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Veneza: passeios para driblar a multidão

Há sim caminhos pouco explorados e menos muvucados na cidade mais linda e romântica do mundo

Por Rosana Zakabi
Atualizado em 18 mar 2020, 12h13 - Publicado em 17 dez 2014, 15h40
Veneza, na Itália, ao pôr do sol
Veneza, na Itália, ao pôr do sol (/)
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Veneza foi a minha sétima parada numa viagem de um mês pela Itália. Cheguei debaixo de muita chuva, e um vento cortante dava a sensação térmica de um dia rigoroso de inverno, apesar de ser final de primavera. “Vi no noticiário que não chove desse jeito há anos. Eu nunca tinha visto uma chuva assim desde que cheguei”, disse minha amiga paulista Laura Brunello, moradora da cidade por cinco anos e minha guia pelos dias seguintes.

Foi graças a ela que conheci o lado B da “Sereníssima”, a Veneza segundo os venezianos. Claro que as principais atrações são merecidamente incontornáveis: a Piazza San Marco e sua suntuosa basílica; o Palazzo Ducale, que foi sede da República Veneziana e residência dos doges; as românticas gôndolas que atravessam os canais.

Mas há muita coisa bacana que passa despercebida pela maioria dos embevecidos turistas de primeira viagem. Divido aqui, com você, alguns segredos e um punhado de macetes que aprendi para aproveitar até o sumo tudo o que cidade tem de melhor – e olha que é muita coisa.

Pecadilhos e expiação

Tem muita gente que passa apenas um ou dois dias na cidade – ou menos ainda: fica só algumas horas, a bordo de algum cruzeiro (Veneza recebe vários deles, diariamente). É um desperdício. O ideal é ficar no mínimo quatro dias para ver os principais cartões-postais e depois sair explorando o lugar mais a fundo.

Por volta das 17h, quando termina o expediente, um dos programas favoritos dos venezianos é o giro dei bacari, ou seja: percorrer as bacari (tavernas) mais badaladas, que ficam escondidas no aparentemente infinito emaranhado de vielas estreitas. Laura me levou a várias, entre elas a Osteria Alla Ciurna, com petiscos ótimos, e a Bancogiro, de comida caseira.

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Neles, além de provar almôndega e sardinha assadas, tomei muito spritz, o drinque feito com Aperol (ou Campari), espumante e água com gás. É a cerveja dos locais: todo mundo bebe, o tempo todo. “Se quiser se sentir como um veneziano, tem de tomar”, dizia Laura. Prefiro vinho tinto, mas o spritz combinava com o clima festivo dos botecos.

Mais uma pequena manha para mergulhar nos costumes gastronômicos venezianos: ir, por volta das 9 da manhã, ao mercado de Rialto (ao lado da Ponte Rialto), onde donas de casa e chefs compram frutas, legumes, peixes e futos do mar. Também vale visitar a Pasticcerie Nobile por volta das 17h30. Os venezianos de juízo costumam dar uma passada nessa doceria (que existe desde 1902) na saída do trabalho, para comprar bolos e bolachas amanteigadas.

Depois de tanto pecado da gula, só rezando. E, aos domingos, às 11h, muitos vão à missa na Igreja Santa Maria della Salute (Campo della Salute 1). Erguida no século 17, tem quadros de Tintoretto e Ticiano.

Aperol Spritz, bebida típica da Itália Aperol Spritz, bebida típica da ItáliaO refrescante spritz, drink preferido dos venezianos

Nos cartões-postais

A Piazza San Marco é uma espécie de Times Square italiana. Principal atração de Veneza, fica lotada até debaixo de frio e chuva. O lugar recebe, por dia, mais de 50 mil turistas de todo o planeta. As filas quilométricas que se formam na porta da Basilica di San Marco desanimam até o visitante mais entusiasta. Mas até que dá, sim, para driblar a multidão e aproveitar alguns desses arrasa-quarteirões do turismo mundial, sem tanta gente brigando pelo metro quadrado, mais ou menos como um turista vip. Anote aí algumas pequenas técnicas:

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• O horário de pico na Piazza San Marco é entre as 10h e as 15h, período em que os cruzeiros ficam atracados no porto e as excursões de city tour invadem a praça. Chegar antes das 10 não é bom negócio, porque, nesse horário, muita coisa ainda estará fechada. A boa é aparecer por ali por volta das 4 da tarde, quando o lugar começa a esvaziar, e ícones, como o Caffè Florian, um dos mais famosos cafés da Itália, com mesinhas ao ar livre, continuam funcionando a todo vapor.

• A Basilica di San Marco fica cheia o dia inteiro. Então, que tal visitá-la à noite, depois que ela fecha ao público? Em setembro de 2013, a empresa italiana Walks of Italy lançou esse passeio exclusivo para grupos de no máximo 12 visitantes (guia incluído). Dura hora e meia e custa € 109.85 por pessoa. Para agendar, vá ao site e veja as datas disponíveis para fazer a reserva.

• Uma das melhores maneiras de apreciar a é pela água, a bordo dos vaporettos, os barcos-ônibus que circulam pelos canais de Veneza. O problema é que, durante o dia, tem tanta gente neles que não dá pra ver nem sequer uma fresta de paisagem da janela. A pedida é embarcar após as 18h, quando estão bem mais vazios. “O circuito ideal é o do vaporetto número 1, que sai da Piazzale Roma”, ensina o escritor americano Durant Imboden, autor do excelente blog Venice for Visitors. “Siga até a parada San Marco-San Zaccaria, já no fim do Grande Canal. Durante os 40 minutos de trajeto, você verá dezenas de palácios construídos entre os séculos 12 e 18”, explica ele.

