O depoimento de quem conseguiu perder o medo de voar de avião
Antes, a tremedeira tomava as pernas e o queixo e a vontade era de fugir da própria pele - mas isso agora é passado!
Banheiro da sala de embarque. Lá de dentro, ouço o chamado. Tremo e choro. Fico trancada mais um pouco. Poderiam me esquecer. Mais um calmante. Seco os olhos, respiro fundo, não penso em nada. Atravesso o portão, me sento e afivelo o cinto. Quando volto a respirar, já estou lá, confinada. É só o começo.
As tremedeiras aumentam e agora tomam as pernas e o queixo. Não é frio. Tudo no meu corpo se contrai. Tento disfarçar. Sinto dormência na boca, ocoração acelera. Decolamos. Tontura. E vou assim, por uma hora que mais parece uma eternidade, suando, indo ao banheiro mil vezes, querendo fugir da minha própria pele.
Talvez eu nunca tenha conseguido descrever exatamente como eu me sentia ao voar. Mas, nesta narrativa, retomei um dos dias mais difíceis.
Você diria que esta mesma pessoa pegaria mais de 30 voos em um único ano? Pois é. Eu queria crescer profissionalmente e a única opção envolvia uma agenda lotada de viagens. Sublimei e encarei.
Tive que tomar uma decisão. Eu defini que voaria quantas vezes fossem necessárias, independentemente de como me sentisse. Perdi a vergonha defalar sobre isso. Aonde eu chegava, contava bem-humorada as peripécias da minha “viagem em pânico”, e as pessoas me ajudavam dando informações e técnicas, ficando do meu lado.
Confesso que os primeiros voos ainda foram difíceis. Mas, aos poucos, aprendi a relaxar, sentir a adrenalina da decolagem com uma boa trilha sonora. Quem diria?! A decisão e a vulnerabilidade abriram espaço para uma experiência nova: de liberdade. Em um dia de céu azul como este que vejo da minha janela, me vem à cabeça: e não é que é mesmo um ótimo dia para voar?!
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Nathana Lacerda é jornalista, especialista em imagem e reputação e escreve sobre esses assuntos no nathanalacerda.com.br |
Texto publicado na edição 258 da revista Viagem e Turismo (abril/2017)