As cidades coloniais espanholas pulverizadas pela América Latina podem até ter muito em comum: a arquitetura, as ruas de pedras e paralelepípedos, aquele charme europeu que tantos valorizamos no chamado Novo Mundo. No entanto, sem querer desmerecer as Granadas e Antiguas da vida, Oaxaca, no sul do México (cerca de seis horas da capital de carro, se tudo der muito certo), é difícil de bater.
A imponência de seus edifícios é capaz de fazer tremer os alicerces de uma Santiago de Compostela. Seu principal centro cultural, o Museo de las Culturas de Oaxaca, que repassa a história do estado de Oaxaca e das civilizações ancestrais que floresceram no território mexicano, é um dos melhores do país e não faz feio diante das mais sólidas instituições europeias. Tanto pelo acervo, que traz peças de mais de 2 mil anos de idade (entre elas tesouros espetaculares encontrados em escavações na região), quanto pelo cenário, o mosteiro de Santo Domingo, anexo à apoteótica igreja do mesmo nome, uma joia do barroco.
E se a essas alturas você já está babando, segure-se na cadeira. Oaxaca pode ser considerada a capital gastronômica do México. E isso não é pouca coisa num país onde a comida é sen-sa-cio-nal e milhares de vezes mais variada do que supõem os restaurantes tex-mex espalhados como praga pelo mundo, simulacros paupérrimos um universo feito de especiarias, pimentas e muitos outros sabores com os quais grande parte da humanidade nem sequer sonha. Pelos corredores estreitíssimos de seu mercado central escondem-se barraquinhas de comida onde são servidos manjares dos deuses por preços irrisórios: almoça-se tranqüilamente com 3 dólares. À noite, com um pouco mais, também é possível provar interpretações mais sofisticadas dessa gastronomia em restaurantes badalados e charmosíssimos.
Grande parte do charme e dos sabores oaxaqueños vem da cultura zapoteca, uma civilização que ergueu nos arredores da cidade, no Monte Albán, uma cidade cujas ruínas seguem firmes e fortes observando Oaxaca de cima da colina de 1900 metros de altura. Os descendentes diretos desse povo que ocupou a região desde 500 a.C. ainda circulam pela cidade, com seus trajes típicos, seus cabelos recolhidos em tranças e seus dialetos. São, com sua baixa estatura e olhos puxados, parte fundamental com esse lugar que, por falta de definição mais precisa, chamarei de absolutamente mágico.
Siga @drisetti no Twitter