• Bem perto da Piazza San Marco (cinco minutos a pé) ficam dois segredos mais ou menos bem guardados pelos venezianos. Um deles é o Casino Venier (Ponte dei Bareteri 4939). O prédio de 1750 abriga, hoje, a sede da associação cultural Alliance Française, e está aberto à visitação (grátis). Ali dentro você pode conhecer os salões com móveis de época, espelhos de Murano nas paredes e afrescos no teto. Outro é o Palácio Contarini del Bovolo, localizado no fim da Rua Locande, num pátio entre ruas labirínticas. “Sem indicação, pouca gente consegue chegar ali”, diz o carioca Marco Pozzana, diretor do site Veneza-Itália. A grande atração do lugar: a Scada Contarini del Bovolo, uma linda escadaria gótica em espiral.

Piazza San Marco Piazza San MarcoA Piazza San Marco, uma das praças mais famosas da Itália

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Manual de sobrevivência em Veneza

► É proibido fazer piquenique na Piazza San Marco. Comer sentado nos degraus da basílica também não é permitido.

► Quase todas as praças têm fontes de água potável. Dá para abastecer sua garrafa numa delas.

► Em vez de comprar o bilhete unitário do vaporetto, é melhor adquirir um passe de 24 horas.

► A acqua alta, enchente que toma as ruas de Veneza, costuma acontecer entre novembro e dezembro. Se pretende visitar a cidade nessa época do ano, é bom ficar ligado na previsão do tempo para evitar transtornos.

Descobertas de Kubrick

O climão onírico de Veneza deve muito às máscaras de carnaval que enfeitam as vitrines das lojas espalhadas por suas ruelas. Feitas de papel machê em vários formatos, cheias de brilho e pompa, assustadoras até, elas são suvenires perfeitinhos para levar para casa. Nos últimos anos, porém, os chineses invadiram e lotaram os estabelecimentos com réplicas baratas de cerâmica e de plástico.

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Pois vale a pena gastar um pouco mais (cerca de € 30 por unidade) numa das dez oficinas artesanais que sobrevivem na cidade. As máscaras da famosa Il Canovaccio apareceram no filme “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick. O diretor também teria comprado artigos na apaixonante Ca’Macana, um lugar com fantasias expostas e ateliê no fundo. Ali dá para acompanhar o processo de produção e até dar pitacos. E o Laboratorio Artigiano Maschere (Barbaria delle Tole, Castello 6657), uma das oficinas mais antigas, tem máscaras de papel machê e couro.

Ca’Macana Ca’MacanaVale a pena pagar mais caro pelas máscaras originais de Veneza

A noite é uma criança

A Sereníssima sempre foi conhecida como um lugar avesso a grandes baladas, onde a noite é low-profle e nada segue madrugada adentro. Pois essa característica começou a mudar de três anos para cá, com a abertura de casas. Uma das mais quentes é o bar El Sbarlefo San Pantalon (Dorsoduro 3757), inaugurado em agosto de 2013 em um beco de Dorsoduro. Num ambiente elegante, com luzes de neon amarelas, tem petiscos, boa variedade de rótulos de vinho e jazz ou rock ao vivo nos fins de semana.

Seguindo o mesmo ritmo, outros bares também passaram a funcionar após a meia-noite. O Skyline, no terraço do hotel Hilton Molino Stucky, fica aberto até a 1h. É melhor chegar por volta das 5 da tarde, assistir ao pôr do sol e se deliciar com os coquetéis.

E a Enoiteca Mascareta, das mais populares, garante o agito até pelo menos as 2h. É ali que chefs e funcionários dos restaurantes se reúnem depois do trabalho e compartilham uma garrafa de vinho acompanhada de porções de salame ou peixe defumado.

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A onda do glamour

Vários hotéis chiquetês foram abertos nos últimos anos na região do Grande Canal. Ficam em palacetes alucinantes, têm conforto de sobra e, em troca, cobram diárias que podem passar de € 1 000. O mais glamouroso é o Palazzo Gritti, reaberto em 2013 após uma reforma de € 35 milhões.

O edifício foi construído em 1525 para ser residência do doge Andrea Gritti, o governante de Veneza na época. Entre seus ilustres hóspedes está o escritor Ernest Hemingway, que costumava se referir ao local como “o melhor hotel em uma cidade de ótimos hotéis”. Os 82 quartos são decorados com antiguidades venezianas e luminárias de vidro de Murano feitas à mão.

Instalado em um palácio do século 16, o Aman Canal Grande, inaugurado em abril de 2013, é intimista, com apenas 24 aposentos. E o BaglioniHotel Luna é o mais novo deles. Lançado em maio de 2014, tem quartos suntuosos, com banheiros de mármore de Carrara, lustres, janelões e terraço para o Grande Canal.

Mais dicas para curtir Veneza

O POINT DOS ESTUDANTES – O Campo Santa Margherita é uma praça onde os jovens se encontram à noite para tomar spritz. Ali, os barzinhos mais animados são o Caffè Rosso e o Orange. Hospedar-se na região também é um bom negócio para quem quer gastar menos. Há diversos hostels e bed & breakfast arrumadinhos, com precinhos bem bons.

DE CAIAQUE – Jeito alternativo de conhecer a cidade: de caiaque, oras. São € 90 por meio dia de passeio, enquanto 40 minutos de gôndola custam € 80. Dá para navegar por onde quiser (sempre orientado por um guia), inclusive por canais menores, em que não podem entrar barcos motorizados. E, sim, é preciso ter preparo físico e experiência básica em remo. Quem aluga: a Venice kayak.

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