Por dentro dos museus da Mercedes e da Porsche em Stuttgart
Berço do automóvel, a cidade atrai aficionados em motores, mas também agrada quem vê o carro apenas como meio de transporte
Eu sou daqueles para quem o carro é o meio pelo qual me desloco do ponto A em direção ao ponto B. E olhe lá. Não leio revista especializada, nunca frequentei shopping de autopeças e não alimento o desejo de saber das vantagens do câmbio automático frente ao manual. Ou seja, meu interesse por veículos se limita puramente às questões da mobilidade urbana. Portanto, foi a curiosidade jornalística que me conduziu aos museus da Mercedes-Benz e da Porsche, em Stuttgart, cidade da Alemanha reconhecida como o berço do automóvel. E, já antecipo aqui, voltei encantado.
Museu da Mercedes-Benz
No fim do século 19, em locais diferentes do território alemão, os engenheiros Carl Benz e Götlib Daimler buscavam criar o primeiro veículo movido por motor de combustão interna. Benz patenteou primeiro a invenção, em 1886. O ano é o ponto de partida do tour pelo Museu Mercedes-Benz, localizado em um edifício futurista do distrito de Bad Cannstatt, a meia hora de trem a partir da estação central de Stuttgart. Por um princípio deixado claro nas linhas acima, optei pelo transporte público. Tomei a linha S1 em direção a Kirchheim e desci na parada Neckarpark (Mercedes-Benz). Placas de sinalização me indicaram a direção do museu durante os 15 minutos de caminhada.
Composto por 160 veículos e cerca de 1.500 objetos, seu acervo está espalhado por nove andares conectados por rampas. Além do caráter acessível, o design delas foi inspirado na espiral do DNA humano, forma encontrada pelos arquitetos para simbolizar o espírito inovador da marca alemã identificada pela estrela de três pontas.
O storytelling se sustenta pelas salas de exposição, compostas por icônicos carros de passeio e veículos utilitários. Painéis informativos relacionam fatos do mundo com momentos da trajetória da fabricante de automóveis. Entre uma passada de olhos por um modelo luxuoso e um caminhão de bombeiro, descobri que a Mercedes-Benz criou itens de segurança como o airbag e o freio ABS. Como também aprendi que seus primeiros veículos carregavam mais água para refrigerar o motor do que combustível para fazê-lo funcionar. Aula de história bem-vinda.
No fim do percurso, as rampas me conduziram à seção Flechas de Prata, como foram batizados no passado os carros da Mercedes-Benz, imbatíveis em diversas competições de automobilismo. Entre elas, a Fórmula 1. Há veículos míticos, como os que deram dois títulos mundiais ao argentino Juan Manuel Fangio e, claro, os modelos conduzidos pelo heptacampeão Lewis Hamilton.
Aberto de terça a domingo, das 9h às 18h, o Museu Mercedes-Benz (€ 10 euros) é solene e classudo como quase todos os reluzentes carros da marca. Mas não é elitista. Mesmo quem não é fascinado por automóveis termina a visita menos leigo do que quando entrou. Para quem faz questão de audioguia, ele é gratuito e está disponível em oito idiomas (não há em português).
Museu da Porsche
O horário de funcionamento e o valor do ingresso são os mesmos do museu da Mercedez. E com vantagens: o trem S6 com destino a Weil der Stadt para na estação Neuwirtshaus (Porscheplatz) apenas 15 minutos depois de partir da estação central de Stuttgart (Hauptbahnhof). A porta da composição abriu e eu praticamente caí dentro do museu.
O arrojo estético dos carros da montadora se reflete na arquitetura do prédio, que parece flutuar à primeira vista. O branco predomina no chão e nas paredes internas. Dos quase cem modelos em exposição, os mais coloridos distraíram facilmente este visitante. Aleatório, meu tour foi pessoal e indisciplinado. Desviei de quem parou carro por carro, placa por placa com detalhes técnicos do modelo da vez. E fui ultrapassado em muitas ocasiões por lentes apressadas de quem parece saber tudo sobre aqueles veículos e só precisa de uma foto de motor. Foto, não selfie. E você leu certo. Mo-tor.
Gente aficionada assim precisa voltar de tempos em tempos, afinal o museu tem por política trocar ou recombinar carros e objetos expostos. E também por conta das exposições temporárias. Eu vi uma mostra sobre as 24 Horas de Le Mans, tradicional prova automobilística de resistência disputada na França desde 1923 e da qual a Porsche é recordista, com 19 vitórias.
Hotel V8
Em Le Mans, dormir é para os fracos. Já em Böblingen, pertinho de Stuttgart, a corrida francesa embala os sonhos de quem se hospeda em um dos quartos temáticos do Hotel V8. Na suíte Le Mans (diária desde € 174,80), a mesa de cabeceira é composta por pneus empilhados e uma poltrona foi projetada em formato de capacete.
A coisa faz sucesso, afinal são dois hotéis da marca (o mais antigo chama-se V8 Classic) dentro do Meilenwerk Region Stuttgart, antigo aeroporto do estado de Württenberg convertido em complexo multiuso. Quer dizer, há espaço de sobra, ocupado por eventos, restaurantes, exposições, vitrines onde estão guardados carros de colecionadores, entre outras atividades relacionadas aos automóveis.
E haja fetiche para alimentar a sanha automobilística. Existem acomodações que lembram uma oficina, um posto de gasolina e até um lava-rápido. Camas e outros móveis foram criados a partir de grandes pedaços da lataria de veículos. Com capacidade para até quatro pessoas, a Suíte Mercedes (diária a partir de € 622,25) ocupa quatro andares da antiga torre de controle do aeroporto. Além do amplo dormitório, seus 120 metros quadrados incluem sala de estar, cozinha, banheiro com sauna seca e um terraço de onde se pode ver o horizonte. E carros, claro.
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