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Roteiros em Portugal: de Lisboa a Fatima e pelo Douro

Dois roteiros de carro por Portugal: um de Lisboa a Fátima, passando por Óbidos e Batalha, e o outro ao longo do Rio Douro e suas dezenas de caves

Por Ricardo Henriques
Atualizado em 31 out 2022, 13h41 - Publicado em 4 jun 2012, 18h13

Você não precisa ser devoto de primeira hora de Nossa Senhora de Fátima nem um especialista em vinhos para aproveitar estes dois roteiros de carro por Portugal. De Lisboa a Fátima, o itinerário envolve lugares como Óbidos e Batalha, onde estão alguns dos monumentos históricos mais importantes de Portugal. E, no roteiro ao longo do Douro, há também ótima gastronomia e os belíssimos cenários que o famoso rio português desenha, já que a linda estrada segue sempre à sua margem.

De Lisboa a Fátima

Esse curto trajeto pode ser feito tranquilamente em um dia de viagem. Ele passa por alguns dos mais importantes monumentos históricos do país – prepare-se para se defrontar com uma plêiade de heróis, estilos arquitetônicos rebuscados (como o manuelino, o estilo português por excelência), envolventes histórias de amor. As glóglórias de Portugal, afinal, vêm do passado. A meta é Fátima, o mais importante santuário mariano do mundo, mas no caminho também existem vilarejos medievais, bons restaurantes e um lugar para ser tratado a pão de ló – literalmente. Ou seja, dá para agradar da sogra carola ao filho emo. Deixe Lisboa na direção de Loures. Mais ao norte começa a Rodovia A-8, que vai levá-lo às principais cidades desse roteiro. Antes de tomá-la, contudo, faça um desvio até Mafa, a 39 quilômetros de Lisboa, para ver o Palácio Nacional de Mafra (Terreiro de Dom João 5º, 261/817-550, 2ª e 4ª/dom 10h/17h30; € 6). Além do palácio, há um convento e uma basílica. O complexo envolveu o trabalho de 45 mil artesãos e o concurso de muito ouro de Minas Gerais. A propriedade tem 40 mil metros quadrados e uma fachada que se estende por 220 metros (o comprimento de dois campos de futebol). Sua construção, no século 18, foi minuciosamente descrita pelo escritor José Saramago no livro Memorial do Convento.

De volta à A-8, prepare-se para conhecer Óbidos. Dentro de uma muralha do século 14 encabeçada por um castelo de cinema, casinhas brancas de janelas e portas azuis se espalham por duas ruas principais e um aglomerado de vielas. Esse cenário de conto de fadas era também de reis e rainhas: Óbidos foi dado como presente de casamento por dom Dinis a Isabel de Aragão, no século 13. Existem várias igrejas lá, como a de Santa Maria, que já existia antes da conquista de Óbidos aos mouros e foi reconstruída no século 16. Deixando de lado a devoção, tome uma ginjinha, a saborosa especialidade local (licor de ginja, uma espécie de cereja). A estrela é a “ginjinha com elas” – elas são as frutas, que vêm inteiras dentro da garrafa. Aberto o apetite, duas sugestões para o almoço: a Ilustre Casa de Ramiro (Rua da Porta do Vale, 262/959-194; Cc: A, D, M, V), que é mais do que um trocadilho da famosa obra de Eça de Queiroz, vide seu charmoso ar medieval, o bom arroz de pato e a espetada de cherne. Já o Alcaide (Rua Direita, 60, 262/959-220, restaurantealcaide.com; Cc: A, M, V) tem pato com laranja, bacalhau e outros pratos.

De novo na A-8, fique atento às placas que indicam a feguesia de Alfeizerão. O lugar é perfeito para provar – e comprar – uma obra-prima de sabor divino, exemplo maior da chamada “doçaria conventual”, o pão de ló. A Casa Pão de Ló (Largo Pão de Ló, 3, 262/999-558, casapaolo.pai.pt), fundada em 1923, tem esses quase 90 anos dedicados à produção da iguaria, mas também vende queijadas, pastéis de Belém, suspiros. Aproveite então a pequenina distância que separa Alfeizerão de São Martinho do Porto, onde você terá uma vista espetacular do Atlântico. Volte à A-8 pelo mesmo caminho, tome o rumo norte e já se prepare para deixá-la novamente quando surgirem as indicações de Alcobaça. Na cidade fica o Mosteiro de Santa Maria (Praça 25 de Abril, 262/505-120, mosteiroalcobaca.pt; 9h/19h; € 6), a primeira construção 100% gótica em território português, onde estão as tumbas de Pedro 1º (não o que declarou a independência do Brasil, que em Portugal é Pedro 4o) e Inês de Castro, aquela da história de amor trágica que acabou por legar à posteridade a fase “Agora Inês é morta”. Siga novamente no rumo norte, em direção a Leiria. No caminho está Batalha, local de um dos grandes monumentos de Portugal, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Praça Mouzinho de Albuquerque, 244/765-497, mosteirobatalha.pt; € 6), com as características arcadas do claustro trançadas. O mosteiro foi erguido a mando de dom João 1o, em agradecimento à própria Virgem Maria pela vitória na Batalha de Aljubarrota, em 1385, quando os portugueses se livraram do jugo de Castela.

