Roteiro pela Colômbia: 22 dias pelo melhor do país
Os consagrados e os achados de Medellín, Guatapé, San Andrés, Cartagena das Índias, Arquipélago de San Bernardo, Minca, Santa Marta, Tayrona e Bogotá
Diga a um desavisado que você vai para a Colômbia e a primeira pergunta que você poderá ouvir é: “mas é seguro?” Não adianta: anos se passam e melhorias urbanas são feitas, mas para muitos desassociar o país da violência ainda parece uma tarefa hercúlea.
Nada poderia ser mais infiel ao que nossos hermanos do norte realmente têm a oferecer: pessoas gentis, mesa farta, sorrisos largos, salsa, reggaeton e um leve caos combinado a uma cacofonia que deixa tudo mais divertido. Ah, e o Caribe, azulão como só ele!
Dançando entre a modernidade e a tradição, entre os céus claros e os ventos frios, entre a alegria latina e a resiliência de um povo com muita história para contar, a Colômbia tem tudo para arrebatar até o mais cético – e amedrontado – dos corações.
Passei vinte e dois dias conhecendo os principais destinos colombianos e trago um roteiro completo para te inspirar a descobrir o melhor do país, das cidades grandes às praias caribenhas. Confira:
Dias 1 a 4 – Medellín e Guatapé
Inovadora, animada e agradável, Medellín é o símbolo de uma Colômbia que deu a volta por cima. Nas últimas décadas, investimentos em mobilidade urbana, cultura e educação deixaram para trás o passado de violência, modernizaram a cidade e a colocaram de volta no mapa do turismo. Cheguei à Medellín pela Copa Airlines, após quase 10 horas de viagem no total, incluindo uma conexão de 1h30 no Panamá.
Gringos se encontram em El Poblado, bairro arborizado, cosmopolita e charmoso que ferve de hostels, restaurantes e vida noturna. Os melhores bares e baladas estão concentrados no Parque Lleras, uma sequência de dois ou três quarteirões cheios de luzinhas penduradas, movimentado a semana toda, mas especialmente na sexta-feira e no sábado. Experimente terminar a tarde com um café da Pergamino e, depois, bailar salsa e regaetton até altas horas no Vintrash ou no LaZotea Rooftop Bar.
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Quem procura comodidade pode preferir se hospedar em Laureles, menos turístico e com uma estação de metrô logo ali. Medellín, aliás, é a única cidade da Colômbia com trens subterrâneos. O bairro não deixa de ter sua dose de agito, especialmente ao redor da Carrera 70. Fique por lá se quiser ter acesso fácil a mercados, farmácias, padarias e bons bares, mas peça por um quarto com janela virada para os fundos, pois o barulho impera de madrugada.
Cidade natal de Fernando Botero, Medellín tem 23 de suas esculturas rechonchudas expostas na Plaza Botero e todo um andar dedicado a ele no vizinho Museo de Antioquia. Desça na estação Parque Berrio e tome seu primeiro shot de cultura bem ali: a praça homônima lota aos sábados à tarde com gente de todas as cores e idades ouvindo música, fazendo compras e jogando uma pelada.
Além dos curiosos Boteros (destacam-se a Maria Antonieta rechonchuda e a tela Pablo Escobar Muerto), o museu guarda belíssimos murais de Pedro Nel Gómez e uma incrível exposição permanente sobre como os dogmas da fé cristã perpetuam práticas sociais e políticas. Sem falar das fantásticas La Cámara del Amor, de Luís Caballero, e El Pueblo y El Guayacán, de Ethel Gilmour, minhas favoritas. Ao sair, alimente o corpo com uma bandeja paisa, o prato mais icônico da Antioquia, servido com arroz, feijão, abacate, patacones (banana-da-terra amassada e frita), ovo frito e três tipos de carne.
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Comece a manhã seguinte conhecendo a história e a animação da Comuna 13, bairro famoso pelas escadas rolantes usadas pelos moradores para acessar as partes mais altas. É possível conhecer por conta, mas preferi – e recomendo – reservar o passeio com a Zippy Tour. Guiado por moradores da própria comunidade, o tour passa pelos grafites, resgata os projetos de governo que revitalizaram o espaço e desmistifica sua relação com Pablo Escobar (spoiler: um não tem nada a ver com o outro). Dependendo do seu guia, tem até aula de dança no final! Não deixe ainda de comprar helados de mango biche (manga verde) ou maracumango (maracujá com manga), feitos pelos locais com fruta de verdade e perfeitos para aplacar o calor.
