Bonito, no Mato Grosso do Sul, está entre os destinos brasileiros que mais souberam aliar turismo a preservação ambiental. Como as atrações naturais são muitas, exigem mais interação do que contemplação e estão distantes da cidade, é preciso se planejar. A organização que foi criada em torno do voucher único, vendido pelas operadoras de turismo locais, ajuda um tanto: cada lugar possui um limite de visitantes por dia para que todos possam fazer seus passeios tranquilamente. A seguir, sugerimos como aproveitar o destino em cinco dias de adrenalina, contemplação e, se você tiver sorte, uma revoada de araras para ficar na história.
Dia 1 – Passeio de bote e Taboa
Aceita um gole de Taboa? A cachaça local que dá nome também a um dos bares mais concorridos da cidade pode vir a calhar na hora de encarar o passeio de bote pelo Rio Formoso, que por uma hora e meia passa por duas corredeiras e três cachoeiras, com direito a macacos-prego nos observando das árvores e banho no final. No desembarque, na Ilha do Padre, há locais para descansar pelo resto do dia.
Eu escolhi o Balneário do Sol por estar próximo às margens do rio e pela infraestrutura oferecida. Um macaco roubou um pedaço de pão do meu almoço enquanto eu fotografava um parente dele – será que era um truque? A propósito, a Taboa leva mel, canela, guaraná em pó. E, à noite, no bar de Andréa Fontoura, que inventou a mistura, tem música ao vivo. Um bom fecho para o primeiro dia – só não se anime muito, pois em Bonito é preciso acordar cedo.
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Dia 2 – Pegando no breu
Boca da Onça é a maior cachoeira do Mato Grosso do Sul, com 157 metros de queda. A atração está a 65 quilômetros (metade por estrada de terra) de Bonito e é acessível por uma trilha de 4 quilômetros (3h30) que passa por dez cachoeiras bem bonitas também, como a Buraco do Macaco. Um cenário, com o perdão da redundância, cênico.
Se você tiver coragem, pode encarar um rapel de 90 metros de altura no meio do nada com vista do Cânion do Rio Salobra. Tome fôlego enquanto aprecia as belezas naturais, pois o retorno ainda vai exigir um gasto de energia, já que é preciso voltar por uma escada de quase mil degraus ou caminhar por 40 minutos.
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De volta à cidade, a sua única missão deve ser decidir a qual dos dois melhores restaurantes da cidade você vai. Eu fui à Casa do João. Para abrir os trabalhos, jacaré aperitivo. Depois, pedi traíra sem espinha, muito saborosa. Se por ali aparecer dona Margarida, uma encantadora senhora de traços alemães, experimente os bombons com recheio de frutas regionais, como jaracatiá e umbu. Se não, de dia ela pode ser encontrada em sua loja, no centro de Bonito.
Dia 3 – Estalactite, estalagmite
O guia anunciou: “Vocês vão ter uma aula de história”. Em um casarão, pude observar o céu muito azul, um gramado verde impecável e araras-vermelhas. Difícil imaginar um local melhor para a aula. Era a introdução, em vídeo, ao passeio pela Gruta de São Miguel. Segui uma trilha por uma ponte suspensa de madeira rumo àquele mundo onde o sol não dá o ar da graça. Na entrada, descobri a diferença entre estalactites e estalagmites (estas brotam do solo, aquelas pendem do teto). Anfitriões famosos me receberam, como a coruja suindara e alguns morcegos.
Depois da aula, embarcamos numa van rumo à famosa Gruta do Lago Azul, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e cujo lago exibe um tom de azul… azul demais. A profundidade do lago é desconhecida, mas 87 metros são o máximo que um destemido mergulhador já alcançou.
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De volta a Bonito, ainda deu para fazer boia cross no Rio Formoso – passeio que dá o maior fio na barriga, ainda mais se incluir a ilustre visita de uma sucuri (a cobra dificilmente se aproxima das pessoas, mas daquela passamos perto).
A casualidade do encontro ajudou na decisão de visitar, às 19h, o Projeto Jiboia. A atração é tocada por Henrique Naufal, que mantém ali cerca de 20 cobras, entre jiboias e pítons. Ao término da palestra tive coragem de tirar uma foto com Figueira, jiboia de nove anos e respeitável 1,95 metro de comprimento, toda ela em volta do meu pescoço. Meu coração bateu forte, e não resisti: lasquei um beijo nela, sob o olhar de reprovação do Henrique, que me advertiu para não repetir aquilo, já que eu poderia passar doenças para a cobra (e não o contrário!).
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Dia 4 – Abismo e cavalos
Apenas 19 quilômetros de terra separam o centro da cidade do Abismo Anhumas, mas, para você descer os 72 metros que existem entre a entrada no terreno e a caverna, é preciso fazer rapel – felizmente, há um motorzinho que ajuda no processo. Por lá você pode ainda fazer mergulho autônomo, com cilindro, dentro da caverna. O preço é uma paulada, mas trata-se da maior caverna submersa do mundo.
Ao chegar, o que se vê é apenas uma fenda no solo. Mais dois metros e então o nome “abismo” faz sentido. 72 metros depois vêm o lago cristalino e a verdadeira viagem ao centro da terra. Quem fizer o mergulho consegue ver cones de rocha de até 20 metros de altura submersos.
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Muito radical? A tarde pode ser bem agradável na Estância Mimosa, que serve almoço preparado no fogão a lenha – redes estarão esperando você para a sesta. Refeito, você pode ainda conhecer algumas das sete cachoeiras – uma delas com plataforma de seis metros para salto. Terminei o dia ali mesmo, com uma cavalgada no meio da vegetação verdinha, o sol se pondo por trás das montanhas.
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Dia 5 – Jardins de Jardim
A viagem aqui é um pouco mais longa. São cerca de 50 quilômetros até o município de Jardim, onde estão outras famosas atrações que Bonito “importou”. Com a maior variedade de peixes da região, a flutuação no cristalino Rio da Prata leva duas horas. Uma missão muito possível. Entrei no aquário natural com meu modelito de neoprene, máscara e snorkel, pronta para o que viesse. Grupos de dourados, pacus e pintados gigantes desfilavam sem cerimônia para minha câmera.
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Em Jardim também está o Buraco das Araras, onde o grande barato é contemplar o sobrevoo das araras-canindé e vermelhas. O buraco tem 160 metros de diâmetro e a distância do solo é de 120 metros (algo como um prédio de 40 andares).
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Por fim, a outra grande atração da cidade é a Lagoa Misteriosa, que tem profundidade desconhecida (um mergulhador já chegou a 220 metros, mas não é preciso ir tão fundo para curtir). Entre abril e outubro, a visibilidade vai a 50 metros. A carioca Roberta Mello, ao terminar a flutuação, sintetizou: “Tive a sensação de estar voando”.
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