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Harlem: roteiro de 48 horas pelo bairro de Nova York

Uma ronda pelo clima altamente musical, pela soul food deliciosamente calórica, pela street art, pelas universidades, pela casa mais antiga de Manhattan

Por Lívia Scatena
Atualizado em 1 fev 2023, 15h13 - Publicado em 19 fev 2018, 19h50

Dia 1

Anos atrás, a fama do Harlem não era das melhores, culpa dos seus altos índices de criminalidade. Hoje, o famoso bairro fundado por imigrantes holandeses e símbolo da resistência afro-americana nos Estados Unidos tem um baita apelo turístico e fervilha no melhor estilo nova-iorquino: com música, arte e soul food.

9h: Off Central Park

harlem
Um dos muitos festivais de música do Marcus Garvey Park (Jack Vartoogian/Getty Images)

Um dos mais antigos parques de Manhattan fica no coração do Harlem. O Marcus Garvey Park data da metade do século 19 e, desde então, seu espaço modesto é ponto de encontro dos moradores da região. Aproveitar a piscina pública e as fontes de água são as melhores opções para os dias quentes do verão, quando o moderno anfiteatro recebe shows de vários estilos musicais. Já as quadras de basquete ficam sempre cheias de jovens longilíneos o ano todo. A estação de metrô mais próxima é a da 125th Street.

11h: Rua de nome

Saia do parque pela W 124th Street, pegue a 5th Avenue e caia na Dr. Martin Luther King Jr. Boulevard. A rua que homenageia uma das grandes lideranças do movimento pelos direitos civis dos negros no país é a princial do bairro. Quem vive por ali já se preocupa com a gentrificação, mas os turistas aproveitam as lojas de departamento. Virando à esquerda, você passa pelo Studio Museum in Harlem, que apoia artistas afro-americanos, e pelo Apollo Theater – mas deixe esse ícone para a noite.

Mural Crack is wack
O conservado mural Crack is Wack, do artista Keith Haring (Cookiespi/Flickr)

E, à direita da saída do parque, passa pela pizza econômica da 2 Bros Pizza e por prédios mezzo bonitos, mezzo monstrengos, como o da loja de antiguidades Demolition Depot. O mural super laranja Crack Is Wack fica perto, na Harlem River Drive com a 128th. Pintado nos anos 1980 pelo artista plástico Keith Haring, famoso pelos trabalhos psicodélicos e coloridos, segue bem conservado quase 30 anos depois da morte de seu autor.

12h30: Soul ou fast food

Harlem Shake, Harlem
Hambúrguer de responsa do Harlem Shake (Divulgação/Divulgação)

Sempre a pé, na direção sul, pela Lenox Avenue (também conhecida como Malcolm X Boulevard), você encontra dois ótimos lugares para almoçar. A primeira opção é o Sylvia’s Restaurant, consagrada casa para se provar a soul food, tradicional comida do sul americano. O lugar serve generosíssimas porções de costela e frango frito ou assado (as asinhas são imperdíveis), entre outras delícias.

Também tem um café da manhã reforçado, com ovos e/ou bacon ou salsicha – aos domingos, com música gospel ao vivo. Melhor reservar, porque está quase sempre lotado. Já o Harlem Shake fica na 124th, quase na esquina com a Lenox Avenue, e serve outro tipo de comida americana: suculentos hambúrgueres com batata frita. Vá de harlem classic (US$ 7), com queijo, cebola, picles molho da casa.

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14h: Bora baixar o preço

Malcolm Shabazz Harlem Market, Manhattan, New York City
A adorável mistura étnica do Malcolm Shabazz Harlem Market (Philip Scalia/Alamy/Latinstock/Wikimedia Commons)

Você encontra o Malcolm Shabazz Harlem Market , uma espécie de lado B das compras na Ilha de Manhattan, caminhando por dez minutos até a 116th Street. O local é o point certo para pechinchar e encontrar produtos étnicos, como roupas, instrumentos musicais, bolsas, bonés e acessórios em geral – os cunhados em prata são verdadeiros achados. O mercado fica em uma região conhecida como “Little Senegal”, então se prepare para encontrar produtos bem típicos de países do oeste africano.

15h30: Fé e cátedra

Estudantes da Columbia University, no Harlem.
Estudantes no gramado da prestigiosa Columbia University (Rosana Zakabi/Arquivo pessoal)

A Catedral de São João Divino fica a 20 minutos a pé do mercado (ou a 15 minutos, via ônibus M116; a parada mais próxima é na Manhattan Avenue). A maior catedral neogótica do mundo – data do século 19 – tem 14 cúpulas e um pé-direito gigante, que não fica devendo nada às construções do tipo na Europa. A pouco mais de 300 metros dali, está uma das mais bem conceituadas instituições de ensino do mundo, a Columbia University , que tem os ex-presidentes Barack Obama e Theodore e Franklin Roosevelt entre seus alunos ilustres.

A instituição se espalha por vários quarteirões do Harlem. Os jardins são destaque ao lado da Low Memorial Library, importante biblioteca americana cuja construção, inspirada no Pantheon romano, é um marco arquitetônico da cidade. Nos dias de sol, não há quem resista ao gramadão na frente do prédio.

17h: O urso e o fauno

Pegue a 116th Street sempre reto e cruze o Morningside Park – aproveite para dar uma olhada na pitoresca Fonte Bear and Faun, que repousa em meio à vegetação. À esquerda na Frederick Douglass Boulevard, fica a Levain Bakery, que faz um dos mais celebrados cookies da cidade (US$ 4 cada um), ainda mais deliciosos com café. A padaria também tem opções de pizza rústicas (vá de queijo de cabra com azeitonas), bolos simples e pães de aveia.