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À tarde, migre para o Parque Arví, um enorme complexo verde com borboletário, trilhas, tours de bicicleta e feirinha de artesanato. O mais legal, porém, é o trajeto: para chegar lá é preciso pegar o Metrocable, um sistema eficiente de teleféricos que ligam o centro aos bairros mais distantes. Apesar da chuva, ver Medellín inteira do alto pelas paredes transparentes do bondinho, acessível desde a baldeação com a estação de metrô Acevedo, já fez o passeio valer à pena.
Dedique um dia para descobrir a perfeitamente instagramável Guatapé e também El Peñol, a pedra no meio do caminho. Pegue o ônibus bem cedinho no Terminal del Norte, integrado à estação Caribe do metrô, e peça para ir a la piedra – a viagem dura cerca de duas horas. Trata-se de um penhasco de 200 metros de altura, que pode ser escalado através de 708 degraus. É bacana subir até o topo pela experiência, mas a vista das colinas e lagos ao redor é ainda mais incrível entre os degraus 400 e 500, onde não há tantas grades de proteção e nuvens bloqueando a paisagem.
Faça um lanchinho rápido antes de descer. Podem ser mangas verdes com sal e limão ou as dulcíssimas obleas, espécie de wafers recheadas de doce de leite, geleia de amora e leite condensado. Lá embaixo, um tuk tuk leva até a coloridinha e alegre Guatapé em coisa de dez minutos. A cidadezinha é conhecida pelos zócalos, pinturas vibrantes nas fachadas das casas que registram flores, animais e cenas do cotidiano. Além disso, dá pra andar de barco e jet ski na represa, fazer tirolesa ou simplesmente caminhar sem pressa pelas fontes e igrejinhas do centrinho.
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De volta à Medellín, visite a Plaza Minorista, um mercadão onde é possível provar iguarias como o suco de lulo, que lembra um tomate amarelo, e a água de panela, um refresco popular à base de rapadura e limão. O lugar também rende boas conversas com os paisas. Logo na primeira tenda da área de restaurantes, fiquei horas batendo papo com duas venezuelanas-meio-colombianas que gostavam de Larissa Manoela e Anitta e me serviram um café da manhã bem gostoso de arepas com queijo e ovos mexidos.
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Termine sua estadia no Parque Explora, um museu de ciências que vai divertir igualmente crianças e adultos. Tem planetário, aquário, dinossauros, uma espécie de parquinho onde você pode testar experiências de física e salas interativas que se debruçam sobre o fazer musical, a mente, a passagem do tempo e o teatro – tudo muito bem explicado por uma equipe solícita de estudantes e pesquisadores.
Dias 5 a 8 – San Andrés
De Medellín, peguei um voo de 1h40 da Viva Air para chegar em San Andrés. O primeiro e mais especial encontro com o Caribe colombiano acontece nesta ilha que, curiosamente, está mais próxima da Nicarágua do que da Colômbia. Depois de uma chuvosa Medellín, nada pode ser mais convidativo do que apreciar os sete tons daquele marzão. De preferência, empunhando qualquer drink à base de coco.
Mas nem tudo são mordomias: San Andrés peca em estrutura. A hotelaria deixa a desejar mesmo nos melhores hostels (como o El Viajero) e resorts (como os all-inclusive da rede Decameron). Os pontos turísticos estão quase sempre lotados. E a locomoção fora do centrinho é um desafio: os ônibus são velhos, apertados, andam com as portas abertas e circulam pela ilha sem paradas fixas. É preciso gritar “voy a bajar” para o motorista, que para na hora e onde quer que seja para você descer.
A alternativa é alugar uma mulita, espécie de carrinho de golfe motorizado oferecido por várias agências enfileiradas nos arredores da Avenida Colômbia. Como eles se esgotam rapidamente, é preciso chegar cedo e não há muita margem para pechincha. Consegui um veículo velhinho no Freedom Bar & Shop por 200 mil pesos colombianos (cerca de R$ 220), trinta mil a menos do que nas outras lojas.
Com a sua mulita, percorra a ilha no sentido anti-horário parando para nadar onde der vontade. Algumas boas surpresas nem aparecem no mapa. É o caso de um cantinho escondido e sem nome logo após o letreiro “I LOVE SAI”, identificável por uma escada e um par de tendas coloridas, onde não é preciso pagar para nadar. Outras são mais conhecidas, como West View, com tobogã, trampolins e grandes cardumes de peixinhos coloridos – cobram para entrar (paguei 7.000 pesos mais 2.500 por um armário; cerca de R$ 10). La Piscinita é muito procurada para mergulhos com cilindro e, já na outra margem da ilha, vale curtir a despretensiosa e sossegada Playa San Luís. Peça um coco loco, bomba alcoólica que mistura rum, vodka, leite condensado e água de coco, e fique até enjoar.
