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Capitólio: cuidados com segurança em passeios de ecoturismo

Mesmo que seja impossível prever com exatidão, os fenômenos da natureza dão sinais de alerta e você pode aprender a interpretá-los

Por Caroline Dalla Vecchia
Atualizado em 11 jan 2022, 20h53 - Publicado em 11 jan 2022, 17h58
Cânion de Furnas, Capitólio, Minas Gerais
Vista aérea do cânion de Furnas. Crédito: (Gerson Fortes/Getty Images)
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A essa altura, o Brasil inteiro já deve estar ciente da tragédia que aconteceu em Capitólio no sábado (8), quando um paredão rochoso do cânion de Furnas se desprendeu e atingiu quatro lanchas, deixando um triste saldo de 10 mortos e 32 feridos. O vídeo abaixo, de conteúdo sensível, registrou o momento em que os barcos são atingidos. 

As imagens mostram um processo que é natural dos cânions. Segundo o geólogo Daniel Cardoso, especializado em geociências do meio ambiente, “os movimentos que resultaram na queda da coluna são fenômenos comuns e que fazem parte dos processos de formação da superfície do planeta”. O agravante, no caso de Capitólio, é que as rochas que compõem o cânion de Furnas são sedimentares e porosas, o que facilita a entrada de água e acaba por enfraquecer a estrutura interna. Com o tempo, esse processo de erosão vai formando fraturas verticais, que dão o aspecto recortado das paredes.

A coluna que se desprendeu no cânion de Furnas estava não só com essa fratura vertical, como também com a base enfraquecida devido ao contato constante com a água. O resultado é que, em dado momento, ela se desprendeu como uma fatia de bolo. Para entender o fenômeno, é necessário ainda levar em consideração as condições meteorológicas: as fortes chuvas são recorrentes em Capitólio entre dezembro e março.

Além de acelerarem o processo de erosão, os aguaceiros estão relacionados às “cabeças d’água”, maneira como é chamado o aumento repentino no volume de água causado pelas chuvas nas nascentes (ou cabeças). Isso forma ondas nos rios comparáveis aos tsunamis nos mares, considerando as devidas proporções. O fenômeno é parcialmente responsável pela queda ocorrida no último sábado (8). O vídeo a seguir mostra que, minutos antes do acidente, o volume de água da cachoeira aumenta drasticamente de uma hora para a outra:

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Tromba ou cabeça d’água?

Apesar de os termos “tromba d’água” e “cabeça d’água” serem utilizados como sinônimos, eles representam fenômenos diferentes. Enquanto a cabeça d’água é o aumento rápido do volume de rios por causa das chuvas, a tromba d’água é um fenômeno meteorológico no qual formam-se colunas de água que lembram tornados. Em Capitólio, a causa do acidente foi uma cabeça d’água.

Segurança no turismo de aventura

“Aventura é todo o empreendimento cujo resultado é incerto. Dessa forma, o turismo de aventura, por definição, sempre envolve riscos”, afirma Luis Del Vigna, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA). A questão é que, apesar de alguns acontecimentos não poderem ser previstos com exatidão, geralmente existem sinais de alerta aos quais é preciso estar atento. No caso de Capitólio, realmente não era possível prever que naquele momento haveria a queda de um bloco rochoso, mas existiam, sim, sinais de que uma cabeça d’água estava por vir.

A responsabilidade de conhecer e interpretar esses sinais de alerta cabe principalmente às autoridades e guias locais. Os viajantes que não possuem experiência com natureza ou aventura devem buscar passeios de empresas comprometidas com a segurança, que atuam em conformidade com a Lei Geral do Turismo e o Código de Defesa do Consumidor (os comentários na página da empresa no Facebook, TripAdvisor e fóruns de discussão podem ajudar na escolha). Além disso, é papel da gestão pública fiscalizar os prestadores de serviços turísticos locais, concedendo ou não o alvará de funcionamento.

Sinais da natureza para se prestar atenção

=> Mesmo que não esteja chovendo no local onde você se encontra, as chuvas em outras áreas do rio podem causar o aumento no fluxo d’água, principalmente no verão. Além de observar se há nuvens na parte alta do rio ou da cachoeira, vale olhar a previsão do tempo antes de sair de casa, já que podem acontecer mudanças meteorológicas repentinas.
=> O aumento na correnteza e no nível da água também podem ser sinais de que uma cabeça d’água se aproxima.
=> É comum ouvir um estrondo antes do aumento do volume da água, sinal de que um grande volume se desprendeu.
=> Repare no que flutua ao seu redor: antes da chegada da cabeça d’água, é comum ver uma quantidade maior de galhos e folhas boiando no rio.

 

Uma prática comum entre as empresas de ecoturismo é fazer com que os clientes assinem termos de isenção de responsabilidade por eventuais acidentes. Del Vigna, da ABETA, afirma que tal ação é irregular. “A legislação não reconhece esse documento: o vendedor do passeio sempre é responsável pelo seu cliente”, explica. O que existe sim é o dever da empresa de informar o consumidor sobre os riscos do passeio, ter em seu quadro guias que estejam aptos para instruir sobre a atividade que será feita, conhecimento sobre a área onde opera e, a partir disso, criar planos de emergência para prevenir possíveis acidentes.

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Assim como em qualquer outro destino de ecoturismo do Brasil, isso vale para Capitólio, onde os operadores de lancha locais devem seguir as regras nacionais de segurança. O diretor da ABETA aponta que os visitantes tinham que estar informados sobre os riscos de fazer o passeio durante o período de chuvas e que os condutores deveriam ter deixado o local assim que aconteceu o aumento no volume de água da cachoeira.

Del Vigna também alerta para a necessidade de criar um sistema de segurança melhor para a região de Furnas. “Talvez delimitando a área de utilização dos barcos”, sugere. No mais, é preciso praticar o turismo de aventura consciente das imprevisibilidades da natureza e valorizar os profissionais da área que sejam devidamente qualificados.

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