Desde que o compositor austríaco Johann Strauss fez uma inspiradora viagem pelo segundo maior rio da Europa e transformou sua emoção em valsa cerca de 150 anos atrás, é impossível deitar os olhos em suas águas calmas e bucólicas sem lembrar da melodia. Tan tan tan tan tan…
Casinhas de fachadas coloridas emolduradas por vinhedos pintam a paisagem. Tan tan, tan tan… Surge um castelo medieval depois da curva. Tan tan tan tan tan… E uma vilinha encantadora de poucas dezenas de habitantes desponta no horizonte, com uma igrejinha de cúpula tão pontiaguda que parece tocar o céu.
O Danúbio nasce no coração da Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha, e percorre cerca de 2 850 quilômetros até desaguar no Mar Negro, em um dos deltas mais bonitos do mundo, na Romênia. Pelo caminho, ele vai cortando dez países, banhando capitais imperiais, embalando amores eternos. Ao longo de uma semana, embarcamos em uma viagem de sonhos entre a cidade de Passau, na Alemanha, e Budapeste, na Hungria, com incursões inesquecíveis pela Áustria e pela Eslováquia no roteiro.
Quatro países, 600 quilômetros – com estradinhas cinematográficas e caminhos que levam a palácios e fortalezas, mosteiros e abadias, cidadelas e vinhedos premiados – depois, fica uma certeza: o Danúbio definitivamente não é azul. Mas, olha, isso não tira nada da sua poesia.
Dia 1
Passau
De um lado, uma fileira de casinhas coloridas que mais parece construída com blocos de madeira infantis, de tão perfeitas e simétricas. Do outro, o verde da floresta, uma ponte e, lá no alto, as muralhas do imponente Castelo Veste Oberhaus, erguido em 1219. De tempos em tempos, um barco singra suavemente as águas do rio em um silêncio quase de reverência, faz a curva, retorna e, sem pressa, desaparece na paisagem.
A imensa janela do meu quarto de hotel exibia, em looping, uma das cenas mais fascinantes da região da Bavária, no sul da Alemanha: o vai e vem que apresenta, para uma maioria de marinheiros de primeira viagem (como eu seria, minutos mais tarde, após ser abduzida pelo cenário), os encantos do mítico Rio Danúbio em sua última passagem pela Alemanha antes de partir para a Áustria.
Passau é uma encantadora cidadezinha de cerca de 50 mil habitantes, com muita história. Suas origens remontam ao período neolítico, há remanescentes celtas do ano 100 a.C., pertenceu ao Império Romano por 400 anos… Fica estrategicamente localizada na confluência de três rios: o Danúbio, o Inn e o Ilz, que, a partir dali, se fundem num só, que, até o fim, se chama apenas Danúbio – ou Donau, na Alemanha e na Áustria.
De ares italianos, o centro histórico foi todo esculpido por mestres barrocos depois de um grande incêndio no século 17 – e hoje é formado por um interessante emaranhado de ruelas que vez ou outra se abre em praças edescortina lindas vistas dos rios.
Em cada esquina dessa pequena confusão de quadras ficam alguns cafés, fontes e belos edifícios. O coração da cidade é a Catedral de Santo Estêvão, coroada por três grandes cúpulas verdes, onde está o maior órgão do mundo, com impressionantes 17 974 tubos e 233 registros. Entre os meses de maio e outubro, há concertos de segunda a sábado, ao meio-dia, e às quintas, às 19h30.
Com capacidade para receber dezenas de navios ao mesmo tempo, Passau é também ponto de chegada ou partida dos mais festejados percursos de cruzeiros fluviais do mundo. Quem não vai fazer uma viagem longa sobre as águas pode experimentar o gostinho num sightseeing de meia hora que passa pelos principais pontos de interesse locais. Diferentes armadoras operam o tour – a Wurm + Kock tem belos barcos com teto retrátil e bares que servem drinques, comidinhas e doces. Aceleram-se os motores e… Tan tan tan tan tan, é Strauss quem toca como música de fundo, claro.
De volta à terra firme, e já que estamos na Alemanha, uma das melhores pedidas é provar a bebida nacional, como deve ser. Como toda cidade bávara que se preze, Passau tem a sua própria cerveja – há quatro fábricas locais. A Passauer Weisse é a sugestão da casa no Wirtshaus Bayerischer Lowe , um autêntico biergarten com mesinhas ao ar livre, à sombra de enormes árvores. Para acompanhar, salsichas com chucrute, carnes em conserva, pretzels.