Guarde um dia para uma escapada à Johnny Cay e Acuário, ilhotas vizinhas cercadas por um mar azulíssimo. As agências oferecem os passeios combinados ou separados. Se optar por fazer tudo junto, você corre o risco de pegar o segundo destino muito lotado depois do almoço. Fiz o pacote completo com a Diajuan 2 e consegui aproveitar uma Johnny Cay mais tranquila pela manhã, mas acabei passando a tarde em Acuario ouvindo música alta e esbarrando em muita gente na hora de fazer snorkel. O encanto não se perdeu, mas teria sido melhor, fica aqui a dica, gastar 15 mil pesos colombianos a mais para conhecer as ilhas em duas manhãs distintas.
Antes de ir, invista em uma sapatilha aquática, essencial para caminhar pelas pedras e pedaços de coral, em um snorkel ou máscara de mergulho e em uma capa de celular à prova d’água para tirar fotos no mar.
À noite, faça um agrado a si mesmo jantando no La Regatta, o restaurante mais famoso da ilha. O hype é justificável: o ambiente é relaxado e charmoso, especialmente nas mesas do lado de fora, e a comida caribenha é um espetáculo. Comi o melhor ceviche da minha vida, de camarões, lulas e lagostins em um molho de tomate apimentado, e tomei a limonada de coco mais gostosa da ilha.
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Reserve o terceiro dia para ver o Caribe em toda sua glória lá do alto, em um passeio de parasail. Como a atividade é muito concorrida, o ideal é reservar assim que chegar à ilha (leve essa dica a sério caso você queira muito ou poderá ficar a ver navios). Se a coragem e o bolso permitirem, faça também um mergulho de cilindro. Eu fui com a Entre Mares Providencia, que me buscou no hostel e incluiu fotos e vídeos no pacote. São cerca de 40 minutos embaixo da água quentinha, entrando em cavernas e observando de perto a vida marinha diversa e colorida. O instrutor acompanha tudo, mas se você nada bem e já mergulhou antes, pode ser que ele te deixe livre para explorar, o que torna a experiência ainda mais divertida.
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Passe o fim da tarde em Spratt Bight, a praia central, curtindo o calçadão e o fervo que começa a migrar da areia para os bares e sorveterias. Só tem um problema: quando o sol se põe, é proibido ficar só de biquini na praia. Estava com um grupo de amigas brasileiras e um policial pediu que colocássemos roupas.
No último dia, alugue uma bike na Itz Coral Tours e volte ao seu lugar preferido da ilha para se despedir, pelo menos por enquanto, do Caribe. Vale também pegar um ônibus até Rocky Cay e curtir uma tarde de paz no Aqua Beach Club. O mar é um tanto escuro e cheio de algas, mas o bar não cobra pelo uso das tendas e espreguiçadeiras se você consumir alguma coisa. Antes de partir de vez, não deixe de matar a fome com um chorriperro, cachorro-quente feito com linguiça, alface e um molho de queijo fundido preparado em carrinhos de rua que se espalham por todo o centrinho.
Ah, um lembrete: antes de embarcar para a ilha é preciso pagar uma taxa de turismo no aeroporto de origem – no meu caso foram 124.000 pesos, ou R$ 135; guarde bem o comprovante porque você terá que apresentá-lo na partida ou terá que pagar a taxa novamente.
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Dias 9 a 12 – Cartagena das Índias
Saindo de San Andrés, 1h30 de vôo pela Viva Air me levaram de volta ao continente, dessa vez para conhecer o charme colonial de Cartagena das Índias, que foi sede do Império Espanhol nas Américas. Esse passado está melhor preservado no lado de dentro dos treze quilômetros de muralhas que foram construídas para proteger a cidade de ataques piratas a partir do século XVI e guardam boa parte dos atrativos turísticos. Essa porção pode ser explorada à pé e sem pressa em um ou dois dias. Mas também há o que ver do lado de fora, de ruínas a bairros fofos e vida noturna animada, a poucos minutos do centro.
A principal porta de entrada do centro histórico é a imponente Torre del Reloj. De lá, deixe-se levar pelas ruelas com casarões coloniais de fachadas coloridas e varandas floridas. Caminhe pelo Santuário e Igreja de San Pedro Claver, homenagem ao sacerdote que dedicou a vida à defesa de escravizados africanos e foi declarado santo. Na Praça de Santo Domingo, pare para ver a escultura La Gorda Gertrudis de Fernando Botero – reza a lenda que esfregar o seio da estátua é garantia de sorte no amor – e para tomar um dos famosos e premiados cafés do Café San Alberto.