19h: História da arte

Apollo Theater, New York City
O Apollo Theater, templo da música (kaarstein/iStock)

O Apollo Theater, icônico por dar espaço a artistas negros quando a segregação racial era lei no território americano, segue firme e forte após 100 anos. Antes de partir pra lá (os trens 2 e 3 passam perto dali, na 125th Station), consulte a programação. Tente assistir a uma Amateur Night, compre os ingressos no site. Essa noite temática acontece desde meados do século 20 e revelou artistas como Ella Fitzgerald, Jimi Hendrix e Jackson 5 – quando Michael Jackson tinha apenas 9 anos.

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Dia 2

10h: De outros tempos

Morris-Jumel Mansion, Harlem
A curiosa Morris-Jumel Mansion, Harlem (Seanpavonephoto/ Grupo Keystone/Wikimedia Commons)

A Morris-Jumel Mansion, a mais antiga casa de Manhattan, fica na 65 Jumel Terrace, entre a 162th e a 160th Street, o que ultrapassa por pouco os limites do Harlem – o trem da linha C para na estação 163th, a mais próxima da construção. Mas vale dar um pulo lá antes de voltar ao bairro histórico. Desde o fim do século 18 em pé, a construção presenciou as mudanças radicais da ilha. O museu conserva as lembranças da cidade e é uma memorabilia da doméstica nova-iorquina de séculos atrás.

11h30: Fumacê

Shepard Hall, City College
Profusão de detalhes do Shepard Hall, na City College (Aj Wilhelm/Alamy/Latinstock/Wikimedia Commons)

Pegue a Saint Nicholas Avenue na direção sul, mas, antes, desvie à esquerda pela 141th Street até a Broadway se quiser comprar um presentinho diferente. No 3456, você encontra a Papa Juan Cigar Room, que vende charutos da América Central. A loja fica abaixo do nível da calçada. Dá para pegar uma mesa e provar um exemplar ali mesmo ou comprar para levar. De lá, vá pela 140th, vire à direita e siga até a City College of New York , outra instituição de ensino de alta qualidade. O multidetalhado Shepard Hall é uma joia arquitetônica.

13h: Ainda mais alma

Já vá gastando as calorias que vai consumir no almoço na breve caminhada entre a 135th Street e a Frederick Douglass Boulevard (atravesse o Parque St. Nicholas para chegar mais rápido). Dito isso, aproveite, sem culpa, as delícias do Charles’ Country Pan Fried Chicken, casa também dedicada à soul food. Muito frequentado pelos locais, tem preços ótimos e um dos mais famosos frangos fritos de Manhattan – uma porção pra lá de generosa vem com dois acompanhamentos e sai por menos de 11 dólares.

14h: casas e tradições

Strivers'Row, Harlem
As fachadas sóbrias da Strivers’Row, quarteirão mais elegante do bairro (Douglas Lander/ Alamy/ Latin Stock/Wikimedia Commons)

A Strivers’ Row é o quarteirão mais elegante do Harlem (pela Frederick Douglass Boulevard, no sentido norte, são dez minutos a pé). Oficialmente, seu nome é St. Nicholas Historic District. A arquitetura sóbria e harmoniosa, com muito tijolo terracota e pedras à mostra, marca o trecho entre as 138th e a 139th Street.

As construções foram terminadas no final do século 19, e o público-alvo eram as famílias brancas. As vendas fracassaram por causa de uma crise econômica. A norma que vetava a negros a aquisição de residências naquela zona caiu só nos anos 1920 e, depois disso, a área passou a receber famílias afro-americanas ricas e influentes, como o músico W.C. Handy, considerado o pai do blues. Ainda hoje muitos artistas emergentes vivem por lá.

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16h- Jazz: primeiro ato

Lenox Coffee, Harlem
Comidinhas do Lenox Coffe,uma boa para repor as energias (Divulgação/Divulgação)

O Museu Nacional do Jazz não poderia ficar em outro bairro nova-iorquino. Muito embora o ritmo não tenha propriamente nascido na cidade, em Nova York ele tomou fôlego para ganhar o mundo. Foi ali que Billie Holiday começou a cantar – entre os anos 1920 e 30, clubes de jazz se espalhavam por todo o Harlem. Performances ao vivo fazem parte da programação do museu, que conta com vasto acervo de áudio e vídeo e exposições temporárias. Fica no térreo do 58W da 129th Street. Bem ao lado, no 60W, o Lenox Coffee tem macchiatos, lattes e comidinhas para alegrar a tarde.

19h – Jazz: segundo ato

Quando em Nova York, não cometa o erro de não ir a nenhum clube de jazz. Uma casa ao estilo speakeasy, mas que não serve bebidas alcoólicas – os clientes, no entanto, podem levar as suas para consumir no local -, e que, às sextas, recebe o público para shows intimistas, é garantia de uma noite musical de sucesso.

O saxofonista Bill Saxton, nascido e criado no Harlem, abriu seu Bill’s Place ao lado da mulher, Theda Palmer Saxton, em 2006. A casa fica no 148W da 133rd Street, rua que, na época da Lei Seca americana, nos anos 1920 e 30, era cheia de locais fora da lei que vendiam bebidas ilegalmente. Os trens 2 e 3 são os que chegam mais perto dali, na 135rd Station.

Publicado na edição 264 da Revista Viagem e Turismo.

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