São Paulo com chuva pode ser ótima para turistar
Um sábado de tempo feio, de fotos ruins, mas de grandes descobertas pelo Centro Histórico – e na melhor companhia
São Paulo não é uma cidade de encantos mil e muito menos óbvios, mas é especialmente difícil achar beleza nos dias cinzas e chuvosos, como o fim de semana que passou. A cidade inteira estava aliviada com a caída da temperatura depois de uma sucessão de dias em que o calor chegou a cozinhar os cabos subterrâneos de energia, causando apagão e caos na região central.
A chuva chegou com força na sexta-feira, tinha tudo para ser um fim de semana de livro e no máximo cinema, mas naquele dia minha melhor amiga que mora no Rio fez o que os melhores amigos deveriam fazer sempre: chegou sem avisar.
“Benedito Calixto?”, ela sugeriu. Feirinha e chuva não ornam. Vamos para o Centro. Combinamos de nos encontrar no Salão Dourado do Theatro Municipal, o lugar mais lindo de São Paulo para um café da manhã no fim de semana. Pedimos tostada com queijo de cabra e tomatinhos, café e panquecas americanas. Foi um café light e que depois se provou a melhor decisão pelo que estava por vir – não tínhamos plano algum, diga-se.
Prefeitura, Casa Godinho, Martinelli
Saímos daquela maravilhosidade e pegamos o rumo do Viaduto do Chá. “O que é aquela florestinha lá em cima”, minha amiga perguntou apontando para o prédio da Prefeitura. Foi aí que me dei conta que ela nunca tinha andado no centrão. Que alegria poder mostrar o que pra mim é a região mais interessante da cidade.
Guarda-chuvas ao alto e atravessamos o viaduto. Ela amou ver o Anhangabaú vazio e na sequência até tentamos a visita guiada ao terraço da Prefeitura, mas já estava lotada. Dobramos à esquerda na Líbero Badaró e ali mostrei o prédio do Espaço Alto, lugar que abrigou uma exposição de Anita Malfatti e que foi o pontapé para a Semana de Arte Moderna de 22. Hoje o espaço recebe vez ou outra exposições e eventos (um deles foi um pocket show da cantora Letrux).
Vimos por fora o majestoso edifício vizinho, o Sampaio Moreira, e entramos na Casa Godinho, o lindo empório que ocupa o térreo desde 1924. Já estava quase na hora de fechar e a famosa empadinha de bacalhau tinha acabado – e a nossa fome também era pouca.
Descemos mais um pouco até o Martinelli, que reabriu a visita ao terraço em comemoração aos 100 anos do edifício. A fila não tinha nem dez pessoas (repito: nem 10 pessoas!). Entramos e ganhamos um cartão (que só na saída descobri que era para registrar a consumação). O elevador é apertado, cabem seis pessoas mais a ascensorista, mas é uma subida rápida até o 26º andar. O espaço ganhou um bar com DJ, o visual do Centro é um arraso, mas o enquadramento mais interessante é o Farol Santander, o nosso Empire State e eterno Banespão.
SubAstor Bar do Cofre
Descemos e fomos espiar a entrada do Farol Santander e seu incrível lustre de 13 metros de altura e quase dez mil peças de cristal. Já tínhamos subido no Martinelli, a chuva não dava trégua, não veríamos nada lá de cima, seguimos.
Quando passamos pela porta do SubAstor Bar do Cofre, minha amiga saudosa do Astor de Ipanema tascou: “bora tomar um drink?” Descemos as escadas, fomos recebidos pela simpática Nicole que nos levou para uma mesa dentro do cofre. De novo, zero espera. Pedimos uma “besteira à milanesa”, que é um pão tostado, milanesa, queijo derretido e dividimos um drink.
O barato do cofre é estar cercado por centenas de portinhas e gavetas que agora ganharam um novo uso: clientes escrevem recados em guardanapos e jogam na gaveta como se fossem garrafas ao mar – com a possibilidade de um dia voltar e reler. Escrevemos os nossos votos e, claro, bisbilhotamos: muitas declarações de amor eterno, mas tinha um “Palmeiras não tem mundial”.
Casa de Francisca: saideira perfeita
Ganhamos a rua e fomos em busca da Casa de Francisca, que já se tornou o acontecimento do ano no Centro de São Paulo. A Casa sempre teve uma curadoria de shows impecável no primeiro andar e agora passou a ocupar o térreo do mesmo edifício, o magnífico Palacete Teresa. O novo bar, inaugurado em 8 de março, é um lugar que se abre para a cidade com toldos e mesas na calçada. E não para por aí.
Minha amiga perguntou para uma atendente se tinha um DJ tocando porque a música estava alta e ela recomendou: desce no porão pra ver a banda. Descemos. Céus, que lugar! O porão é outro novo espaço da Casa de Francisca para shows intimistas que acontecem em um palquinho – e o público senta em arquibancadas como as no salão do primeiro andar. Ou fica em pé e dança, como fizemos.
Eram umas 5 da tarde, a festa estava de vento em popa e quem tocava era o Sexteto Sucupira, que manda muito, mas muito bem: bandolim, sopros, contrabaixo, percussões, bateria. Naquele sábado de Lollapalooza, o show mais incrível da cidade acontecia em um porão para qualquer um que quisesse descer – e era quase um petit comité para os padrões paulistanos (confira a programação). Veja um trecho do show do Sucupira no vídeo abaixo:
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Outra inauguração ali no pedaço é a Tem Umami, sorveteria que abriu no Copan e já virou um fenômeno. Talvez alguém se pergunte, e a segurança? Vi carros de polícia em quase toda esquina, grupos fazendo ronda. Ainda era dia quando abrimos o guarda-chuva e deixamos o Centro, mas querendo mais. Volta logo, Pati. E, please, traga chuva.
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