Passe também pela casa que foi de Gabriel García Márquez e pelo antigo Convento de Santa Clara, convertido no hotel de luxo Sofitel Santa Clara, cujo lindo pátio, com cadeiras de vime e muito verde, é aberto para visitação.
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Migre para a região de San Diego para um almoço bem caribenho na La Cevicheria, que prepara um ceviche de pescado ao coco e limão e um suco de corozo, frutinha típica que lembra a jabuticaba. Logo ao lado, a Plaza de Las Bóvedas, antigo abrigo militar que hoje tem várias lojinhas de artesanatos e souvenirs, também vale a visita, ainda que seja mais barato fazer compras fora das muralhas. De lá, suba para o Baluarte de Santa Catalina, um trecho da muralha que é ótimo para fotos, apesar do vento inclemente.
Termine o dia no lugar que, muito provavelmente, será o pôr do sol mais bonito da sua viagem: no Café del Mar, encarapitado no Baluarte de Santo Domingo, do outro lado da muralha. As filas começam a se formar por volta das 15h30 e realmente é preciso chegar cedo para garantir uma mesa de frente para o mar, onde a vista é mais especial.
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Se sobrar disposição, aproveite a noite no boêmio Getsemaní, cheio de bares, artistas de rua e grafites. Esse é, aliás, um bom bairro para se hospedar: fica próximo do centro histórico, mas tem preços mais amigáveis. Escolhi o Casa Del Pozo, um hostel-boutique gracinha e pouco movimentado com piscina, bar e um gostoso café da manhã incluído na diária. Se estiver por lá, jante no Tavo’s, na porta ao lado, que tem ótimos drinks, bons sanduíches e valores justos. Ou coma uma arepa recheada no carrinho da Colombitalia Arepas, a duas quadras de distância.
Dedique a manhã seguinte a conhecer a história de Cartagena no Palácio de La Inquisición, cujas alas abordam a colonização, a luta pela independência, as raízes indígenas e africanas e biografias de grandes personalidades. Uma das exposições mais impactantes relembra a relação da cidade com a Inquisição Espanhola: Cartagena foi um dos Tribunais da Inquisição da América Latina e, em duzentos anos, processou, torturou e matou mais de 800 réus por ditos crimes como feitiçaria, leitura de livros proibidos e associação ao luteranismo e judaísmo.
Na saída das muralhas, pare no Portal de Los Dulces para comprar bolotas de tamarindo e cocadas de arequipe (como os colombianos chamam o doce de leite), entre outras delícias, antes de seguir para o Castillo de San Felipe de Barajas, a cerca de 15 minutos a pé.
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O caminho passa por uma avenida movimentada e ali fica óbvio e incômodo um dos pontos negativos de Cartagena: o constante assédio dos homens nas ruas, que não hesitam em buzinar e fazer comentários inapropriados. Especialmente se você for uma mulher viajando sozinha, mas não só – nem as que estão acompanhadas por homens são poupadas, pelo que pude constatar. O curioso é que, ao me aproximar para pedir informação para algum, era atendida com gentileza e nenhum assédio.
Mas basta chegar ao topo do castillo, uma fortaleza militar construída para defender a cidade, que essas preocupações tendem a sumir da cabeça. É possível fazer uma visita guiada ou conhecer o monumento por conta própria, passando pelas ruínas, túneis e torres, parando para sentar nos parapeitos e contemplar a vista.
Vá à tarde e fique para um último pôr do sol na cidade. Lá de cima, quando a maresia bate no rosto e a luz alaranjada reflete nos prédios modernos do rico bairro de Bocagrande, é que começamos a ter uma visão fiel do que é Cartagena: um local dividido entre o passado e o presente, onde história, requinte e alto-astral se encontram para tirar o fôlego de qualquer viajante.
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Ainda que fique à beira do mar do Caribe, Cartagena não é um destino de praia. A paisagem por ali não corresponde ao nosso imaginário caribenho: o mar é escuro, agitado e arrebenta em praias pedregosas. Existem, porém, boas escapadas que levam aos azuis-turquesas correspondentes às nossas expectativas.
A mais clássica é a Isla Baru, parte das Islas del Rosario e casa da famosa Playa Blanca. Sim, as areias são branquinhas e o mar é cristalino. Mas a quantidade obscena de pessoas e agências oferecendo tours nas ruas de Cartagena deixam claro que ela também é tumultuada e farofenta. Se você tem pouco tempo ou não pretende conhecer outras partes do Caribe, este não deixa de ser um passeio justo, mas que eu, sinceramente, não iria.
