Por Mirela Mazzola
É em São Bento do Sapucaí, simpática cidadezinha do interior, que fica um dos principais cartões-postais da Serra da Mantiqueira: a Pedra do Baú, formação rochosa a 1950 metros de altitude que inclui ainda as pedras do Bauzinho e Ana Chata. Indicada aos mais aventureiros, a subida até o cume também é um passeio procurado por quem visita as vizinhas Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal.
Mas o encanto de São Bento não se resume às três pedras: o Centro tem ruas pacatas e pracinhas agradáveis, que no Carnaval se enchem de foliões atrás dos bonecos gigantes do tradicional Bloco do Zé Pereira. No resto do ano, a regra é curtir um friozinho nas boas pousadas dos arredores – a propósito, o clima da montanha favorece a criação de truta, principal ingrediente dos restaurantes da cidade. Outro atrativo, o bom artesanato local privilegia materiais vindos da terra, como madeira, fibra de bananeira, palha de milho e cerâmica.
QUANDO IR
Como a maior parte dos destinos de serra, São Bento tende a ficar mais cara no inverno (o tempo firme nessa época também contribui para a subida à Pedra da Baú). Nos 30 dias que antecedem o Carnaval até o início da festa, a cidadezinha também é procurada graças ao tradicional Bloco do Zé Pereira, que se apresenta todas as noites com seus bonecos gigantes. No resto do ano, as diárias ficam mais baratas e o clima da montanha mantém as temperaturas amenas.
COMO CHEGAR
Saindo de São Paulo, o caminho mais rápido é pelo sistema Ayrton Senna-Carvalho Pinto (SP-070), mas quem opta pela Dutra (BR-116) evita dois pedágios. Na altura de Taubaté, é preciso acessar a cênica Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123) e subir até a SP-046, que continua em Minas Gerais como MG-173, até chegar a São Bento.
COMO CIRCULAR
A cidade é margeada pela SP-050: à direita, principalmente no bairro do Quilombo, está a maior parte das pousadas e alguns ateliês. À esquerda, concentradas no bairro Serrano, há mais algumas hospedagens. Na Estrada do Paiol Grande, sentido Campos do Jordão, fica o acesso para a Pedra do Bauzinho, que dará acesso à do Baú. Já a região central da cidade concentra as lojas de artesanato.
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O QUE FAZER
Cartão-postal da Mantiqueira
Na divisa com Minas Gerais, São Bento do Sapucaí está cercada de morros, cobertos por mata nativa e araucárias. A cidade também abriga uma das maiores atrações da região, o complexo da Pedra do Baú. A partir do km 18 da estrada para Campos do Jordão, são 6 km de terra para chegar ao estacionamento. Até o primeiro pico, o Bauzinho (a 1 760m), são apenas dez minutos de trilha fácil. Do mesmo estacionamento é possível caminhar por 1h30 (só ida) até a Pedra Ana Chata (1670 m) – passeio que é recomendável se fazer com guia.
Já o cume da Pedra do Baú exige bom preparo físico e acompanhamento de guia – para encarar o desafio é preciso caminhar uma hora e então escalar 300 degraus (grampos de ferro presos na pedra). O site da prefeitura tem uma lista de monitores e agências credenciadas, que também promovem atividades como cascading (rapel em cachoeira) e trilhas, a exemplo da Volta do Quilombo, que percorre 12 km pelas montanhas da Mantiqueira.
Assista a um vídeo que a Nepal Montanhismo fez da subida até o cume da Pedra do Baú:
Cultura e artesanato
A vida no campo e a cultura tropeira são marcas do artesanato local (o site da prefeitura mantém uma relação de endereços). O Espaço Arte no Quilombo reúne o trabalho de mais de 80 artesãos da região, que produzem peças decorativas e utilitárias a partir de palha de bananeira, palha de milho, bambu, madeira, barro e tecido. Ali pertinho, aproveite para visitar o Museu do Carro de Boi Quim Costa, que homenageia o mestre carreiro regional Joaquim Pereira da Costa, que morreu em 2014. O espaço abriga um acervo de antigos carros de boi construídos por ele, ferramentas e maquinários, além da réplica de sua casa. O ateliê de Ditinho Joana, que faz esculturas de madeira que representam cenas rurais, é um verdadeiro ponto turístico. O artista, que passou a infância no Bairro do Quilombo, tem sempre uma boa história para contar – as esculturas de botinas velhas, que simbolizam o homem do campo, são uma marca de seu trabalho.
Claudia Mattos, da Nakawe Tecidos, se inspira na arte indígena para tingir peças de algodão como colchas, caminhos de mesa, luminárias e painéis. Alguns pigmentos são elaborados à base de urucum, cúrcuma e pinhão.
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Mosaicos compõem cenas da natureza, imagens de São Francisco e igrejinhas no trabalho de Nico Ferrera. O artista usa azulejo, cerâmica e madeira para criar quadros, vasos, tampos de mesa e fundos de pia alegres e coloridos. O mosaico também é a técnica usada na capelinha da Rua 13 de Maio, reformada pelos artistas Ângelo Milani e Claudia Villar. Trata-se de uma referência à antiga tradição dos moradores da Mantiqueira, que homenageavam entes queridos falecidos construindo pequenas capelas (o lugar normalmente abre aos fins de semana).
Desde 2020, os bonecos gigantes do Bloco Zé Pereira podem ser vistos mesmo fora do período do Carnaval no Museu do Zé Pereira, que fica dentro do Mercado Municipal.
