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6 experiências gastronômicas em Buenos Aires

Uma seleção de clássicos que representam lindamente as vertentes da culinária dos hermanos

Por Rafael Tonon
Atualizado em 13 nov 2023, 17h55 - Publicado em 13 nov 2023, 10h14

Borges, Cortázar, Darín, Gardel, o papa Francisco, Mafalda… Siento decirlo, mas os símbolos argentinos que amamos não estão apenas nesses nobres aquários culturais/religiosos. Estão também no delicioso pecadilho da gula. Sim, a gente vai até Buenos Aires para comer. A cidade que recebeu camadas de imigrantes espelha essas influências no prato, tem o costume arraigado de lotar as mesas de seus cafés e restaurantes até a madrugada e não nega fogo para forasteiros glutões.

A variedade da mesa portenha tem os representantes da tradição como as parrillas e cortes de carne que beiram a perfeição em alguns endereços – o cozimento na brasa é uma instituição local. Tem opções que se estendem pela influência italiana das pizzas, pelas empanadas, pelo locro, pelos sanduíches no pão de miga… E tem uma nova cena, alinhada com tendências como a valorização de ingredientes locais, o boom da coquetelaria e a onda das cafeterias.

Veja aqui ótimos exemplos dessas diferentes vertentes. São lugares para aplaudir os hermanos, de pé.

La Brigada

Calle Estados Unidos, 465, San Telmo

Mesmo que você queira fazer um roteiro novidadeiro pela gastronomia local, é impossível escapar das parrillas: elas te seduzem com o cheiro de carne na brasa, a cada esquina. É um patrimônio nacional servido ao ponto em todos os bairros da cidade. No de San Telmo está uma das melhores: a La Brigada tem carne tenra, preparada à perfeição, e um serviço impecável para honrar o nome do restaurante.

Come-se, de entrada, morrores (pimentões) assados, uma corretíssima empanada de carne, deliciosas morcillas (o nosso choriço) e longanizas (linguiças picantes). Mas o foco são as carnes, cortadas pelos garçons à mesa só com uma colher, numa eficiente estratégia de marketing, independente do tamanho do corte pedido – entre a tapa de cuadril e um ojo de bife.

O restaurante também homenageia outra paixão nacional, o futebol. O dono, Hugo Echevarrieta, criou um altar para os principais times e jogadores do país, espalhando camisetas e troféus pelo ambiente. Na parte inferior, há uma cave com tesouros de uma carta muito bem montada, com todas as opções de vinhos argentinos, alguns deles rótulos raros. 

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Pizzaria Güerrin

Corrientes, 1368, Centro

Pode não ser a melhor pizza local, o melhor serviço, o melhor ambiente. Mas clássicos existem por algum bom motivo. O da Güerrin é conduzir o visitante a uma Buenos Aires nostálgica, em que comer pizza antes ou depois de assistir a algum espetáculo de teatro ou num fim de noite é uma maneira de manter vivo um estilo de vida.

A pizzaria fica na Avenida Corrientes, onde está a maioria das casas de show. É um programão percorrer a larga via nas noites de uma cidade tão devotada ao seu Centro e chegar ao lugar, inaugurado em 1932. Depois se sentar numa das disputadas cadeiras (ou comer em pé no balcão, hábito ainda mais local) e pedir uma das versões da fugazzeta, famosa pizza argentina – feita basicamente de queijo e cebola ou em opções com presunto ou linguiça, por exemplo.

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Por ali, nada de massas fermentadas, nada de ingredientes especiais. Ainda assim, é uma pizza bem boa. O garçom demora a tirar o pedido, pode haver filas. Mas, quando a gente viaja, não está justamente atrás de experiências autênticas?

