Mesmo que você nunca tenha pisado na Itália, a sensação de visitar a Toscana é a de estar retornando. Talvez porque quase todas as expectativas sobre a região se confirmem e haja uma gostosa familiaridade ao topar com aquela paisagem ondulada, coberta de vinhedos, tão recorrente em fotos e filmes. E, se algumas atrações dessa terra icônica acumulam 2 mil anos de idade, não há pressa para chegar até elas.
Só desvenda a área-fetiche quem se permite fazer, com calma, alguns desvios. Há trens e ônibus que ligam várias cidadezinhas, mas nada se compara a pegar um carro e ter a liberdade de parar ao menor sinal de encantamento – como a visão dos campos de girassóis que aparecem na beira da estrada sem aviso, entre junho e agosto.
Eis o nosso roteiro:
FLORENÇA: O ponto de partida
Um roteiro à altura da iconografia toscana começa, claro, por ela, a capital Florença. Uma cidade estupenda, palco de alguns dos principais marcos do novo capítulo na história da humanidade que foi o Renascimento. Um dos maiores tesouros da Europa, o centro histórico cortado ao meio pelo Rio Arno tem ruas estreitas de pedra e casarões ocre que pouco mudaram do século 15 para cá. Se não der pra ficar uma vida inteira, três dias são suficientes pra explorar o sumo das atrações da cidade – e dá para fazer tudo andando, elas estão bem próximas umas das outras.
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Parte relevante do acervo artístico da Itália fica aqui, e há pelo menos dois grandes museus imperdíveis. O primeiro é a Gallerie dell”Accademia, onde o original Davi de Michelangelo deslumbra pencas de curiosos do planeta inteiro não só pelo tamanho quanto pela perfeição anatômica. O segundo é a Gallerie degli Uffizi, guardiã de uma das coleções mais prestigiadas do mundo. Em seus salões estão obras de gênios como Leonardo, Botticelli, Raffaello, Tiziano e Caravaggio.
Para não mofar na fila desses dois museus peso pesados, vale pagar um pouco a mais nos ingressos com dia e horário marcados, vendidos do site oficial do Firenze Musei. Basta chegar com 15 minutos de antecedência, retirar o bilhete e ir para a entrada, onde os grupos são liberados aos poucos.
+ A Civitatis tem tour guiado (em português!) na Gallerie degli Uffizi
Caminhar pelas ruazinhas de Florença já é um exercício de admiração artística – só de olhar pra cima, pros lados, pra cima de novo. Em cada fachada, há um detalhe pra admirar, provavelmente com uma baita história por trás. Mas a grande obra-prima arquitetônica local é o Duomo, a renascentista Cattedrale di Santa Maria del Fiore – e, mais precisamente, a sua cúpula. Construir uma abóbada daquele tamanho era impensável até que o arquiteto Filippo Brunelleschi propusesse uma maneira. Quem encara os mais de 400 degraus estreitos vê de perto a curvatura da construção e seus afrescos. E ainda curte vistas inigualáveis no mirante. Mas é preciso reservar horário.
Se espaços apertados forem um problema para você, prefira a subida do Campanile di Giotto, ao lado. O bilhete do complexo também dá acesso ao octogonal Battistero di San Giovanni e ao Museo dell”Opera, com uma das quatro Pietà de Michelangelo (reservas no site ou no balcão do Museo dell”Opera).
Seguir os passos dos Medici, a família mecenas de todo esse esplendor, é mais uma diversão na cidade. Por quase três séculos, o clã governou Florença da Piazza della Signoria, onde o imponente Palazzo Vecchio é, até hoje, sede da prefeitura. Alguns integrantes da dinastia moraram ali, antes de ela se transferir para o Palazzo Pitti, do outro lado do rio e cercado pelos 45 mil metros quadrados do elegante Giardino di Boboli. A igreja frequentada pela família era a Basilica di San Lorenzo, e as Cappelle Medicee, anexas, guardam os túmulos dos Medici mais proeminentes.