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Turismo rural e gastronômico
São Bento do Sapucaí guarda a vinícola Villa Santa Maria, que organiza visitas guiadas e degustações dos vinhos Brandina — o restaurante da casa é especializado em bruschettas. No Entrevilas, é possível conhecer tanto a vinícola, que produz vinhos artesanais, quanto o pomar, onde são cultivadas frutas vermelhas (com destaque para as framboesas) e lúpulo. Outra opção é visitar a Oliq: o tour passa pelas oliveiras, mostra os processos de colheita e produção e permite provar os azeites extravirgens da casa.
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ONDE FICAR
São Bento tem hospedagens na medida para casais, mas também alternativas de lazer para famílias com crianças. As pousadas estão concentradas nos bairros do Quilombo, Serrano e na Estrada do Paiol Grande, que leva a Campos do Jordão. A Pousada do Quilombo tem quartos confortáveis, com lareira, varanda e camas king-size, além de área de lazer com piscina ampla, tirolesa e trilhas. Nos chalés da Vila Kaapora, próxima a trilha da Pedra Ana Chata, a decoração é caprichada e há uma unidade com dois dormitórios, para acomodar famílias ou grupos de amigos. O café da manhã é preparado com ovos caipiras e ingredientes orgânicos cultivados na propriedade.
Quem se hospeda no Refúgio Mantiqueira não precisa sair da pousada para tomar banho de cachoeira – há uma queda e um riacho próximos à sede da propriedade. Todos os aconchegantes chalés têm cama king-size, lareira e aquecedor de toalhas. O charme rústico das unidades da Pousada Canto da Lua muito se deve ao tijolo aparente, à lareira e ao mobiliário de madeira. Na área externa, há piscina aquecida e sauna. Boa alternativa no Centro, a Villa da Montanha tem piscina rodeada por um gostoso jardim e chalés no estilo alpino – alguns com hidro.
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ONDE COMER
A vista para a Serra da Mantiqueira é um bônus nos restaurantes da região. No salão rústico do Tatini, no município vizinho de Sapucaí-Mirim (a 9 km de São Bento), é servido um menu-degustação que depende dos ingredientes frescos do dia, como truta, coelho, pato, cogumelos e vegetais, colhidos na horta própria. Um gostoso avarandado com vista para a mata é o salão do Trincheira, que também serve não-hóspedes na Pousada da Quilombo. O menu variado lista carnes, massas, trutas e fondues. O ambiente simples e caseiro da Cantina do Tio Giuseppe, com toalhas xadrez nas mesas, é o cenário para refeições tipicamente italianas, como espaguete com porpeta e lasanha. O toque regional fica por conta do nhoque ao molho de gorgonzola com truta grelhada. O peixe é o carro-chefe no Ecoparque Pesca na Montanha, onde há um trutário que abastece o restaurante. Na Bauzera, as cervejas artesanais acompanham quiches e bruschettas.
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SUGESTÃO DE ROTEIRO
Em um fim de semana é possível explorar as principais atrações de São Bento do Sapucaí: o complexo da Pedra do Baú, os ateliês e as lojas de artesanato. O sábado pode começar rumo à Estrada do Paiol Grande, que leva à pedra – os mais aventureiros e preparados fisicamente terão agendado a escalada em uma das agências da cidade. Quem prefere uma caminhada mais tranquila ou está com as crianças não deixa de apreciar a linda vista da Mantiqueira: basta deixar o carro no estacionamento e seguir até a Pedra do Bauzinho ou da Ana Chata, com acesso mais fácil. Alternativa para quem está em família, o Ecoparque Pesca na Montanha tem atividades como pesca de truta, tirolesa e circuito de arvorismo – o almoço pode ser lá mesmo, já que o parque abriga um restaurante que serve os peixes criados no trutário. À noite, uma opção para o jantar é o restaurante Trincheira (como pertence à Pousada do Quilombo, melhor ligar antes se não estiver hospedado).
Domingo dá para aproveitar os últimos momentos na pousada até o check-out. Depois, vale partir para Espaço Arte no Quilombo, que reúne o trabalho dos artesãos da região, e visitar o Museu do Carro de Boi Quim Costa, principalmente se você se interessa pela cultura caipira. No mesmo bairro está o ateliê Ditinho Joana, que também merece uma visita – com sorte, você troca uma prosa com o próprio artista. Antes de descer a serra, passe no Centro para conhecer a Igreja Matriz, a capelinha de mosaico e as lojas de artesanato das redondezas, como a do mosaicista Nico Ferrera, que usa materiais diversos, como azulejo, cerâmica e madeira, para criar suas peças.
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VT RECOMENDA
Nem só de pousadas românticas e programas a dois vive São Bento do Sapucaí: o Ecoparque Pesca na Montanha, na estrada para Campos do Jordão (são 18 km do centro de ambas as cidades), oferece atividades para famílias com crianças. Na área de 500 mil metros quadrados de mata nativa se distribuem trilhas, quedas d’água, circuito de arvorismo, tirolesa de 750m, arco e flecha e campo de minigolfe. Mas o grande atrativo, como o nome sugere, são os lagos de criação de trutas: os peixes frescos abastecem o restaurante, mas também podem ser pescados pelos visitantes e levados para a casa (é cobrado um valor por quilo). O lugar abriga ainda alguns chalés para hospedagem, com bonita vista para a mata. Não-hóspedes pagam uma entrada e as atividades são cobradas à parte.
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