Mochila Pride A jornalista Ludmilla Balduino leva na mochila uma vontade de percorrer o mundo ocupando as ruas, conhecendo o diferente, conversando com as pessoas e trocando boas ideias
5 lugares incríveis na América do Sul para fazer mochilão “roots”
Do Brasil ao Peru, cinco destinos que não são fáceis de explorar - seja pela localização remota, ou pela altitude que castiga - mas que valem a pena visitar
Por Ludmilla Balduino
Atualizado em 26 fev 2019, 15h49 - Publicado em 20 jan 2015, 23h24
Muitas vezes, viajar pelos lugares mais extraordinários da América do Sul requer um sentimento de mochileiro desapegado: em países com economia pouco desenvolvida, populações carentes de serviços básicos e marcadas por uma história de explorações desenfreadas, é raro encontrar estrutura turística para quem está acostumado a fazer mochilões ~fancy~ pela Europa.
Viajar pela América do Sul pode não ser uma boa ideia para quem gosta de conforto. É tarefa para os corações fortes. A seguir, listo cinco lugares que merecem ser conhecidos pelos olhos de quem tem o sentimento desapegado de um viajante que tem alma de mochileiro:
Prepare-se para caminhar muito. Em altitudes que vão fazer você perder o fôlego e quase ter uma pane no cérebro. Isso sem contar com o frio da região. Existem maneiras mais confortáveis de conhecer Machu Picchu – é possível pegar um trem de Cuzco até Aguas Calientes (o povoado-base para Machu Picchu, feio e sem muita estrutura para o turismo), e depois um ônibus que vai te deixar pertinho da cidade perdida dos incas. Alguns hotéis são um luxo que só. Mesmo assim, será preciso fazer um esforço pulmonar para caminhar pelas ruínas da cidade. Por isso, vá com um bom preparo físico e disposição de buda para enfrentar as adversidades.
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Para os atletas, há uma trilha estupenda de quatro dias. Isso quer dizer que: quanto mais pesarosa for a viagem a Machu Picchu, mais gratificante ela será.
Para conhecer o deserto de sal, os lagos e seus flamingos, os vulcões e as paisagens surreais da Bolívia, é preciso de, no mínimo, três dias de viagem num veículo 4×4 que parcamente isola a entrada de poeira. Junte a isso o som da música boliviana – normalmente, o guia faz uma seleção primorosa de folk music -; marmitas requentadas, de procedência duvidosa, que logo esfriam na ventania gélida e constante; a altitude capaz de pirar o cabeção; e os hotéis com limite de tempo para o banho – quando há banho disponível.
Mesmo assim vale a pena, minha gente. Eu já estive em Uyuni e é totalmente incrível. Com uma ajudinha da altitude, que faz você meditar sem nunca ter meditado, as paisagens parecem um delírio de viajante. A impressão é que pousamos nossa nave em algum planeta remoto e estamos passeando por uma região inóspita, intocada por qualquer ser vivo. Ah, e nos pacotes, os mochileiros têm direito a passar uma das noites num luxuoso e requintado (sqn) hotel de sal. Sim, as paredes são salgadas e ele é todo branquinho.
O Atacama é continuação do Uyuni, na Bolívia. O deserto, dividido entre os dois países, é mais famoso ali em San Pedro de Atacama, que oferece uma estrutura melhorzinha para o viajante do que a cidade-base de Uyuni, no altiplano boliviano.
Um passeio pelo Atacama pode até ser mais confortável do que pela Bolívia – os hotéis são mais parrudos -, mas nem tanto: é preciso estar preparado para ter dores de cabeça descomunais (principalmente para quem sofre com altitude – o meu caso), para chacoalhar por vários dias em um carro 4×4 no mesmo esquema de Uyuni, para dormir de qualquer jeito, para comer o que tiver e para ver cenários impressionantes. Tenho uma amiga maluca que fez trekking de bicicleta no Atacama. E se perdeu. Mas sobreviveu e me contou a história. Sim, o Atacama é para gente desse tipo. <3
Um frio de congelar a alma. Muito, muito silêncio – só entrecortado pelo assobio do vento ou pelo som dos animais. Um destino queridinho entre praticantes de turismo de aventura, a Patagônia é para quem aguenta. Para quem viaja na ânsia de fazer canoagem, escalada, trekking, windsurf, esqui, e tudo quanto é esporte viável por aquelas bandas.
O bom da Patagônia é que a estrutura hoteleira é boa. Depois de um dia praticando esportes malucos, vale a pena deitar numa cama confortável para recarregar as energias para o dia seguinte. A comida também é gostosa, nutritiva e saudável. Ponto para a Patagônia! Ah, e o lado chileno também tem uns hotéis chiquérrimos.
Não gosta de acampar? Então nem pense em conhecer o Monte Roraima. Estacionado na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, o monte é um anfitrião exigente: é preciso ter um belo preparo físico para fazer a trilha e um desapego material para dormir onde der, na umidade e no frio, dentro de uma barraquinha que protege, mas nem tanto.
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Para conhecer todas as belezas estonteantes do Monte Roraima, é preciso ficar ali no alto dos seus 2 734 metros de altitude, montando e desmontando barracas por pelo menos quatro dias.
Expedições normalmente saem de Boa Vista (RR) e duram 10 dias. Sim, são 10 dias comendo, dormindo, indo ao banheiro e caminhando no meio do mato. No meio da Floresta Amazônica. No meio de milhares de plantas e animais que só aquele bioma gigantesco pode abrigar, em meio a paisagens impressionantes que ninguém será capaz de esquecer.