Sob o efeito de doses cavalares dos alucinógenos da década de 1970, a humanidade passou os anos 1980 acometida por uma espécie de surto antiestético coletivo. Durante esse estranho período, o mundo foi assombrado por ombreiras gigantes, calças semibag, polainas, óculos de hastes fosforescentes e outras pérolas da indumentária cuja existência jamais será compreendida pelos estudiosos do comportamento humano.
Nada, porém, sofreu mais metamorfoses do que os pobres cabelos. Enquanto as terríveis permanentes transformavam algumas mulheres em ovelhas eletrocutadas, outros cidadãos sucumbiam ao pior corte de todos os tempos: o mullet, nome internacional da tenebrosa madeixa que se agarra, solitária, à nuca da pobre vítima, enquanto um hediondo tufo de fios arrepiados enfeita a parte frontal da cabeça.
Passada essa epidemia de mau gosto, as fotos que registrassem o menor resquício de mullet passaram a ser incineradas ou trancadas no mais obscuro dos baús na tentativa de apagar esse passado. Nadando contra a corrente, restaram os jogadores de futebol argentinos, Chitãozinho e Xororó, Roberto Carlos e… os catalães.
Sim, minha gente. Em Barcelona, os mullets são cool. Ainda. Jamais fui em busca de bases científicas para esse tema, mas duvido que alguma outra cidade do mundo tenha tantas perruquerias (a palavra quer dizer “cabeleireiro” em catalão) por quarteirão: duas no mínimo.
Vale tudo para ser o mais fashion. E, quanto mais supermoderno for o estabelecimento, mais risco você tem de sair de lá com um cabelo estapafúrdio (tenho muito medo dos perruqueros catalães). E, nesse quesito, a La Pelu (Argenteria, 70-72, www.lapelu.com) é hors-concours. O badalado salão abre em noite de lua cheia (assim o mullet cresce mais robusto). Para não acordar na maior ressaca moral da sua vida – de mullet -, aconselha-se passar longe.