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Como você irá perceber, a quantidade e a dimensão das igrejas da cidade são meio desproporcionais ao número de habitantes – hoje, a cidade tem cerca de 380 mil moradores. A menos de cinco minutos de caminhada da Piazza della Signoria fica outro monumento católico, a Basilica di Santa Maria Novella. A fachada é renascentista, mas o interior é medieval – e foi ali que Galileo Galilei foi acusado de heresia por constatar que a Terra se move em torno do Sol. Revisionismo histórico feito, o cientista jaz em um túmulo dentro de outra basílica, a de Santa Croce, muito bem acompanhado dos restos mortais dos igualmente geniais Maquiavel e Michelangelo.
Depois de bater cartão nessas atrações, é chegada a hora de curtir Florença ao ar livre. O máximo do glamour é tomar um café na Piazza della Repubblica, com um carrossel retrô ao centro, ou comprar uma joia na Ponte Vecchio, única a sobreviver aos bombardeiros da Segunda Guerra Mundial. Sobre ela havia peixarias e açougues que depositavam lixo no Rio Arno até 1596, quando os Medici resolveram a questão alugando os espaços para ourives. Luxo também é zanzar por Oltrarno, o outro lado rio, banda menos turística e, portanto, mais típica da cidade – mas que, nos últimos tempos, anda cheia de novas lojinhas e bares.
Mas a melhor maneira de se despedir de Florença é vê-la iluminada pelo sol poente. Ao cair do dia, a Piazzale Michelangelo fica apinhada de gente – melhor subir direto para a Basilica di San Miniato al Monte para uma vista mais ampla e menos concorrida. Admirada ao longe, com os carros e os turistas fora do campo de visão, Florença parece ainda estar em pleno Renascimento.
“Há opções de compras no centro histórico de Florença, como a Zara e a H&M da Via Calimala e as lojas de departamentos Coin, na Via Calzaiuoli, e Rinascente, na Piazza della Repubblica. Já os outlets ficam a mais ou menos uma hora da cidade. Da estação Santa Maria Novella sai um ônibus que leva até o Barberino, com marcas como Michael Kors, Adidas, Ralph Loren e Puma. A passagem custa € 16, ida e volta, e dá 10% de desconto em algumas lojas. Para Gucci, Cavalli e Dolce & Gabanna, vá ao The Mall, que também tem ônibus saindo da Santa Maria Novella por € 13, ida e volta. Lembrando que, a partir de julho e até o final de agosto, acontecem as promoções de verão, com descontos que vão de 30% a 80%.” – Juliana Silvério, relações-públicas em Florença
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VINCI, SAN MINIATO, LUCCA E PISA: Ilustres rebentos
Perfeito arquétipo do homem renascentista, o toscano Leonardo da Vinci nasceu no minúsculo vilarejo de Anchiano, onde a única atração é o casarão de pedra cercado por oliveiras em que ele passou os primeiros anos de sua vida. Seu nome veio da cidade “grande” mais próxima, que era a medieval e bonitinha Vinci. Próxima parada em nosso roteiro, ela fica a 50 quilômetros de Florença. Por lá dá para conhecer a Chiesa di Santa Croce, onde Leonardo foi batizado, e o Museo Leonardiano, com modelos de suas invenções, como escafandros, tanques de guerra, traquitanas para construção civil, paraquedas e a famosa máquina voadora.
Todo o passeio não deve demorar mais que meio dia, então sobra tempo para curtir as vistas de San Miniato, a meia hora dali. No alto de uma colina, linda, a cidade tem La Rocca di Federico II, torre de onde é possível avistar até o mar nos dias mais claros. O grande tesouro local, no entanto, está embaixo da terra. A cidade é conhecida pelos foodies como a “terra das trufas”, o diamante gastronômico cujo quilo chega a custar mais de € 5 000. Há quem se limite a provar o requintado ingrediente em um dos ótimos restaurantes locais, mas muito mais interessante é se juntar aos tours de caça às trufas nos bosques da região.
