Venda de viagens sem data marcada vira tendência no turismo

A ideia é pagar por uma reserva de hotel ou por um pacote agora, mas só marcar a data quando a pandemia acabar

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 10 dez 2020, 13h57 - Publicado em 17 abr 2020, 20h20
X
 (martin-dm/Getty Images)
Continua após publicidade

O cenário atual impede o consumidor de definir qualquer plano de viagem no médio ou no longo prazo. Num cenário de total imprevisibilidade, empresas têm inventado meios de continuar vendendo pacotes de viagens e assim garantir algum fluxo de caixa. No dia 15 de abril, a Azul Viagens foi a primeira empresa de grande porte a apresentar um estilo diferente de negociação: comprar uma viagem sem destino e sem data certa para acontecer.

Os produtos oferecidos foram divididos entre “4 dias de frio”, “7 dias de frio”, “4 dias de praia” e “7 dias de praia”. Todos eles incluem passagem aérea, hospedagem e traslados e possuem a mesma política e preços fixos.

Segundo a oferta, a viagem deve acontecer entre 1° de julho e 15 de dezembro de 2020 ou entre 20 de janeiro e 30 de abril de 2021, exceto Carnaval. No caso dos pacotes de frio, existe a possibilidade de ir para Gramado, Foz do Iguaçu ou Curitiba com preços a partir de R$ 1048 por pessoa. Nos de praia, para destinos do Nordeste: Maceió, Porto Seguro, Natal, Porto de Galinhas, Fortaleza, Salvador ou João Pessoa, a partir de R$ 994 por pessoa. Pesquisas apontam que serão justamente esses os destinos preferidos dos brasileiros no pós-pandemia.

A decisão de quando e para onde o cliente deseja viajar só deve ser comunicada à Azul Viagens com no mínimo 40 dias de antecedência, no caso de embarque em dias “normais”, e 60 dias no caso de embarque em feriados. No entanto, as datas estarão sujeitas à disponibilidade dos voos.

Para mais informações a respeito desse novo produto, a empresa criou um hotsite, onde constam também as regras e as políticas de cancelamento – que são sempre importantes de ler antes de comprar qualquer serviço de viagem.

No caso, não é possível alterar nomes de passageiros no futuro e existe uma multa de 10% do valor total do pacote caso você queira cancelar a viagem, independentemente de já ter escolhido a data e o destino ou não.

Em 19 de abril, a CVC foi a próxima empresa a aderir ao esquema “pague agora, viaje depois”. A gigante da indústria do turismo reparou que o seu site teve uma alta na procura por pacotes de viagem para o Nordeste e o Sul do Brasil com embarques de outubro em diante. Por isso, fez negociações com hotéis, resorts e empresas de passeios para montar pacotes para o período pós-pandemia que dão direito a uma remarcação gratuita. Todos eles são feitos com a companhia aérea Latam.

Continua após a publicidade

Segundo Emerson Belan, diretor geral da CVC, “o objetivo é que o cliente fique tranquilo para reservar agora com a garantia de que terá flexibilidade caso queira remarcar mais para frente”. Outra vantagem para o consumidor é que as tarifas estão mais baratas do que no mesmo período do ano passado. “Em média, uma viagem com aéreo e sete dias de hospedagem em praias nordestinas está com o preço 30% mais em conta do que em outubro de 2019”, ele afirma.

Pensando no dia das mães, comemorado no próximo domingo, dia 10 de maio, a empresa também lançou “vale-viagem“. O novo produto pode ser carregado com cotas a partir de R$ 200 e utilizado futuramente na troca por pacotes, diárias de hospedagem, passagens aéreas, locações de carro ou seguros de viagem. A validade é de até 18 meses após a data da compra e não existe a necessidade de escolher uma data ou destino para uso agora.

