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Arco do Triunfo, em Paris, é embrulhado em intervenção artística

O casal de artistas Christo e Jeanne-Claude planejava a obra “L'Arc de Triomphe, Wrapped” desde 1962; conheça outras intervenções da dupla

Por Caroline Dalla Vecchia
Atualizado em 3 out 2021, 09h15 - Publicado em 15 set 2021, 16h43

Um antigo sonho do falecido artista plástico búlgaro Christo se tornou realidade: o Arco do Triunfo, famoso monumento de 50 metros de altura na Champs-Elysées, está inteiramente coberto com 25 mil metros quadrados de tecido de polipropileno reciclado e amarrado com mais 3 mil metros de corda vermelha. Batizada de “L’Arc de Triomphe, Wrapped, a intervenção artística póstuma começou a ser instalada em junho. A obra, porém, é efêmera e será desmontada a partir do dia 4 de outubro.

Como o Arco do Triunfo pode ser visto de vários ângulos, não está sendo cobrado nenhum tipo de ingresso para apreciar a instalação. No local da exposição, monitores estão recebendo os visitantes para explicar o projeto, responder perguntas e distribuir amostras do tecido. O que continua sendo pago é a subida ao mirante, aberto diariamente das 10h às 23h mesmo durante as semanas de exibição (lembrando que, no momento, a França exige a apresentação de um passe sanitário para entrar em atrações turísticas).

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Pede pra embrulhar

Christo planejava cobrir o cartão-postal de Paris desde 1962, quando fez a primeira foto-montagem de como ficaria a sua criação. Em 2019, ele voltou a trabalhar nos esboços, fazendo testes em tamanho real e escolhendo os tipos e cores dos tecidos e das cordas que seriam utilizados. A intervenção artística deveria ter se materializado em 2020, mas a pandemia forçou o adiamento dos planos. O artista faleceu de causas naturais em maio daquele mesmo ano e, por isso, quem está cabeceando o projeto agora é o seu sobrinho, Vladimir Yavachev.

Os custos para montagem do L’Arc de Triomphe, Wrapped estão estimados em Є 14 milhões, arrecadados exclusivamente através da venda de esboços e obras de Christo. Isso porque a intervenção artística não é tão simples quanto parece: foram necessários mais de mil trabalhadores e dois meses para proteger o monumento de possíveis danos e instalar as estruturas metálicas que dão suporte aos panos.

Em 2019, o cinegrafista Trevor Tweeten capturou alguns momentos de Christo trabalhando no esboço do embrulho no Arco do Triunfo. O vídeo abaixo mostra um pouco dos processos de criação do artista:

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O sonho de Christo e Jeanne-Claude

Nascido em 13 de junho de 1935 em Gabrovo, na Bulgária, Christo Vladimirov Javacheff começou a se dedicar às artes quando tinha apenas seis anos de idade. Em 1958, ele se mudou para Paris e ali teve o seu primeiro contato com a vanguarda norte-americana. Foi nesse período que o artista começou a encher o seu estúdio com itens baratos, supostamente descartáveis, que ele embrulhava com tecidos e cordas. Nascia assim o seu principal estilo de intervenção artística.

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Também foi aos 23 anos que Christo conheceu a sua futura esposa, Jeanne-Claude Denat de Guillebon, uma francesa nascida no Marrocos (fato curioso é que ambos nasceram exatamente no mesmo dia). Juntos, eles desenvolveram uma série de trabalhos artísticos e tiveram a ideia de embrulhar o Arco do Triunfo, que ficava próximo do estúdio onde trabalhavam. Naquele primeiro momento, porém, a intervenção ficou apenas no imaginário.

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Ao longo dos anos, Christo e Jeanne-Claude assumiram uma postura mais afrontosa, chegando a criar algumas obras sem a permissão das prefeituras ou empresas envolvidas. Essas ações acabaram fazendo com que a arte de empacotar ganhasse mais visibilidade entre os anos 1960 e 1970. Em 1980, Christo margeou onze ilhas no sul da Flórida com propileno cor-de-rosa, em uma intervenção batizada de “Surrounded Islands”. Em 1985, foi a vez de empacotar a Pont-Neuf, uma das pontes que cruzam o Rio Sena em Paris.

O casal nunca deu explicações sobre seu trabalho (“Nós fazemos coisas lindas, inacreditavelmente inúteis, totalmente desnecessárias”, chegou a dizer em uma entrevista). Segundo a revista Artsy, é difícil não ver as obras de Christo e Janne-Claude como uma tentativa de mudar nossa relação com a própria paisagem, abrindo-nos assim para uma forma totalmente nova de ver o mundo. 

Quando Jeanne-Claude faleceu em 2009, Christo se pôs a cumprir uma promessa que tinha feito para a esposa: a de continuar tirando os projetos do casal do papel. Foi nesse contexto que, em 2018, o artista búlgaro finalmente solicitou a permissão da prefeitura de Paris para embrulhar o Arco do Triunfo.

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Infelizmente, ele morreu antes de poder ver o seu sonho materializado e o “L’Arc de Triomphe, Wrapped não deixa de ser uma homenagem póstuma ao casal que dedicou a vida inteira à arte.

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