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Na Colômbia, Santa Marta tem centro colonial e parque nacionais

Espremida entre o Mar do Caribe e a Sierra Nevada, a cidade tem centrinho colonial, comida boa, mar magnético, trekking...

Por Betina Neves
Atualizado em 4 nov 2020, 16h35 - Publicado em 26 Maio 2017, 14h59

Como outras localidades colombianas, Santa Marta, capital do estado de Magdalena, é resiliente e, nos últimos 20 anos, fez a violência e o narcotráfico darem lugar a um renascimento urbano, que trouxe hotéis, restaurantes, bares e casas noturnas.

Costeira, mais pé no chão que a quase vizinha Cartagena, a 220 quilômetros, a cidade de 450 mil habitantes também conta várias camadas da história do país.

Curiosidades: é o primeiro município fundado por lá, em 1525, deu ao mundo Carlos Valderrama, ex-craque da seleção local muito lembrado por seus atributos capilares, além de outro Carlos, o Vives, cantante que também é um ídolo latino.

Parece um quadro, mas são as cores locais (Ingrid Firmhofer/Look/Getty Images)

Tudo acontece no centro histórico, onde as ruas são estreitas e o casario é ora pintadinho e arrumado, ora levemente decrépito e zoneado. O point é o Parque de los Novios, uma praça com casais colombianos agarrados em bancos (como sugere o nome), jardins bem cuidados, um coreto e o Palácio de Justiça da cidade.

Em uma de suas laterais fica a Carrera 3, uma viela fechada para carros que é inundada por mesinhas de restaurantes e bares de noite. Gringos abonados traçam frutos do mar fresquíssimos no grego Ouzo, enquanto jovens pedem hambúrgueres gourmet na Radio Burguer, instalada numa antiga estação de frequência modulada.

O polvo flambado do Ouzo (Ouzo/Divulgação)

Mais adiante, o Lamart propõe várias receitas de ceviche, e a La Muzzeria serve pizzas numa ambientação descolada, com quadros de pop art e objetos de antiquário. Rolam ainda umas baladinhas como o Comodoro, com música eletrônica no segundo andar e uma refrescante limonada de yerbabuena (hortelã).

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Complemente o passeio com uma ida ao próximo Museo del Oro Tayrona, inaugurado ali no fim de 2014. Suas quatro salas exploram tanto peças de ouro produzidas por comunidades indígenas pré-hispânicas quanto a história social da região, passando pela presença de Simón Bolívar na cidade.

Uma das fotos de personagens da região, no acervo do Museu del Oro Tayrona (Juan Camilo Niño/Divulgação)

Convém saber mais sobre El Libertator, Bolívar, na Quinta de San Pedro Alejandrino, a 6 quilômetros do centro histórico. Foi nessa fazenda que o político e militar venezuelano morreu, em 1830; Bolívar pretendia pegar um barco e ir à Europa para se tratar da tuberculose, mas acabou se hospedando nessa propriedade de um poderoso fazendeiro local e se foi depois de 11 dias.

Escultura na Quinta de San Pedro Alejandrino, onde Bolívar morreu (Max Muller/Flickr)

Entre árvores centenárias frondosas e antigos galpões de moagem de cana, o lugar mostra parte dos móveis da época e abriga também o Museo Bolivariano de Arte Contemporáneo, que tem mostras permanentes e temporárias de artistas latinos.

O Museo Bolivariano de Arte Conremporáneo exibe artistas latinos (DTurismo_Colombia/Flickr)

Mas eis que Santa Marta guarda história bem mais antiga na Ciudade Perdida, ou Parque Arqueológico Teyuna – uma antiga cidade, do ano 1000, antes habitada pelo povo Tayrona, que deu origem a outros grupos indígenas que ainda vivem na Colômbia.

Isto é que é a história milenar: terraços para plantio na Ciudad Perdida (Matthew Butcher/Flickr)

O sítio arqueológico, onde figuram antigos terraços usados para plantio, muros e escadarias de pedra, só pode ser alcançado em um trekking de cinco dias, um dos mais procurados do continente, no qual você caminhada à sombra dos picos nevados de mais de 5 mil metros, nessa que é a maior cadeira montanhosa litorânea do mundo.

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E logo ali fica Tayrona… o Caribe virgem

O parque mais especial do país conserva o Caribe como ele veio ao mundo. Difícil conceber uma reunião tão irresistível de elementos naturais como a que há no Parque Nacional Tayrona: são 15 mil hectares de vegetação, entre mangue, restinga, bosque árido cheio de cactos e floresta tropical densa, que vão do nível do mar a montanhas de quase mil metros.

Uma série de baías forma praias com água turquesa, transparente em alguns pontos, escura e selvagem em outros. Incomum no Mar do Caribe, um Éden preservado onde impera a natureza.

Uma série de baías com praias assim… E há ainda florestas, mangues e restingas (Traveller1116/Getty Images)

Hospedado em Santa Marta ou dali a 5 quilômetros, na vila de Taganga, é possível conhecer o Tayrona em um bate e volta, com passeios de barco que vão direto às 29 praias ou táxis que levam por terra a uma das três entradas do parque.

Se for o seu caso, reserve um dia para ir à bela Playa Crystal (a partir da portaria Mamatoco), com águas clarinhas com recifes de corais e peixes coloridos. São muito comuns também as excursões diárias de birdwatching, nas quais ingleses e franceses com roupas de safári e lentes poderosas espreitam tucanos e os endêmicos quetzais entre a vegetação.

Playa Cristal Parque Tayrona, Santa Marta, Colômbia
A Playa Cristal (Hugo A. Quintero G./Flickr)

Mas só compreende melhor o lugar quem se permite passar uma noite no Tayrona. No núcleo da entrada El Zaino há hospedagens. Só um hotel propriamente dito, o Ecohabs Tayrona, e cabanas de madeira, barracas de camping e redários.

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Um esforço genuíno de conservação veta aos 300 mil visitantes anuais entrar com saco plástico, isopor, álcool e prancha de surfe. E vá se preparando para o possível baculejo na sua mala.

Tayrona (Colômbia)
Os Ecohabs, único hotel propriamente dito no Parque Nacional Tayrona (Ecohabs/Divulgação)

Num lapso de desapego, escolhi dormir numa rede no alto de um morrinho em Cabo San Juan del Guia, praia de água multitons com restaurantes que servem peixes recém-pescados e banheiros bem rústicos.

Passei dois dias me embrenhando por pequenas trilhas que margeiam a costa para encontrar mais faixas de areia, como a calminha La Piscina, a arredia Arrecifes e a nudista Boca del Saco, que, ao menos em minha visita, não atraiu vivalma pelada.

Um trekking maior vai ao sítio arqueológico de Pueblito, com ruínas de terraços de cultivo e canais do antigo povo Tayrona. De noite, o pessoal, que variava entre casais argentinos e mochileiros israelenses, compartilhava aquela distância momentânea de sinal de celular e carteava com uma cervejinha contrabandeada pelo próprio restaurante.

Quando o breu da noite vinha, só com lanterna para voltar às “acomodações”. Dormi embrulhada numa toalha para me proteger do vento e acordei com o espetacular sol a nascer sobre aquele Caribe virgem.

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Texto publicado na edição 257 da revista Viagem e Turismo (março/2017)

 

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