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Pouco antes de chegar a Leiria, tome a direção de Pousos e da estrada A-1, na qual você seguirá no rumo de Fátima e Lisboa. A capital religiosa de Portugal se assenta sobre um povoado que remonta à época da dominação árabe na Península Ibérica, há mais de mil anos. Seu nome deve-se provavelmente à filha de Maomé e Cadija. Em 1917, com as supostas aparições de Nossa Senhora para os três pastorinhos locais, o lugar ganhou a atenção de todo o mundo cristão. Elas teriam ocorrido todo dia 13, entre maio e outubro, o que, junto com o chamado “milagre dosol” – o sol bailou, como se disse –, começou a levar multidões à região. Décadas mais tarde, Fátima extrapolou as fonteiras portuguesas e se tornou um dos locais de culto mariano que mais devotos atraem, tanto de católicos como de outras religiões. Inaugurada em 2007, a nova Igreja da Santíssima Trindade foi concebida pelo arquiteto gregoAlexandros Tombazis com capacidade para abrigar até 5 mil fiéis. A Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e a Capelinha das Aparições completam a trindade do que há para ver por lá.

Na volta a Lisboa, se você ainda estiver disposto, faça um desvio de cerca de 40 quilômetros para Tomar. O Convento de Cristo (249/313-481, conventocristo.pt; 9h/19h; € 6) foi erguido em 1160 pelos cavaleiros da Ordem dos Templários, à qual pertenceu também Pedro Álvares Cabral. Seu oratório dourado, repleto de pinturas e afescos, além da janela manuelina com motivos marítimos, pode levar o visitante a concluir que, em Portugal, patrimônio religioso e artístico são indistinguíveis.

Ao longo do Douro

É difícil viajar pelo interior de Portugal e não passar por ao menos uma herdade ou uma quinta produtora de vinho. Elas aparecem de norte a sul desse país queé, territorialmente, menor do que Pernambuco. O Douro vem superando sua tradicional imagem de região produtora de vinho do Porto para se destacar como melhor área de tintos do país. A vinicultura ali é democrática. Dos 33 mil produtores da região, apenas 20% possuem mais de meio hectare de vinha. A melhoria da qualidade do produto local tem a ver com a união de cinco empresários em 2003, os autodenominados “Douro Boys”. São dos Douro Boys três rótulos na lista dos 100 melhores vinhos mundiais de 2011 da revista especializada Wine Spectator, o Quinta do Vallado Touriga Nacional 2008, o Quinta do Crasto Douro Reserva Old Vines 2008 e o Quinta do Vale Meão 2008. Viajar de carro desde o Porto é fácil: basta seguir sempre à beira do Rio Douro. A avenida “marginal” do Porto logo vai se transformar na estrada EN-108, e o bonito cenário urbano dará lugar a um mais bonito ainda cenário rural. A partir da cidade de Peso da Régua, a cerca de 130 quilômetros do Porto, surgem as grandes vinícolas, como a Sandman, famosa marca de vinho do Porto. Logo depois de Peso da Régua brilha o restaurante DOC (EN-222, 254/858-123, restaurantedoc.com; Cc: A, M, V), a grande sensação gourmet do Douro. O espaço moderno contrasta com a rusticidade da paisagem. São servidos sabores regionais em receitas refinadas, caso do lagostim em espuma de ouriço-domar. Se o tempo estiver bom, instale-se no deque e faça a refeição no ritmo paciente do rio. Na área urbana de Peso da Régua está também o Douro In (Avenida João Franco, 254/098-075, wonderfulland.com/douro-in; Cc: A, D, M, V), mixde restaurante e bar com vista panorâmica do Douro. No cardápio há delícias preparadas com o vinho do Porto, caso do risoto de costelinha e do bacalhau gratinado. Hora de conhecer os vinhos dos Douro Boys? A Quinta de Nápoles (254/855-436, niepoort-vinhos.com; 2ª/6ª 9h/18h), em Santo Adrião, pertinho de Peso da Régua, tem 30 hectares de vinhas. A Quinta do Castro (254/920-020, quintadocrasto.pt; 2a/6a 9h/13h e 14h/20h; € 18,45), de Miguel Roquette, tem nas vinhas já idosas seu grande trunfo. As visitas são realizadas somente com reserva, duram cerca de uma hora e terminam com a prova de cinco vinhos. Finalmente, a Quinta do Vallado (Vilarinho dos Freires, 939/103-591, wonderfulland.com/vallado; Cc: M, V), a 6 quilômetros do Centro de Peso da Régua, ocupa a propriedade que pertenceu à lendária Ferreirinha, empresária que revolucionou o setor do vinho do Porto no século 19.

Com tudo isso, se você não tem um motorista abstêmio na família, melhor considerar ir de trem – ou, em português português, comboio. A partir do Porto, a ferrovia segue margeando o rio e os vinhedos e as vistas são lindas. A CP (cp.pt) conecta a região. Existem também cruzeiros fluviais curtos desde o Porto, Peso da Régua e Barca d’Alva pela Douro Azul (223/402-500, douroazul.pt; € 75). Há almoço a bordo.

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