Mas, para uma experiência mais autêntica, passe uma ou duas noites na Casa En El Agua, um hostel flutuante no Arquipélago de San Bernardo, a cerca de duas horas de barco de Cartagena. A viagem é longa, mas feita em barcos confortáveis com cobertura para proteger os passageiros do sol e que quase não dão trancos sobre as ondas. Dá até para tirar um cochilo ou ler um livro.
Chegando lá, encontrei uma casinha de madeira fincada sobre palafitas em um trecho de mar cercado de barreiras de corais, raso, calmo, transparente e, portanto, excelente para nadar e boiar como se não houvesse amanhã. Dá para passar a manhã relaxando em uma espreguiçadeira e curtir a noite dançando reggaeton e conversando em espanhol e inglês com gente de todos os cantos. Tudo vai depender do perfil da turma que estiver por lá na mesma época que você.
Apenas trinta pessoas se hospedam ali por vez e dormem em redes, quartos coletivos ou individuais. Dei sorte de entrar em contato com dois dias de antecedência e conseguir a última cama disponível, mas o ideal é reservar sua estadia com pelo menos dois meses de antecedência.
A diária inclui todas as refeições, bebidas não alcóolicas e um tour rápido a Santa Cruz del Islote, o local mais densamente povoado do mundo, com 1.200 pessoas vivendo em uma área de um hectare. O transporte até o hostel, porém, deve ser reservado à parte com a empresa Tranq It Easy, por 130 mil pesos colombianos (cerca de R$ 145) o trecho. Também é preciso desembolsar mais 20 mil pesos colombianos de taxa de entrada no parque nacional ao qual pertence o arquipélago.
Aqui, vale fazer dois avisos. O primeiro é que é preciso levar dinheiro em espécie. O segundo é que, por uma questão de preservação ambiental, fazer os incontornáveis número 1, número 2 e tudo o mais que a natureza exigir de você deve ser feito em latrinas. E mais: banho só uma vez por dia – e de caneca. Há um pequeno lavabo com água corrente apenas para escovar os dentes e lavar as mãos.
A Casa En El Agua é afastada de tudo, exceto por um par de ilhotas e hospedagens com proposta semelhante, como é o caso do hostel Casa Acuarimantima. Já a Isla Gaviota é indicada para quem quer e pode pagar por algo mais exclusivo: há suítes com banheiros privativos e o espaço também pode ser reservado por completo por um grupo de até 25 pessoas.
Dias 13 a 15 – Minca
De carro, sem pausas, são pouco mais de quatro horas entre Cartagena e Santa Marta, dona de praias menos badaladas, de um centrinho colonial colorido e testemunha da história milenar do povo tayrona, que deu origem a grupos indígenas que habitam a costa caribenha até hoje. O percurso é tranquilo, com algumas ressalvas. Vi pessoas viajando de pé em caçambas de caminhões e um trio de homens mascarados que invadiu a pista e caminhou bem rente aos carros (não parei para perguntar o motivo, é claro).
O trajeto pode ser feito de ônibus comercial, shuttle ou carro alugado. Preferi a última opção, o que me permitiu fazer uma parada em Barranquilla, a terra natal de Shakira. O desvio não rende muito mais do que um almoço. O centro histórico é lotado, cacofônico e, para quem é paulistano, lembra uma mistura de Praça da Sé com 25 de Março: igrejinhas e casarões antigos dividem espaço com vendedores ambulantes e trânsito caótico. Já a escultura em homenagem à Shakira, um dos principais atrativos da cidade, lembra tudo, menos a cantora.
Uma vez em Santa Marta, procure o Mercado Público, de onde saem as vans para Minca, uma pequena vila de vibe roots, com estradas de terra batida, cachoeiras geladérrimas e enormes redes coletivas montadas ao ar livre que merece muito entrar no radar do viajante brasileiro. É possível fazer bate-volta – a última van da CooTransMinca, que faz o trajeto de ida e volta parte às 17h -, mas considere ficar ao menos uma noite para ter uma experiência mais completa.
Não é preciso reservar um lugar com antecedência. Basta chegar no escritório da cooperativa, pagar pela passagem (oito mil pesos colombianos; cerca de R$ 9) e esperar o próximo transporte, que sai mais ou menos a cada 30 minutos. Como as vans não costumam ter bagageiro, as malas maiores precisam ir amarradas no teto do carro. Se possível, deixe suas cosias no hotel em Santa Marta e leve apenas o estritamente necessário.
