Como é viver em uma ilha sem coronavírus
Menorca, na Espanha, não tem casos de covid-19 há 40 dias
Nesta terça-feria (16), Menorca completou 40 dias sem nenhum caso de coronavírus. Localizada no arquipélago das Baleares, na Espanha, a vizinha de Maiorca e Ibiza registrou 92 casos positivos de covid-19 e 12 óbitos desde o início da pandemia. Mas, atualmente, só há uma pessoa doente internada na ilha – e ela já saiu da UTI.
Quando a quarentena foi decretada na Espanha, em 14 de março, eu estava em Barcelona. E foi lá que fiquei confinada, ainda que minha condição de residente oficial em Menorca tivesse me permitido viajar para a ilha, mesmo durante o estado de emergência (que estará vigente até segunda-feira, 22 de junho). Ciente do risco de “fugir” de uma zona muito mais afetada, preferi esperar até o início do desconfinamento para fazer valer o meu direito de moradora. Então, só voltei para cá no final de maio, depois de dois meses de quarentena rígida.
Voar em plena pandemia foi estranho do início ao fim, começando por encontrar o aeroporto de Barcelona completamente deserto. Para conseguir embarcar, precisei mostrar o meu certificado de residente em três controles diferentes – e mais uma vez ao aterrissar aqui. Também foi necessário preencher um formulário com meus dados de saúde e passar por uma breve entrevista com um médico, que mediu a minha temperatura. Uma vez liberada, coloquei-me em quarentena voluntária por duas semanas adicionais, até me sentir no direito pleno de entrar na vibe muito mais relaxada que se vive por aqui.
O uso de máscara é obrigatório nas ruas em toda a Espanha, quando é impossível manter uma distância de dois metros entre as pessoas. Aqui, porém, só chega perto de alguém quem realmente quer, já que as cidadezinhas são pequenas e tranquilas. Vivendo em um bairro afastado do centrinho de Ciutadella, eu praticamente só vejo pessoas mascaradas quando vou ao supermercado, onde o uso é compulsório – mas nem todo mundo cumpre, diga-se. Em Barcelona, isso seria impensável. Mas aqui, depois de 40 dias sem contágios e com a ilha fechada, a verdade é que as pessoas realmente vão mudando o chip.
Mesmo tendo registrado menos de uma centena de casos, Menorca cumpriu uma quarentena tão rígida quanto o resto da Espanha. Mas, uma vez iniciado o processo de desconfinamento, os menorquinos estão vivendo uma espécie de shangri-lá. É quase verão, a ilha está fechada para “forasteiros” e grande parte da população, que depende do turismo, está temporariamente desocupada… Mesmo sabendo que as consequências econômicas dessa situação serão nefastas, a maioria está no modo carpe diem, aproveitando a ilha como nunca.
Mesmo com a epidemia sob controle, as praias menorquinas só abriram três semanas atrás. Ao contrário do que acontece em outras regiões da Espanha, onde as areias estão sendo repartidas em lotes e há controle no acesso, aqui a regra é o bom senso. Na entrada das praias, um pequeno cartaz indica aquilo que estamos cansados de saber: é preciso manter distância de dois metros entre cada grupo e evitar aglomerações. Em uma ilha que tem 75 praias para 96 mil habitantes, isso não tem sido um problema, até porque o que os menorquinos realmente curtem é um bom piquenique nos bosques que cercam as praias virgens.
No último fim de semana, presenciei o maior festival de piquenique da história recente de Menorca. Nos bosques de Son Saura e La Vall, famílias e numerosos grupos de amigos fizeram valer a grande novidade da fase 3 do desconfinamento, que é a permissão para reuniões de até 20 pessoas. Eles levam mesas, cadeiras, redes, toneladas de comida e bebida e passam o dia lá, felizes da vida (dá gosto de ver a felicidade das pessoas!).
A partir da segunda-feira que vem, quando Menorca estará oficialmente aberta ao turismo, o governo das Ilhas Baleares seguirá apostando na mesma fórmula da responsabilidade individual para a divisão de território na praia, confiante de que o baixo número de turistas esperados para este ano permitirá manter esse acordo de cavalheiros nas areias do arquipélago. Veremos…