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El Sanjuanino

Posadas, 1515, Recoleta
Bustamante 1788, Barrio Norte

Baez 227, Cañitas

Se as ótimas carnes são o primeiro motivo pra levar a fome pra passear em Buenos Aires, as empanadas merecem ser o segundo. As receitas variam conforme as diferentes regiões do país: salteñas, jujeñas, tucumanas, mendocinas – cada província tem seus ingredientes, moldados, claro, pela geografia e pelo clima. Na maioria das casas, as empanadas dividem a atenção com as pizzas.

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Mas, em alguns lugares, elas são a principal atração, como no El Sanjuanino. Ali há opções clássicas, como a de jamón y queso ou a de verduras. Ou, mais interessantes, a de carne picante (com ovo cozido), de choclo (milho) ou ainda a gran sanjuanino, típica receita criolla de carne, que é feita frita.

Além das empanadas, a casa tem também delícias para quem quer cair de boca na típica cozinha regional argentina, como vizcacha (uma prima da lebre, que é cozida com batatas), mondongo, receita que leva bucho e tutano, ou locro, ensopado de abóbora, feijão e milho. 

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Floreria Atlantico

Arroyo, 872, Retiro

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Desavisados que passam na rua admirando a vitrine dessa floricultura, na divisa entre o Centro e a Recoleta, têm poucos motivos para desconfiar de que, embaixo dela, está o mais animado convés de navio que já aportou na cidade. Ou quase isso. Basta entrar na tranquila loja de flores ornada com uma estante cheia de vinis e vinhos, abrir uma porta pesada e descer as escadas para ser imediatamente transportado para uma festa a bordo.

Com canos à mostra e paredes pintadas com desenhos de monstros marinhos, este bar-porão foi pensado para remeter a um convés – do mesmo tipo que trouxe à cidade imigrantes da Europa – e foi eleito o 18° melhor do mundo pelo prêmio The World’s 50 Best Bar 2023.

A carta de drinks, assinada pelo bartender Tato Giovannoni, é inspirada nas colônias e povos originários da América Latina. Água do Rio Mendoza, pasta de feijão branco e licor de caldo-de-cana são alguns dos ingredientes usados nas preparações. Para comer, há bife de chorizo, polvo grelhado e caçarola de rã com camarão.

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Confeitaria dos Escudos

Juncal, 905, Retiro

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Os sanduíches de pão de miga (uma versão do nosso pão de forma, sem casca) também são mais uma das imperdíveis tradições portenhas. Estão a cada esquina, nos cafés da cidade, sempre servidos com um cortado (o equivalente ao nosso pingado). Mas é nas confeitarias portenhas que estão os melhores.

O mais clássico, de jamón cocido e queijo, é tão trivial quanto delicioso: o pão denso, que quase gruda no céu da boca, com sabor levemente doce contrapõe perfeitamente com a combinação de presunto e queijo. Na Confeitaria dos Escudos, a versão da casa é perfeita. E, já que você está ali, aproveite para provar algumas facturas (doces tradicionais, como o scone) ou um pedaço de torta, como a de ricota ou a de pinitos (pingos de chocolate), recheada com doce de leite.

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La Carnicería

Thames, 2317, Palermo

Com uma nova geração agitando a cena culinária portenha, era de se esperar que jovens cozinheiros quisessem até, quem diria, renovar o próprio conceito de parrilla. A La Carnicería não é uma parrilla, apesar de ser focada em carne. Funciona mais como um gastrobar, com receitas diretas e sem formalidades no salão – o rock é alto, as mesas não têm toalha.

A especialidade são as carnes defumadas com madeiras nativas argentinas – influência do barbecue texano. Por ser colombiano, o chef Pedro Peña inova, sem culpa de ferir as tradições. E faz isso bem, servindo miúdos e embutidos com acompanhamentos como chorizo com pêssegos e salsa verde, língua com gengibre e queijo de cabra e morcilla com erva-doce e pimentão.

Os cortes de carne seguem padrões argentinos dos asados a la parrilla, mas aqui com um certo cheiro (defumado) de inovação.

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