A van te deixa na entrada de Minca, de onde é fácil andar até a maioria das hospedagens ou encontrar um mototáxi que leve ao seu destino. Essas são, aliás, as únicas maneiras de se deslocar por lá. Fiquei no delicioso Costeño River, um convidativo hostel com vista para o Rio Minca que mima os hóspedes com redes, noites de música ao vivo, aulas de salsa e bachata e café da manhã incluído na estadia.
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Pare na padaria La Miga para um café e um pão de chocolate e, depois, siga para o Pozo Azul para seu primeiro banho nas águas congelantes de Minca. O primeiro poço, bem na entrada, costuma lotar e é cercado de árvores bem altas, que fazem sombra e deixam a água ainda mais fria. Suba por uma trilha entre as pedras até as quedas d’água seguintes, mais vazias e ensolaradas, onde é mais gostoso passar o dia.
Na manhã seguinte, busque as lindas vistas da cidade na Finca La Candelaria, fazenda familiar com tours pelas plantações de cacau e café guiados por Eugenio, o dono, que recebe os visitantes com carinho. A experiência do cacau inclui ainda uma espiada no processo de seca, queima e fermentação dos grãos e elaboração do chocolate, com direito à degustação em todas as etapas, canecas de chocolate quente e máscaras faciais.
De lá, suba em um mototáxi (combine com antecedência para o motorista te buscar quando acabar o tour) e vá para as Cascadas Marinka, um complexo com duas cachoeiras, um restaurante e suas famosas redes gigantes, perfeitas para esquentar o corpo sob o sol depois de entrar na água. Volte para o centrinho a pé e pare no Oído de Díos, um córrego escondidinho que é sagrado para os indígenas que habitam a região.
Outra atração de Minca é a Casa Elemento, hostel que tem vistas maravilhosas da Sierra Nevada e, supostamente, a maior rede do mundo. Se tiver tempo, fique mais uma noite em Minca e conheça o lugar no dia seguinte. Caso contrário, você pode ir para lá depois de conhecer as Cascadas Marinka e o Oído de Díos, mas isso significa perder a última van que leva de volta para Santa Marta, às 17h.
Nesse caso, saiba que é possível ir de Minca a Santa Marta de mototáxi, com emoção. E foi o que eu fiz. A estrada cheia de curvas dá um leve frio na barriga, mas os condutores geralmente estão acostumados a fazer o trajeto. E também são muito gentis. O motorista que me levou de volta para Santa Marta não pôde me deixar na porta do hotel onde eu passaria a noite, mas esperou comigo na entrada da cidade pelo ônibus que me levaria até lá. Se voltasse hoje, passaria pelo menos uma noite em Minca.
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Dias 16 a 18 – Parque Nacional Tayrona
Aos pés da Sierra Nevada, paisagens singulares esperam os espíritos desapegados no Parque Nacional Tayrona. São 15 mil hectares de florestas, mangues, vestígios arqueológicos e um mar caribenho azul-turquesa, ora calmo e ora revolto, que formam um conjunto bem conservado e absolutamente mágico.
De Santa Marta, basta ir mais uma vez ao Mercado Público para pegar um ônibus da CooTrans Oriente que faz em 45 minutos o trajeto até El Zaino, principal entrada do parque. O busão é apertado e enche de pessoas, que vão se instalando até nas escadas, mas chegando cedo e com um pouco de sorte, dá para ir sentado o caminho tudo. As passagens são cobradas depois que o ônibus sai e é impossível perder o ponto do Tayrona: motorista e cobrador fazem um aviso geral.
Como o parque fecha às 17h, dá para fazer um bate-volta a partir de Santa Marta, mas a experiência será corrida e limitada. Prefira dormir uma ou duas noites lá dentro. Na saída do ônibus, vários vendedores irão te abordar com as opções de hospedagem, que se resumem a campings que alugam redes individuais e barracas com colchonetes para casais. Eles também possuem banheiros compartilhados, chuveiros ao ar livre, restaurantes e lockers para guardar os pertences (leve o seu próprio cadeado). Reserve e pague ali mesmo, para não correr o risco de ficar sem vaga depois.
O acampamento mais arrumadinho fica grudado na praia de Cabo San Juan del Guía, a sete quilômetros de trilha da entrada do parque. O Camping Don Pedro fica mais próximo, mas também é mais rústico. O maior perrengue é tomar banho: as divisórias entre os chuveiros não são inteiriças e não há ralos individuais, o que faz com que poças de água e sujeira alheia se acumulem no chão. Os menos aventureiros e mais endinheirados podem optar pelo Ecohabs Tayrona Park, hotel com cabanas lindinhas instaladas no meio da montanha, jacuzzi e serviço de spa.
