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Este cruzeiro literário na Amazônia é poesia pura

Como é a viagem com poetas, artistas e escritores pelo Rio Negro, no coração da Amazônia, a bordo do navio do cruzeiro Navegar É Preciso

Por Clarice Niskier
Atualizado em 14 jul 2021, 13h21 - Publicado em 11 abr 2017, 15h22
Na metade inferior da foto, o rio negro em perspectiva. Na superior, um navio de três andares navega com a floresta ao fundo
O barco onde acontece a Flip amazônica (Divulgação/Divulgação)
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O convite para conhecer o Rio Negro veio da Livraria da Vila, o que significaria estar cercada de escritores e passageiros em livre associação entre cultura e natureza. A Amazônia tem a dimensão de simultâneas sinfonias e você sabe que vai se conectar.

Trata-se de conhecer a floresta, não qualquer floresta; um rio, não qualquer rio; um céu, o céu que nos protege. Você topa. E quer voltar. Já fui três vezes e voltaria centenas.

Nós e as lanchas somos transportados por um barco lindo. Adoro sua recepção de madeira, parece que entramos num filme antigo. Penso no barco como um poético navio de rio. Dentro e fora dele, são tantas atividades em cinco dias, que nos aproximamos uns dos outros a ponto de, na despedida, trocarmos e-mails jurando amor eterno.

O almoço e o jantar são da ordem da delícia, e ao mesmo tempo muito simples. É pra desarmar, curtir (há muitos passeios de lancha) e tomar certos cuidados na floresta.

Numa das trilhas, meu filho, então com 15 anos, sentiu sua pressão baixar. O guia veio, olhou para cima e cortou um cipó num golpe só de facão. Jorrou água. E, num milionésimo de segundo, parou de jorrar.

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A seguir, ele pediu a Vitor que abrisse a boca para derramar a água. Um minuto depois, Vitor se sentia ótimo. O guia disse que aquele cipó tinha de ser cortado num gesto firme, pois era de sua natureza defender a água pura para si. Ao pressentir o corte, o cipó estanca a água e a retém para sua sobrevivência.

À tarde, o jornalista Edney Silvestre conversava com o escritor Walter Hugo Mãe. “O que você anotava enquanto o guia dava água ao Vitor?”, perguntou Edney. “Ao ser ferido de amor”, contou o escritor, “quisera eu, como o cipó, que não sangrasse meu coração, mas que guardasse o sangue para mim.”

 

Esse texto foi publicado na edição 257 da revista Viagem e Turismo (março/2017) 

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Foto da autora, Clarice Niskier
(Dalton Valério/Divulgação)

 

 

Clarice Niskier é atriz e habitué do cruzeiro Navegar É Preciso, que acontece de 1º a 5 de maio.

 

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