A busca é feita com a ajuda de cães treinados para farejar o aroma do fungo escondido a até 40 centímetros de profundidade, ao lado das raízes das árvores. Várias empresas familiares da área organizam esses passeios, que, muitas vezes, acabam com uma refeição feita com as trufas colhidas. Uma das mais conhecidas é a Savini Tartufi, famosa por ter entrado no Guiness Book depois de encontrar uma trufa de 1,5 quilo, vendida por uma fortuna em um leilão. Outubro e novembro é a época de caça às trufas brancas, mais raras.
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Diferente de San Miniato, a cidade de Lucca, a uma hora dali, entrega de bandeja sua principal atração. Logo na chegada, é possível ver as muralhas de 12 metros de altura que cercam o centro histórico desde o século 16, sem prejuízos causados pela Segunda Guerra. Por toda Lucca há lugares que alugam bicicletas, das comuns às de quatro lugares – boa opção para percorrer os 4 quilômetros de muro. Fundada no lugar de um antigo anfiteatro romano, ela tem formato ovalado e é toda rodeada por um casario em tons de ocre.
Na Piazza dell”Anfiteatro, cafés e restaurantes com mesas externas são perfeitos para descansar após as pedaladas ou andanças. Vale a pena ficar um ou dois dias na cidade e debulhar os detalhes das ruas estreitas que desembocam em pracinhas – e, mesmo assim, a estadia será insuficiente para conhecer as 100 igrejas e 130 torres. Na falta de mais tempo (ou de disposição), priorize a Cattedrale di San Martino e a Chiesa di San Michele in Foro, que mesclam os estilos românico e gótico, e a medieval Torre delle Ore, a mais alta de todas, com 50 metros.
“No meio do caminho entre Florença e Lucca, Montecatini Terme é uma cidadezinha que, apesar de tranquila e imersa na paisagem toscana, sempre foi um dos mais importantes centros termais da Europa. Você pode tanto beber a água quente e salgada, que é conhecida por suas propriedades terapêuticas, quanto fazer alguns tratamentos de spa. Existem vários centros dedicados a isso e eu recomendo Terme Tettuccio, com arquitetura em estilo art nouveau. Amo a minha cidade e adoraria ver mais brasileiros por aqui.” – Luca Landini, profissional liberal de Montecatini Terme
Mas nenhuma torre há de superar a fama da Torre di Pisa, a apenas 20 minutos dali. Basta um dia livre para conhecer essa emblemática construção de mármore, tão pesada que não pôde ser sustentada pelo terreno de argila e areia, daí a inclinação. Tirar fotos fingindo segurar a Torre di Pisa é o clichezão consagrado. E subir os seus 300 degraus em espiral exige compra de bilhete com horário marcado no site, a menos que você queira perder tempo na fila.
Seria um desperdício, considerando que a Piazza dei Miracoli, endereço do cartão-postal, reúne também a Cattedrale di Santa Maria Assunta, o maior batistério de toda a Itália, e o Camposanto Monumentale, um cemitério com urnas etruscas e romanas. Pisa é a cidade natal de Galileo Galilei, que chegou a estudar Medicina na universidade local, mas desistiu do curso para se dedicar à matemática, o que causou atritos com seu pai. A casa onde ele nasceu, na Rua Giuseppe Giusti, 24, é identificada por uma epígrafe discreta colocada no alto da fachada – e visitantes admiradores da história da ciência, vez por outra, são vistos por ali, torcendo o pescoço para conseguir lê-la.
