Moro no Japão há pouco mais de um ano, na cidade (quase) cenográfica de Kyoto, e uma das coisas que mais me encantam por aqui é a forma como os japoneses curtem o passar das estações – bastam alguns dias de viagem ou uma pesquisa rápida sobre o país para sacar esse espírito.
Na primavera, entre março e abril, explode a curtíssima floração das cerejeiras (dura cerca de uma semana, que varia de acordo com a região). É quando todo mundo sai para fazer o hanami, justamente o contemplar das flores. Amigos e famílias se reúnem em parques e praças para um piquenique sob as árvores – em 2020, no auge da pandemia, o governo proibiu as reuniões com comida e bebida, mas não conseguiu evitar que as pessoas saíssem para ver e fotografar.
O verão dura pouco e o calor intenso e úmido (que compete com o clima manauara, diga-se) leva os que não se refugiam no ar-condicionado às lindas praias do arquipélago – ocasião em que as japonesas se protegem do sol quase obsessivamente – ou aos festivais de rua (cancelados em 2020). Até a estação chuvosa, ou tsuyu, fechando o verão, traz consigo o auge de hortênsias perfeitinhas e multicoloridas, grandes como repolhos.
O outono, minha estação favorita, se exibe no Japão como em poucos lugares do mundo, em um esplendor de folhagens amarelas, alaranjadas e vermelhas que parecem de mentira. Muitos templos abrem seus jardins até mais tarde com iluminação especial nessa época – e lotam.
E no inverno? As estações de esqui, onsens (as fontes termais) e comidas quentinhas, como o onipresente ramen (que apesar de ser consumido o ano todo, cai muito bem no inverno), fazem a alegria dos japoneses, assim como os festivais de luzes de fim de ano. Para quem curte esse tipo de atração, vale colocar na lista para a próxima viagem de inverno ao Japão. Veja alguns:
Kobe
A capital da província de Hyōgo tem um porto importante e uma bela torre com vista panorâmica, mas é mais conhecida pelo kobe beef, uma das carnes mais valorizadas do mundo. No evento Kobe Luminarie, um show de 200 mil luzes pintadas uma a uma à mão decoram várias áreas e prédios da cidade. O evento é realizado em dezembro para relembrar o Grande Terremoto de Hanshin, em 1995.
Kuwana
Na província de Mie, a cidade abriga o Parque de Flores Nabana no Sato, onde ocorre a maior iluminação de inverno do país. Milhões de luzes de LED coloridas se misturam ao paisagismo do parque, compondo um cenário pra lá de instagramável. O espetáculo inclui um painel temático animado, túneis e corredores iluminados.
Sendai
A cidade fica na província de Miyagi, ao norte, e sedia o Espetáculo da Luz das Estrelas, considerado um dos mais bonitos do país. O ponto alto é quando todas as 600 mil luzes são desligadas e religadas três vezes. Em 23 de dezembro, há um desfile com 400 Papais Noéis – vale avisar que o Natal não é dos mais autênticos no Japão, um país essencialmente budista e xintoísta.
Osaka
Na terceira maior metrópole do Japão (depois de Tóquio e Yokohama), mais de 1,5 milhão de lâmpadas decoram o Osaka Hikari Renaissance, show de luzes que pode ser visto no Parque Nakanoshima e na principal avenida da cidade, a Midosuji, com dois quilômetros de extensão.
Ashikaga
A iluminação no Parque das Flores de Ashikaga, na província de Tochigi, norte de Tóquio, ocorre durante todo o inverno. Com mais quatro milhões de luzes, o espetáculo é inspirado no formato das flores e no Natal, e há ainda uma iluminação especial de Ano Novo.
Covid-19 no JapãoO Japão passou por um breve estado de emergência, entre abril e maio, e se aproxima dos 150 mil casos de Covid-19. Recentemente, os números voltaram a crescer e têm se equiparado ao início da pandemia, principalmente em metrópoles como Tóquio e Osaka e na ilha de Hokkaido. O governo está em alerta e suspendeu a campanha Go to Travel, de incentivo a viagens internas, em províncias com alta de casos. Embora as fronteiras continuem fechadas a turistas, comércio, hotéis e restaurantes seguem funcionando com medidas como distanciamento e medição de temperatura. Os japoneses têm usado máscara de forma massiva – é raríssimo, ao menos em Kyoto, ver alguém na rua sem ela. |