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Da entrada do parque, é preciso pegar uma van até Cañaveral, de onde parte a trilha que leva aos campings e praias. Depois, o esquema é se embrenhar na mata e passar os dias brindando os olhos com a vida selvagem e faixas de areia que vão aparecendo pelo caminho. A primeira metade do percurso é bem sinalizada e tem passarelas de madeira que facilitam a vida dos andarilhos, mas elas somem na segunda parte e são substituídas por pedras e estrada de terra batida.
As primeiras praias, como Arrecifes, são do tipo só-pra-ver porque o mar é muito bravo e nadar é proibido. Um pouco mais adiante, o mergulho é liberado na calminha Arenillas, na bela La Piscina e em Cabo San Juan, a mais badalada. Não tem muito segredo: é estender a canga, esticar as pernas e descansar a alma. Tem sempre um par de barracas vendendo sucos e comidinhas, mas vale a pena levar frutas e algum lanche na bolsa. Só não se esqueça que o lixo tem que ser descartado corretamente nos campings ou sair do parque com você.
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Uma segunda trilha desde Cabo San Juan leva à Playa Nudista, onde às vezes três ou quatro corajosos se permitem curtir a brisa como vieram ao mundo. Na minha visita, um salva-vidas contrariou a regra não-dita das praias de nudismo e se aproximou para supostamente reforçar que, naquele pedaço, nadar estava proibido.
Na volta, troque a trilha pelo barco que sai de Cabo San Juan no fim da tarde e deixa os passageiros em Taganga, pequena vila de pescadores a 15 minutos de ônibus de Santa Marta. Fique na praia até o último segundo e nem se preocupe em tirar a roupa de banho: o mar é violento, os barqueiros não são exatamente cuidadosos e, entre dezenas de solavancos durante o trajeto, você certamente chegará ensopado.
Dias 19 a 22 – Bogotá
Todo Caribe que é bom, um dia chega ao fim. De Santa Marta, parti para o último trecho da viagem, a vibrante Bogotá, onde eu cheguei em um voo da Avianca que durou 1h30. Na capital colombiana as sequências de praias dão lugar a altitudes elevadas, vento gelado e uma paisagem permanentemente chuvosa, que, apesar de tudo, não deixa de ser agradável. Sem um sol tão forte na cabeça, fica mais fácil se dedicar aos prazeres da boa mesa e aos interessantes museus que ajudam a completar os trunfos da capital.
Primeira parada indispensável é La Candelaria, o centro histórico, onde dezenas de pombos ocupam as ruas e palacetes coloniais fazem as vezes de prédios governamentais. Na Plaza Bolívar, ergue-se a imponente Catedral Primada, edifício neoclássico com colunas adornadas em ouro e capelas que abrigam ricas pinturas da Sagrada Família e túmulos de personalidades como o fundador da cidade, Jimenéz de Quesada. Alguns metros adiante, o Museo Botero, de entrada gratuita, entrega mais das formas rechonchudas pelas quais o artista é conhecido, inclusive a Monalisa, provavelmente sua obra mais famosa.
Vale espiar também o Centro Cultural Gabriel García Márquez, que apesar do nome, não tem nada a ver com o Nobel de Literatura. A arquitetura moderna, cheia de iluminação natural, chama a atenção de cara, mas o espaço guarda ainda uma boa livraria, uma cafeteria Juan Valdéz e exposições temporárias. Logo ali, um primeiro deleite gastronômico: os sorvetes da Selva Nevada. O de canela flor de jamaica e o de arequipe são espetáculos à parte.
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A visita segue no Museo del Oro, o maior e mais importante do gênero na América Latina. São quatro salas de exposição permanentes que têm uma coleção impressionante de jóias, cerâmicas e objetos feitos do metal pelas civilizações pré-hispânicas. Interessante notar as diferentes técnicas na produção das peças e a importância do ouro para o poder político e a cosmologia dessas comunidades.
Na porta, vendedoras oferecem um tira-gosto peculiar: formigas. Se não for sua praia, pegue um Uber ou ônibus até a Plaza de Mercado La Perseverancia, que ganhou maior reconhecimento depois de aparecer no programa Street Food: Latin America, da Netflix. Prove o ajiaco santafereño, uma sopa de batata com frango, milho, arroz, abacate e creme de leite. O do Tolú já foi eleito o melhor de Bogotá. Quando a noite começar a cair, dê um passeio no Parque de La Independencia ou mude para La Macarena, bairro descolado com bares e restaurantes bacaninhas.