“Basta as temperaturas subirem para que os toscanos rumem para a costa. A 30 minutos de Pisa, as praias de Torre del Lago e de Viareggio são boas opções para um bate e volta, ainda que você esteja hospedado em Florença. Um pouco mais ao norte, Versilia tem atmosfera vip e vida noturna agitada, mas também é mais cara. Ao sul, San Vincenzo, Piombino, Donoratico e Principina a Mare têm o mar mais bonito e, como ficam distantes dos grandes centros, costumam ser mais frequentadas por quem tem casa lá.” – Olivia Peccini, bancária de Florença
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SAN GIMIGNANO, MONTERIGGIONI E SIENA: Tretas toscanas
A quilômetros de distância, já é possível avistar as 14 torres de San Gimignano, erguidas entre os séculos 11 e 13 por famílias rivais como símbolo de poder nos típicos conflitos territoriais da Idade Média. Quanto maior a riqueza, maior a torre. Venceram os 54 metros da Torre Grossa, entre o Palazzo Comunale e a igreja Collegiata di Santa Maria Assunta. O conjunto dessas construções encarapitadas no alto de uma colina é um cenário encantador – e olhe que só restaram essas dentre as mais de 70 torres erguidas pelos clãs.
Hoje em dia, a única disputa que você verá por ali é pelos sorvetes da famosíssima Dondoli, cuja fila se estende pela Piazza della Cisterna. De resto, é só paz e amor nas ruelas da linda cidade tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco e habitada por apenas 7 mil sortudos. Ladeadas de lojinhas e cafés, elas são tão perfeitas que parecem uma cidade cenográfica.
Bonita pra danar, San Gimignano vive sempre cheia de turistas que transitam entre visitas ao Duomo, igreja romântica do século 12 com um respeitável acervo de obras de arte, e a prédios como o Palazzo del Podestà, sede da prefeitura e também de um bom museu, ou na subida interminável da Torre Grossa, que vale a pena pela vista de 360 graus da região. Mas, se embrenhando nas ruazinhas, dá para descobrir becos, escadarias, pracinhas e fontes mais vazias – e com ângulos incríveis do Val d”Elsa. Difícil sair dali… Mas tem de desapegar porque a paisagem do vale ainda guarda outras acachapantes preciosidades.
Entre vinhedos e oliveiras avistamos Monteriggioni, 27 quilômetros depois. É a perfeita representação de um castelo medieval: uma fortaleza circular com apenas uma praça, uma igrejinha e algumas casas, hoje convertidas em restaurantes e lojas de suvenir. Tudo, claro, lá no alto de uma montanha. Se em dias normais a visita já vale muitíssimo, em dois finais de semana de julho é imperdível. Durante a Festa Medievale di Monteriggioni, o lugar leva muito a sério a proposta de voltar ao passado.
O nível de detalhamento é tamanho que as pessoas não apenas se vestem como plebeus, guerreiros, nobres e clérigos como também atuam de acordo com os seus personagens. O mesmo vale para as barracas de comida, que, além de quitutes de época, vendem apenas água e vinho quentes, já que, oras, não existia geladeira na Idade Média. Pra comprar os produtos, é preciso trocar euros por moedas antigas, estilo fichas de festa junina. A programação inclui apresentações de dança, música e incríveis performances teatrais.
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Meros 20 quilômetros adiante, e lá está Siena. Na Idade Média, a cidade vivia em disputa feroz com Florença. A rixa era tão ferrenha que o Duomo de Siena pretendia ser maior que o florentino. A peste negra de 1348 acabou com a verba para a construção, mas vale se admirar com a fachada gótica em mármore listrado em claro e escuro, com o magnífico piso que mostra 56 cenas históricas e de passagens bíblicas e com a pia batismal com relevos de Donatello.
Siena é lugar para ficar pelo menos dois dias. Você vai se encantar pela Piazza del Campo, uma das mais bonitas e originais de um país em que praças incríveis são coisa séria. Em forma de leque, é o endereço do Palazzo Pubblico, cujas salas têm afrescos medievais, e da Torre del Mangia, com 102 metros de altura. E você vai adorar perambular pelo intrincado labirinto formado pelas ruas que sobem e descem ladeiras. O que faz a cidade tão famosa, no entanto, é o mítico Palio di Siena, em cartaz desde a Idade Média. Nos dias 2 de julho e 16 de agosto, em meio a um bairrismo arraigado, os 17 contrade (bairros) entram na disputa. Sem selas e sem muitas regras, ganha a competição o primeiro cavalo que cruzar a linha de chegada, ainda que ele esteja sem o seu cavaleiro.
