Vaias e comemorações marcam a retomada dos cruzeiros em Veneza
Moradores querem solução para evitar que grandes embarcações cruzem o centro histórico. Vozes contrárias temem a perda de empregos
Moradores de Veneza foram surpreendidos na última quinta-feira (3) quando o navio MSC Orchestra, de 92 mil toneladas, cruzou o canal de Giudecca. Foi a primeira vez em 17 meses que uma embarcação de grande porte realizou o percurso. O navio transportava 650 passageiros e ficou ancorado na região central até sábado (5), quando partiu rumo a Bari, no sul da Itália, ao som de vaias de protesto e algumas buzinas de apoio.
As vaias partiram do movimento “No Grandi Navi”, que convocou centenas de pessoas para protestar contra a presença de grandes embarcações na chamada Lagoa de Veneza. No final de março, o Primeiro Ministro, Mario Draghi, sancionou a medida que proibia a circulação e parada de navios de cruzeiro no canal de Giudecca até 31 de maio, enquanto o governo definiria novas rotas para as embarcações.
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As autoridades locais afirmam que o porto de Marghera, apontado como solução temporária, está em obras e não havia rota alternativa para o navio, com isso a embarcação da MSC foi autorizada a ancorar no canal na semana passada. Quem protestava se dizia enganado ante a inércia na solução do problema pelo governo italiano.
Vozes a favor, como trabalhadores do porto, acionaram buzinas em sinal de apoio. O movimento em prol dos navios, chamado “Si Grand Navi”, tem como apoiadores as milhares de pessoas que dependem da indústria de cruzeiros e defendem que, além dos empregos gerados, a exclusão de Veneza dos itinerários marítimos causaria um impacto gigantesco na economia local. Ainda há muita água para rolar.
Protestos vão além dos navios
A presença de navios é motivo de manifestações não só pela poluição, mas pelas erosões causadas ao solo, que podem piorar as inundações na cidade. Os protestos do movimento “No Grandi Navi” não são apenas contra as grandes embarcações, mas ao que vem sendo chamado de “overtourism”, que acaba por abarrotar Veneza de excursionistas, elevar o valor dos aluguéis e expulsar moradores de toda uma vida que não podem mais pagar para viver na área central.
O mesmo problema é enfrentado em outras cidades da Europa, como Amsterdã e Barcelona. Antes da Covid-19, a capital holandesa vivia abarrotada de visitantes. Agora, os esforços são para controlar as esperadas multidões pós-pandemia, que trazem consigo muitos turistas sem-noção. A prefeitura da cidade, inclusive, anunciou o desejo de remover o Red Light District, região de prostituição, para um lugar mais afastado. Em entrevista ao The New York Times, Irina, representante do movimento PROUD, em favor das profissionais do sexo, disse que a solução não é realocá-las. “Nós estamos na mesma área há séculos e somos encaradas como causadoras do problema – o que não somos. É preciso conscientizar os turistas de que estar de férias não lhes dá o direito de serem idiotas com quem está trabalhando”, afirmou.