O segundo dia pode começar com uma esticadinha até o Parque de La Sal de Zipaquirá, onde está uma fantástica catedral subterrânea esculpida dentro de uma antiga mina de sal, prova que um dia houve mar por essas bandas. Antes da igreja propriamente dita, há 14 câmaras que representam as estações da Via Crucis e uma cúpula onde o nível inferior, rugoso, representa o mundo terreno e a abóbada, polida, representa o divino – tudo explicado em português através dos audioguias que estão incluídos no ingresso.
Dá para chegar de ônibus, que partem do Portal del Norte em vários horários e te deixam no centro de Zipaquirá em cerca de uma hora e meia, a depender do trânsito. De lá, é preciso caminhar ou pegar um Uber até a entrada do complexo.
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Amantes da literatura vão se encantar por Bogotá, que já foi eleita capital mundial do livro pela Unesco. Na esquina da Carrera 8 com a Calle 16, sebos e feiras do livro ao ar livre são uma perdição para quem busca um volume em espanhol para completar a coleção. Mais adiante, na Calle 11, a Biblioteca Luis Ángel Arango faz uma dobradinha como centro cultural e recebe concertos e exposições.
De lá, é fácil caminhar até a Plazoleta Chorro de Quevedo, cercada por ruelas de muros grafitados, luzinhas e um sem-fim de barzinhos onde é possível provar a chicha, uma bebida alcoólica de origem indígena à base de milho fermentado. Prefira as saborizadas, muito mais gostosas que as tradicionais – eu optei pela de maracujá. De noite, vale curtir os bons bares da Zona T – o El Mono Bandido tem excelentes belisquetes, como as tapitas de chorizo e as arepas de yuca com panceta.
No dia seguinte, comece a despedida com um brunch no sensacional Al Agua Patos e siga para o Cerro de Monserrate, a mais de três mil metros de altitude. O ar fica mais rarefeito a cada metro percorrido de teleférico ou funicular, então aproveite para experimentar um chá de folhas de coca no Café Bistrô antes de sentar nas escadarias para curtir a vista ou fazer alguns pedidos no poço dos desejos.
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Compre bolinhas de café com chocolate para levar de lembrança e, então, desça para terminar o dia com um jantar saboroso no Andrés D.C e uma boa festança na Theatron, com 14 ambientes onde tocam diferentes tipos de música. Você pode até ir embora da Colômbia, mas a vontade de voltar não vai sumir tão cedo.
COMO CHEGAR NA COLÔMBIA
Desde 11 de janeiro de 2023, a Avianca tem voos diretos de Guarulhos à Cartagena três vezes por semana. A low-cost Viva Air, que faz o trecho Guarulhos e Medellín, também opera voos internos entre Medellín, San Andrés e Cartagena. Latam e Avianca também fazem o trecho San Andrés e Medellín. Há voos diretos para Bogotá com a Avianca, a Gol e a Latam. Veja as melhores opções de voos para a Colômbia.
VACINA CONTRA FEBRE AMARELA
Brasileiros devem apresentar o certificado de vacinação contra a febre amarela. A vacina precisa ser tomada dez dias antes da viagem; saiba mais aqui.
COMO LEVAR DINHEIRO PARA A COLÔMBIA
A moeda local é o peso colombiano. Reais e dólares são bem aceitos em casas de câmbio, mas em aeroportos a cotação não vale a pena. Um bom jeito de sacar moeda local é nas lojas da Western Union, ainda que a Colômbia esteja longe de ter as vantagens cambiais da Argentina. O único porém é que é preciso sacar tudo de uma vez, então você acaba ficando com muito dinheiro em espécie na mão. A autora da reportagem fez três remessas distintas e ia sacando à medida que a viagem avançava. Um grande negócio no momento são os cartões de débito vinculados a contas internacionais como C6, Wise ou Nomad (o IOF é de 1,1% e o spread, em média, 2,5%, ou seja, taxas menores que as dos cartões de crédito emitidos no Brasil, que cobram acintosos 6,38% de IOF).
MELHOR ÉPOCA PARA VIAJAR PARA COLÔMBIA
As temperaturas não mudam muito, mas os meses de abril, maio, outubro e novembro são chuvosos. A estação seca vai de dezembro a março, sendo que fevereiro e março são os melhores meses porque o número de turistas diminui. Já San Andrés possui as suas especificidades: de janeiro a abril são meses com pouca chuva, enquanto entre setembro e novembro chove muito e há riscos de furacões.
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