Passagens aéreas

Outras companhias aéreas também devem começar a ofertar bilhetes com tarifas mais flexíveis. No dia 16 de abril, a Latam anunciou que faria uma parceria com algumas agências de viagem para vender passagens aéreas que permitem até duas remarcações sem cobrança de taxas ou diferenças tarifárias.

Essas condições não são válidas para compras no site Latam, apenas através das agências parceiras. Uma delas é a Agaxtur, que está no mercado há mais de 60 anos. Segundo o CEO da empresa, Aldo Leone Filho, após essa flexibilização da Latam a agência pretende negociar com hotéis e outros prestadores de serviço para vender pacotes sem data fixa.

Porém, diferente dos pacotes da Azul Viagens, as passagens da Latam deverão ser reservadas com um destino e uma data certa desde o princípio. Outra restrição é quanto à sazonalidade: passagens compradas para a baixa temporada não poderão ser remarcadas para a alta.

Continua após a publicidade

A Agaxtur está anunciando voos a partir de agosto de 2020, válidos até 2021, com preços atrativos: os bilhetes para o Nordeste, por exemplo, custam a partir de R$ 389 o trecho. Viagens internacionais em classe executiva estão saindo por US$ 1 564 para Lisboa e US$ 1 835 para Orlando na baixa temporada.

Hotéis

Alguns hotéis também estão aderindo à venda de estadias sem data pré-determinada. O Cristalino Lodge, hotel de luxo em meio à Floresta Amazônica, está comercializando um número limitado de pacotes de três noites de hospedagem, com 25% de desconto, que poderão ser utilizados até dezembro de 2021. A exceção são os períodos que coincidem com o Natal, o Réveillon e o Carnaval.

Lá fora, já existem inclusive sites que reúnem vouchers de hotéis, o Hotel Credits e o Buy Now, Stay Later. No primeiro, o consumidor encontra um menu com diversas opções de hospedagem, fotos e descritivos. Ao escolher o hotel desejado, é possível comprar um voucher que, no futuro, poderá ser utilizado para abater reservas reais de estadia.

O crédito possui mais de um ano de validade e não é reembolsável, mas o site avisa que, caso o hotel feche definitivamente, o valor investido será devolvido.

O Buy Now, Stay Later funciona de modo semelhante, com a vantagem que ao investir US$ 100 na compra de um voucher agora, ele valerá US$ 150 no futuro. Nesse caso, os termos e condições variam de acordo com cada hotel.

Continua após a publicidade

Importante ressaltar que as compras feitas em sites estrangeiros não estão amparadas pelo Código de Defesa do Consumidor. Em caso de problemas, não existe respaldo jurídico.

Contexto

O maior problema enfrentado pelas companhias aéreas e pelas agências de viagem devido ao coronavírus é o esvaziamento dos caixas. Além de terem de reembolsar viagens canceladas por causa da pandemia, essas empresas correm o risco de passar os próximos meses com o faturamento zerado ou extremamente reduzido.

Para remediar o problema com os cancelamentos, o governo federal emitiu uma Medida Provisória, que permite que fornecedores de serviços turísticos ofereçam remarcação, crédito ou alguma compensação antes de partirem para o reembolso.

Mas mesmo antes disso, para garantir um faturamento mínimo, empresas do setor começaram a lançar promoções tentadoras. Um anúncio do Hurb (antigo Hotel Urbano), por exemplo, vendia um pacote para a Tailândia por R$ 1 999, incluindo passagem aérea e hospedagem em Bangkok e em Phuket por oito noites, com café da manhã.

O valor era válido para embarques entre 1° de março e 30 de novembro de 2021, com exceção do mês de julho e das semanas com feriados. Ainda assim, os valores extremamente reduzidos levantaram debates sobre os cuidados antes de comprar uma viagem nos próximos meses e, principalmente, sobre as incertezas em torno da evolução da pandemia. Em suma, não se jogue em promoções sem antes ler com cuidado os contratos e prefira as empresas ofereçam regras flexíveis para remarcação ou cancelamento.

Leia tudo sobre coronavírus

Publicidade