Reza a lenda que, para colocar fim nas disputas de território com Florença, foi acordado que ao nascer do sol, quando o galo cantasse, um cavaleiro de cada cidade partiria em direção à cidade oposta. A fronteira seria determinada no exato ponto em que eles se encontrassem. Enquanto os senesi (os nascidos em Siena) escolheram um galo branco e o encheram de comida para que ele cantasse mais forte, os fiorentinos elegeram um galo negro e não o alimentaram. Faminto, o bicho cantou antes mesmo de o dia raiar e, assim, Florença ficou com a famosa região do Chianti – nosso próximo destino.
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CHIANTI, MONTALCINO E MONTEPULCIANO: No caminho do vinho
Até hoje, o símbolo do galo negro identifica os vinhos produzidos no Chianti, essa região difusa entre Florença e Siena em que as uvas sangiovese são cultivadas desde antes de Cristo. Mais importante produtora de vinhos tintos do país, a área tem nomes tradicionais como Antinori, Frescobaldi e Ricasoli, três vinícolas abertas para visitação.
Quem procura uma experiência mais rústica e acolhedora, no entanto, pode seguir para a Fattoria Corzano e Paterno, em San Casciano in Val di Pesa. Nessa propriedade familiar, com ovelhas pastando ao lado de oliveiras, há tours em português guiados pela paulistana Jéssica Hollaender, que deixou o cargo de diretora em uma multinacional para viver sob o sol da Toscana. A experiência passa pelas etapas da produção do vinho e termina em um gostoso pátio ao ar livre, com uma degustação de tintos, brancos e rosés.
Nessa parte da Toscana, o prazer é parar aqui e ali para sorver vinhos e paisagens. A pequenina Greve in Chianti também tem o seu Duomo e ruelas, mas seus maiores atrativos estão nos arredores, como o casarão ocre em que Mona Lisa, a musa de Da Vinci, teria nascido em 1479 e onde funciona a vinícola Villa Vignamaggio. E o cenário atinge níveis cinematográficos no Castello di Verrazzano, construção de mais de mil anos cercada por vinhedos. Ali, o tour com degustação pode ser seguido de almoço, mas não é má ideia guardar espaço no estômago para Panzano in Chianti, a próxima parada, 45 quilômetros adiante.
Chegando a esse vilarejo, todos procuram pela fachada listrada em branco e vermelho da Antica Macelleria Cecchini, provavelmente o açougue mais famoso do mundo. Como as carnes in natura são barradas na alfândega, o jeito é se contentar em encher as malas com garrafas de vinho: cada pessoa tem direito a entrar no Brasil com 12 litros. No alto de uma colina da pequenina Radda in Chianti, 18 quilômetros mais pra frente, o Castello di Albola vende seus rótulos em bela locação, digna de encerrar o roteiro pelo Chianti.
+ A Civitatis tem tour enoturístico pelo Chianti
Para os amantes da coisa, a rota do vinho continua mais ao sul, onde Montalcino é uma meca toscana para o enoturismo por ser o berço do glorioso Brunello, um dos melhores tintos produzidos no mundo. A vila é um encanto. E quase todos os caminhos levam a enotecas – a mais famosa é La Fortezza, fortaleza do século 14 onde hoje ótimos sommeliers comandam degustações.
A dez minutos do Centro, a Abbazia di Sant’Antimo, dos monges beneditinos, atrai turistas pelo canto gregoriano das missas dominicais e pela charmosa farmácia medieval que vende doces, chás, cosméticos e cervejas feitas de acordo com a tradição monástica. A igreja é linda, firme e forte entre vinhedos e plantações de lavanda. Os arredores de Montalcino também são coalhados de burgos medievais transformados em hotéis de luxo.
