vistona do Hotel Aroso Paço (Divulgação/Divulgação)

Se estiver sonhando com uma hospedagem mais charmosa ou requintada, considere ficar em Aracê. Um dos símbolos da Serra Capixaba, o Aroso Paço tem arquitetura clássica e uma vista linda da Pedra Azul que costuma atrair casais. Pombinhos apaixonados adoram a charmosa Pousada Rabo do Lagarto, que não recebe menores de 14 anos e tem café da manhã com doces e pães fresquinhos. Busque outras opções de hospedagem em Domingos Martins.

Comer

Bem próximo à Pedra Azul, o Don Due tem gostosos pratos de massas. O delicioso socol, lombo de porco sem muita gordura mas com sabor forte, é o embutido famosão da região. Não perca o da Tia Cacilda, empório à beira da BR-262, no caminho para a Pedra Azul.

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Passear

Para fazer as trilhas das piscinas naturais do Parque Estadual da Pedra Azul, principal atração região, é preciso agendar. Confira os horários de funcionamento aqui. Em Aracê, a Fazenda Camocim produz do Jacu Coffe, feito com as fezes do pássaro jacu-penélope. A ave engole o grão e depois suas fezes são depositadas no cafezal. A fazenda vende o produto. Na primeira quinzena de julho, o Festival Internacional de Música Erudita e Popular embala o centrinho de Domingos Martins com corais e coreto na praça.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE

Ficar

Pousada do Nonno, Venda do Novo Imigrantre
Pousada do Nonno, Venda do Novo Imigrantre (divulgação/Divulgação)

Em Venda Nova, as poucas opções de hospedagem são bem mais simples – mas não doem tanto no bolso. Na BR-262, próximo ao trevo principal, o Alpes Hotel é o melhor estruturado. Prefira os quartos do fundo, que são mais protegidos do barulho. Já a Pousada do Nonno é perfeita para se desligar do mundo e descansar – está instalada numa antiga propriedade de imigrantes, a 2,5 km do Centro, com acesso por uma estradinha de chão batido. Busque outras opções de hospedagem aqui.

Comer

Quinta dos Manacás, Venda Nova do Imigrante
Pratos do restaurante Quinta dos Manacás (Reprodução/Reprodução)

Em uma área muito agradável, no distrito de São José do Alto Viçosa, o Quinta dos Manacás tem pratos preparados com ingredientes da horta própria e opção de menu degustação. Enquanto você prova as receitas, as crianças alimentam os peixinhos no lago. O Fazenda Saúde Restaurante, na Rodovia Pedro Cola, prepara um delicioso bufê roceiro, servido no fogão a lenha. Tem tirolesa e pesque-pague.

ALTO CAPARAÓ

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Caparaó Parque Hotel, Alto Caparaó
Caparaó Parque Hotel (Divulgação/Divulgação)

Hospedagem mais próxima da portaria do Parque Nacional do Caparaó, o Caparaó Parque Hotel, já em Minas, é bom pra quem viaja com crianças por causa da área de lazer e do tamanho dos quartos. Um pouco mais abaixo, na Pousada do Bezerra, os hóspedes dormem ao som do Rio Caparaó. O pessoal organiza passeios e prepara lanches para as trilhas. Busque outras opções de hospedagem aqui.

Comer

Com menu bastante variado, o Estância Gourmet tem nível de conforto – e preço – superior ao encontrado na região. Tem pé-direito alto e iluminação tênue. No fim de tarde, depois de um exaustivo dia de passeios, a pedida é provar um café ou uma cerveja artesanal do Cacau Bandeira. Do outro lado do Caparaó, no lado capixaba, o Toca da Truta, conhecido também como Tecnotruta, tem acesso por estrada de terra, mas diversão para toda a família – as crianças podem conhecer o criatório e pescar no laguinho.

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Passear

Confira os horários de funcionamento da portaria do Parque Nacional do Alto Caparaó no site. A reserva para o acampamento é obrigatória e deve ser feita online. O Restaurante Mineiro organiza passeios de jipe pela região.

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