Na Índia, sempre cabe mais um – ou uns!
A Índia desafia a lei da física e prova que dois ou mais corpos podem sim ocupar o mesmo lugar no espaço
Os números sempre me impressionaram pela infinitude, tanto que um dia considerei estudar matemática.
Através deles, conseguimos saber, por exemplo, que, na Índia, há aproximadamente 1 bilhão e 339 milhões de pessoas vivendo em uma área de 3 milhões e 287 mil quilômetros quadrados.
Isso quer dizer que os indianos são, em termos populacionais, seis vezes maiores que nós, brasileiros, e vivem em um território quase três vezes menor que o nosso.
Pude entender melhor o significado disso quando eu mesma passei a figurar na estatística da Índia.
Viver em casas onde moram, em média, umas dez pessoas de três gerações diferentes. Ser o quinto elemento de uma moto em movimento. Andar pendurada no trem ou em cima do ônibus ou na barra de uma bicicleta – porque todos também são espaços úteis.
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De trem, certa vez, percorri quase 850 quilômetros em 14 horas. Eu ia de Goa até Kerala, no sul do país. Em meio ao sono e a um sonho gostoso na minha cama da classe sleeper, começo a sentir uns corpos estranhos.
Ligo a lanterna do celular e me assusto ao ver uma família deitada junto de mim. O pai, a mãe e a filha. Será que não perceberam que eu estava ali? Com a luz da lanterna acesa, me sento e olho pra eles, esperando que me dissessem algo. Eles me respondem com sorrisos, vários sorrisos, apenas.
Intuitivamente, agi como se aquela apropriação de cama fosse normal e, ainda sentada, não tardo a dormir novamente.
Pela manhã, sou, mais uma vez, acordada pela família sorridente. Eles falam inglês e me oferecem comida: chai e paranthas, um pão típico.
Conversamos o resto da viagem, que deixou de ser longa. O pai, o senhor Kamal, era professor de matemática.
Julihana Valle é publicitária e aprendeu naquela viagem que o sistema de numeração decimal foi inventado na Índia. |
Texto publicado na edição 252 da revista Viagem e Turismo (outubro/2016)