Por ali, uma estradinha ladeada por ciprestes leva até a colina de Montepulciano, outra estrela do mapa enoturístico, outra preciosidade medieval cheia de pracinhas, igrejas, fontes e mais um punhado de enotecas – aqui, a mais famosa é a De’Ricci, que fica em um palazzo do século 15, com uma adega imensa no subterrâneo, sustentada por arcos abobadados que lembram uma catedral gótica. Na parte de baixo da cidade, fica o bonito Tempio di San Biagio. Se a ideia for visitar vinícolas, as tradicionalíssimas Biondi Santi, Fattoria dei Barbi e Poggio Antico estão entre as que organizam tours.
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CORTONA E AREZZO: Dentro de um filme
Há quem diga que Cortona perdeu um naco de sua autenticidade desde que a escritora americana Frances Mayes colocou a cidade no GPS dos românticos de todo o mundo com seu livro Sob o Sol da Toscana, depois transformado em um filme arrasa-quarteirão. Mas tem um pouco de mau humor nisso aí. A vila é uma belezinha, toscanamente no alto de uma colina. Toda charmosa, ela é um convite a se embrenhar pelo novelo de ruas e vielas que vão desembocando umas nas outras.
Acompanhando o sobe e desce de casas de pedras, chega-se a lugares como o Duomo di Cortona, construído sobre as ruínas de um antigo templo pagão, e a Piazza Signorelli, onde fica o Museo dell”Accademia Etrusca, que tem no acervo itens como um grande lampadário etrusco e achados arqueológicos feitos na região.
Continue caminhando sem pressa, vá passando pela Chiesa di San Francesco, onde está um suposto pedaço da santa cruz, até chegar à Basilica di Santa Margherita e à Fortezza Medicea, o ponto mais alto da cidade. Tudo isso só para descer de volta às imediações da Via Nazionale e ver o tempo passar na Piazza della Repubblica. Pode ser que você reconheça o Palazzo Comunale, com uma grande escadaria na frente, como um dos cenários do filme. O mote da história de Frances Mayes, que largou sua vida nos Estados Unidos para se instalar em um antigo casarão caindo aos pedaços por ali, paira na cidade como uma tentadora sugestão de estilo vida.
E fantasias do gênero ganham contornos ainda mais fortes na parada seguinte, Arezzo. Andando pela cidade, é outro filme que domina o cenário, A Vida É Bela, em boa parte gravado por ali. A Basilica di San Francesco foi o pano de fundo para o personagem Guido convidar sua principessa para um gelato. Uma pena que, no filme, não tenham mostrado também o belo interior da igreja, recheado com lindos afrescos de Piero della Francesca.
Um passeio pelo Centro mostra vários outros cenários escolhidos pelo ator e diretor Roberto Benigni. Foi nas escadarias da Cattedrale dei Santi Pietro e Donato, o Duomo di Arezzo, que Guido providenciou um tapete vermelho para que sua amada não pisasse no chão molhado pela chuva. Depois, é só passar pelo Palazzo Pretorio, edifício medieval com a fachada coberta por emblemas de famílias nobres, para cair na inclinada Piazza Grande, que o personagem vivia cruzando de bicicleta.
Ali acontece a Giostra del Saracino, festa popular em que representantes de vários bairros de Arezzo vestem coloridos trajes medievais e duelam montados em cavalos. O evento ocorre todo terceiro sábado de junho e primeiro domingo de setembro, mas, no ano inteiro, é possível ver bandeirolas dos “times” nos edifícios que cercam a praça. Repare que um deles está curiosamente de costas: é a Chiesa di Santa Maria della Pieve, cuja fachada, na rua de trás, também merece uma espiadinha. Em meio a esse clima cinematográfico, com exceção de um ou outro turista sortudo, os moradores andam sem pressa e meninos passam voando com as suas bicicletas. No Passeggio del Prato, uma bonita área verde em uma das partes mais altas de Arezzo, avistam-se a paisagem ondulada, os vinhedos e os oliveirais tão característicos da região. É uma despedida e tanto para o nosso roteiro toscano.
