Imagem Blog Brasis
Continua após publicidade

Um dia de caminhada pelo bairro do Recife Antigo

Passando por lenta revitalização desde os anos 90, área do porto do Recife abriga museus, lojas, centros culturais e até a mais antiga sinagoga das Américas

Por Fernando Leite
Atualizado em 10 ago 2018, 17h28 - Publicado em 23 fev 2017, 16h49

Pertenço ao time que gosta de conhecer os lugares – especialmente os centros históricos – caminhando bastante. As cores e formas das construções, o jeito de andar do povo, as figuraças que você topa pelas ruas, o cheiro: tudo fica mais nítido. Há o risco de ser assaltado? Sim, sempre, mas a gente vive para correr riscos, né!

Toda essa introdução para dizer que o assunto desse post é uma caminhadinha básica por um lugar que gosto muito e sempre me falam para não marcar bobeira: o Recife Antigo, na região central da “Veneza Brasileira” (um dos apelidos mais nada a ver que existem, só para deixar registrado).

Sede do porto de Recife, o bairro passa por uma lenta revitalização que deixa a sensação de não ter fim. Todo o desenvolvimento feito pelos holandeses e portugueses foi por água abaixo com a chegada do Porto de Suape, nos anos 80, transferindo grande parte da economia para outro canto da costa pernambucana.

O turismo acaba agradecendo, afinal, os palacetes e sobrados viraram centros culturais, os armazéns transformaram-se em lojas e museus. Isso posto, bora caminhar? Pode ficar tranquilo, tudo é muito próximo, não deve dar nem um quilômetro de andança. Também não vale a pena fazer o roteiro às segundas-feiras, quando várias atrações fecham.

Não há nome mais sugestivo para começar senão o Marco Zero. Oficialmente chamado de Praça Barão do Rio Branco, é um calçadão frente-mar com um enorme painel colorido no chão, sinalizando uma rosa dos ventos.

Continua após a publicidade

De lá se avista o dique onde está o Parque de Esculturas Francisco Brennand, com 90 esculturas do visionário artista plástico. Se quiser ver as obras mais de perto, barqueiros levam até lá cobrando R$ 5 pela travessia.

Literalmente ao lado do Marco Zero, o Centro do Artesanato de Pernambuco ocupa um dos antigos armazéns do porto. A organização é impecável, todo setorizado, com monitores a te auxiliar nas compras. Tem de tudo por lá: a banda de pífanos, as galinhas d’angola que são símbolo de Porto de Galinhas, rendas, bordados, arte sacra…

Centro de Artesanato de Pernambuco - Bezerros (PE)
O mais genuíno artesanato produzido no estado é encontrado no Centro de Artesanato Pernambucano (Reprodução/Facebook)

Atravessando a Avenida Alfredo Lisboa, sempre há boas exposições na Caixa Cultural Recife, num palacete de 1912.

Continua após a publicidade

Falemos a verdade, não caminhou nada até agora, né! Siga para a Rua Bom Jesus, primeira paralela da Alfredo Lisboa. O logradouro mais charmoso do Recife Antigo tem sobrados coloridos e calçamento de paralelepípedos com o antigo trilho dos bondes. Domingo à tarde ainda rola uma concorrida feirinha de artesanato.

Na Rua do Bom Jesus, ficam a mais antiga sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel (fechada às segundas e sábados e no domingo funciona somente à tarde) e a Embaixada dos Bonecos Gigantes que guarda os personagens principais do carnaval olindense – apesar do rico acervo, devido ao espaço, apenas 60 peças são expostas.

Sinagoga Kahal Zur Israel, na Rua do Bom Jesus: a mais antiga das Américas
Sinagoga Kahal Zur Israel, na Rua do Bom Jesus: a mais antiga das Américas (Pedro P.Palazzo/Wikimedia Commons)

Numa altura dessas do passeio, a fome já deve ter dado algum sinal. Se for num dia de semana, siga até a Praça do Arsenal da Marinha, ali do ladinho.

Continua após a publicidade

Seu endereço é As Galerias, uma lanchonete tombada como Patrimônio Cultural, Gastronômico e Imaterial de Recife. Tudo por causa de uma vigorosa bebida criada no local, o maltado, feita com sorvete de creme, leite maltado e malte de cacau batidos.

Para acompanhar, sandubas ou o bolinho cubano, de trigo e coberto com malte de cacau, castanha e amendoim.

Nos fins de semana e se a fome for maior, tem que se deslocar um pouco mais, até o Shopping Paço Alfândega, com praça de alimentação e o restaurante La Douane, de pegada mediterrânea.

+ Os 11 lugares mais coloridos do Brasil

Continua após a publicidade
Lanchonete As Galerias, em Recife, Pernambuco
Interior da As Galerias, em Recife, Pernambuco. O local é conhecido pelo maltado, bebida refrescante e tradicional na lanchonete (Juliano da Hora/Dedoc Abril)

Deixamos o período vespertino para as duas joias da coroa do Recife Antigo. Quem provou o maltado em As Galerias, basta atravessar a rua para chegar ao Paço do Frevo, um espaço cultural que irá sanar todas as suas dúvidas sobre o ritmo.

No térreo, uma inusitada linha do tempo é apresentada através de livros pendurados, contado a evolução de frevo ano a ano com uma riqueza de detalhes que até cansa.

Porém, o melhor está no último e panorâmico andar, onde, no anfiteatro, há shows e se vê o Rio Capibaribe e o mar através dos vidros, que ainda exibem as letras dos frevos mais famosos.

Continua após a publicidade
Museu Cais do Sertão, Recife, PE
Fechando um dia intenso de caminhada, o interativo Museu Cais do Sertão (Divulgação/Divulgação)

Para fechar com chave de ouro – e tem que ser por volta das 15h30, 16h – uma grande homenagem ao povo e à cultura do sertão. Curiosamente à beira-mar.

Instalado em um antigo armazém portuário, o Cais do Sertão surfa nessa onda de museu interativo, apresentando muitos audiovisuais e bela cenografia.

Claro que, se o assunto é a vida do sertanejo, o Rio São Francisco e Luiz Gonzaga não podem ficar de fora. No segundo andar, há cabines individuais de karaokê – pode ficar sossegado que ninguém vai te ouvir desafinar os clássicos do forró.

Publicidade