As recentes conquistas femininas no mercado de trabalho, na política e na liberdade de comportamento ainda esbarram em graus variáveis de machismo pelo mundo. Pois viajar sozinha – e encarar a postura anacrônica de certas sociedades – é um dos mais visíveis sinais do poder das brasileiras.
Em 2016, a morte de duas turistas argentinas no Equador gerou os habituais comentários que culpam as mulheres vítimas de violência de gênero – como se elas tivessem “abusado” do direito de serem livres e dado sopa para o azar.
Em vez de desestimular as mulheres, a notícia deu origem a campanhas como a #ViajoSola, sucesso no Instagram até hoje. A ideia é que as garotas que estejam na estrada sozinhas marquem suas histórias, fotos e vídeos com a hashtag para quebrar preconceitos e encorajar outras viajantes.
Em resumo, elas podem, querem e abrem mão de companhia para realizar seus sonhos, mas sabem que precisam ser realistas: para 67% das mulheres que viajam sozinhas, a segurança é o principal fator na escolha do destino, contra somente 32% que priorizam as atrações turísticas, indica uma pesquisa do TripAdvisor.
Apenas 79º colocado no ranking do Fórum Mundial que avalia a igualdade de gênero, o Brasil ainda é, infelizmente, uma escola no preparo de nossas viajantes para rodarem o mundo sozinhas. Algumas lições de reforço você confere a seguir.
Roteiro
Não é necessário planejar cada aspecto da viagem com antecedência, mas se recomenda montar um itinerário e deixar a programação com algum familiar ou amigo, de preferência que fale inglês, pra você ser localizada se necessário.
Prefira chegar ao destino de dia, em situação mais segura para o caso de se perder e com mais pessoas na rua para pedir informações.
Hospedagem
Para economizar tempo e fazer a escolha mais apropriada, pesquise antes e já vá com a hospedagem reservada. Dê preferência para bairros seguros, bem atendidos por transporte público e próximos dos locais que você pretende visitar.
Sobre os tipos de acomodação, os hotéis costumam sair caro para quem se hospeda sozinho (embora possam compensar em localização e conforto), e os resorts são mais frequentados por casais e famílias.
Pensados para quem viaja desacompanhado, os hostels praticam diárias econômicas, são propícios para conhecer pessoas e, cada vez mais, têm quartos compartilhados exclusivos para mulheres, o que pode evitar alguns desconfortos.
A paulista Gabriela Abrunheiro, 27 anos, viajou sozinha pelo Chile e conta que passou por alguns choques culturais em quartos mistos. “Dividi quarto com australianos e alemães que não ligavam de andar de cueca e com um inglês que ficava pelado após o banho.”
Antes de fazer a reserva, seja em qual hospedagem for, entre em sites como o TripAdvisor e leia os reviews e quem se hospedou no local – dê especial atenção para quem o avaliou como “Ruim” ou “Horrível”.
E, se você não se importa de ficar na casa de um local, com a vantagem de ganhar dicas insiders e imergir no lifestyle do destino, considere alugar um cômodo pelo Airbnb.
Bagagem
Lembre-se de que você terá de monitorar sua bagagem, carregá-la sozinha (inclusive quando for ao banheiro) e, muitas vezes, precisará de uma das mãos livres – para o celular, os documentos… Ou seja: uma mala não muito pesada e uma prática mochila nas costas são um bom limite.
Ao selecionar os pertences, opte pelos mais práticos e que combinem com os costumes locais (minissaias podem passar despercebidas na Alemanha, mas nem um pouco nos países árabes).
Como mulheres são alvos preferenciais de furtos, distribua seus meios de pagamento (cartão de crédito, dinheiro) por lugares diferentes da carteira, da mala e dos bolsos frontais da calça.
Transporte
Sobretudo se estiver a pé, pergunte no hotel se há alguma região da cidade que deve ser evitada por mulheres desacompanhadas. Na rua, prefira pedir informações a outras mulheres, idosos, famílias ou atendentes de lojas e restaurantes.
Prefira um mapa no celular (o Google Maps tem, para uso offline e de graça), em vez de segurar um de papel, que denuncia sua condição de turista.
À noite, se o local for perigoso para caminhar ou pegar transporte público, invista num Uber ou táxi – sim, há taxistas desonestos pelo mundo, por isso fique de olho no seu GPS e nunca esteja desatenta (à menor desconfiança, escolha um lugar seguro e iluminado e mande parar).
Nas viagens rodoviárias e ferroviárias, ao comprar o bilhete peça para viajar ao lado de outra mulher. A paulista Mariane Mazza, 27 anos, sentiu desconforto ao viajar de Budapeste a Praga em uma cabine com seis homens: “Não me disseram nada, mas seus olhares me incomodaram”.
Outra opção – até mais econômica – é aderir ao mediador de caronas BlaBlaCar, que indica as motoristas que só viajam com outras mulheres.
Assédio
Tão universal quanto o assédio é a forma de combatê-lo: tenha atitude corporal de repulsa e seja firme, afastando o indivíduo com expressões faciais graves e palavras como “Não!” e “Se afaste!”, ditas com rispidez no idioma local.
Se estiver sendo seguida, mostre que você percebeu o suspeito. Para casos de abordagens não tão diretas – alguém indesejado que vem puxar papo, por exemplo -, use as artimanhas de praxe, como dizer que está passeando com o marido.
Comportamento
Regra de ouro: não dê pinta de turista. Se estiver confusa ou perdida, disfarce, para não parecer presa fácil, caminhando firme como se soubesse aonde está indo.
Viajar sozinha, porém, não deve ser sinônimo de medo. Manter o mesmo nível de atenção que você teria no Rio de Janeiro ou em São Paulo costuma ser suficiente para não se colocar em situação de risco mundo afora. Afinal, estar aberta a conhecer outras pessoas e culturas é uma das melhores razões para viajar – inclusive desacompanhada.
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