E o caminho de volta para Florença provavelmente estará ladeado por aqueles campos de girassóis floridos, tão associados à vibe da Toscana…
“São Francisco passou longos períodos de oração em La Verna, santuário em uma floresta a uma hora de Arezzo e a 1 128 metros de altitude. Para os católicos, o local é conhecido por ter sido onde o santo recebeu as chagas que o acompanhariam até a morte, mas, independente da religião, é um belo local para apreciar as vistas e meditar. A 45 minutos dali fica o Eremo di Camaldoli, mosteiro beneditino num parque nacional, a 1 100 metros de altitude. Fazendo uma oferenda (” 1 basta), é possível conhecer a igreja decorada por Vasari e uma farmácia do século 15, além de curtir a paz do lugar. De carro, dá para ver La Verna e Camaldoli em um único bate e volta de Florença ou de Arezzo.” – Alberto Freijeiro, bancário de Florença
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Hora do sono
Boas opções de hospedagem, entre uma paisagem de cinema e outra:
Florença
Próximo ao Giardino di Boboli, o Villa Cora fica num luxuoso casarão. Mais perto do centro, o quatro-estrelas Grand Hotel Minerva fica na Piazza di Santa Maria Novella e tem terraço com piscina. Com bom custo/benefício, o Veneto Firenze fica a 15 minutos da Piazza della Signoria. O Gallo d”Oro é um hostel moderninho com preços mais acessíveis e quartos compartilhados.
Vinci, San Miniato, Lucca E Pisa
No caminho entre Vinci e San Miniato, a Villa Dianella é um típico casarão toscano, que recebe hóspedes em três quartos e serve café da manhã no jardim. Na cidade, o charmoso Palazzo Rocchi, em Lucca, tem apartamentos com cozinha e seis suítes. Já em Pisa, o econômico Il Campanile B&B, a fica a dois minutos da torre.
San Gimignano, Monteriggioni E Siena
Dentro das muralhas de San Gimignano, estão os três-estrelas L”Antico Pozzo, com quartos espaçosos, e Leon Bianco, na Piazza della Cisterna. Em Siena, uma das mais curiosas hospedagens é a Antica Torre, torre do século 16 com dois quartos pequenos por andar.
Chianti, Montalcino E Montepulciano
A Corzano & Paterno é um agriturismo com vilas com cozinha. Opção de charme nos arredores de Montalcino e Montepulciano é ficar em antigos burgos em vinícolas, como o Castello Banfi.
Cortona E Arezzo
A sete minutos do Centro de Cortona, o quatro-estrelas Villa Marsili fica num lindo casarão do século 18. Em Arezzo, o Antiche Mura ocupa um antigo palácio. Entre Arezzo e Florença, cercado por vinhedos, o Il Borro está em um burgo que já foi dos Medici.
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Onde comer
Veja dicas dos melhores restaurantes da Toscana aqui
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Quando ir
Embora seja aprazível até no frio, o período da primavera ao verão (de abril a setembro) é o mais indicado para admirar as paisagens do centro da Itália: além do clima amigável, nesta época os dias são mais longos. E não é só. Entre junho e agosto, os campos de girassóis ficam resplandecentes na Toscana. Para quem vai pela gastronomia, as chuvas de outubro e novembro não chegam a ofuscar a caça às trufas brancas em San Miniato, proporcionando ao viajante almoços e jantares inesquecíveis.
Fuso
+ 5h no horário de verão na Itália.
Documentos
Passaporte válido por pelo menos três meses na saída da Itália.
Transporte
Há trens e ônibus ligando as cidades, mas nada dá mais liberdade que alugar um carro. O Rental Cars é um buscador que compara as opções e os preços de grandes locadoras. Em Florença, dá para fazer quase tudo a pé, e por toda Lucca há locação de bikes.
Veja um roteiro com o melhor da gastronomia da Toscana
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