No final do dia, especialmente durante a primavera e o verão, quando o sol se põe perto das 10 da noite, o melhor lugar para se estar é debruçado sobre o Danúbio e o centro histórico, aos pés do Castelo Veste Oberhaus. O visual é a desculpa perfeita para cacifar uma das mesas no terraço do Das Oberhaus e admirar uma vista panorâmica da cidade enquanto prova especialidades como truta com espinafre e purê de batata e pato crocante com repolho-roxo e dumplings.
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Dia 2
Passau-Melk
Distância: 199 quilômetros
Numa pequena sala de um mosteiro de 1293, entre grandes sacas de lúpulo e cevada, o diácono Hans Hofer opera as máquinas com maestria. Através de um painel eletrônico com a sua foto (vestindo uma longa bata marrom, como manda o figurino), ele comanda a temperatura e o envelhecimento de uma preciosidade: a cerveja da ordem trapista no único mosteiro austríaco licenciado para esse fim – há apenas oito fora da Bélgica.
Ali, à sombra de uma torre que se ergue imponente a 76 metros de altura, são fabricados 150 mil litros da bebida por ano, de três tipos: a escura Gregorius, a âmbar Benno e a clara Nivard. “Nosso processo de fabricação tem toques artesanais fundamentais”, diz Hofer, diretor de produção da Stift Engelszell. “A Gregorius, por exemplo, demora até dois meses para ficar pronta e leva o mel selvagem que colhemos nas florestas dos fundos do mosteiro.” Dos fundos do mosteiro, às margens do Danúbio, que fique claro.
O belo cenário desponta na paisagem a cerca de meia hora de Passau (28,6 quilômetros pela estrada B130), na cidadezinha de Engelhartszell an der Donau, logo depois da fronteira da Alemanha com a Áustria. O mosteiro, originalmente beneditino, tem uma igreja de estilo rococó erguida entre 1754 e 1764, com belos afrescos – mais recentes – no teto.
“Não parece Picasso?”, pergunta, rindo e orgulhoso, o padre Marianus, enquanto folheia o livro de partituras da missa dominical que aconteceria no dia seguinte. Ali há também uma lojinha providencial para comprar as bebidas de fabricação própria – e, além da cerveja, eles vendem 15 variedades de licor e gim. É mosteiro, mas está na moda.
Dali até Linz, a próxima parada (52 quilômetros adiante), a estrada serpenteia por vales cobertos de um verde intenso, tendo quase sempre o rio como companhia. Aqui e ali surgem casinhas com floreiras nas janelas, placas anunciando a produção de morangos biológicos, igrejas pintando a paisagem.
A sensação é a de ir, de repente, parar dentro dos cenários do filme A Noviça Rebelde. Não demora muito até a terceira maior cidade da Áustria aparecer no horizonte. Oásis com jeito futurista em meio ao clima predominantemente campestre, Linz tem 200 mil habitantes e foi a Capital Europeia da Cultura em 2009. Combina, com maestria, o ontem e o amanhã.
Ao lado de um centro histórico recheado de belos exemplares de arquitetura barroca, exibe dois highlights futuristas em forma de caixote de vidro: o Ars Electronica Center e, bem em frente, do outro lado do rio, o Lentos. O primeiro é um centro interativo de ciências e tecnologia; o segundo, um museu de arte moderna, com peças de Klimt e Andy Warhol no acervo. Mas o coração da cidade é a Hauptplatz, praça com uma agitação que vem da mistura de centenas de pessoas, artistas de rua, gostosos cafés com mesinhas ao ar livre e pontos de ônibus.
Quando bater a fome, a pedida é almoçar no Promenadenhof , pertinho do castelo. O menu, de especialidades austríacas, inclui o incontornável schnitzel (bife empanado, bem fininho), que vai voltar a aparecer em todos os menus da Áustria. Para encerrar, peça os famosos kaiserschmarrn, uma massinha doce frita e servida com açúcar, passas e limão, para acompanhar o café. Com ou sem sobremesa, uma passada no famoso Café Jindrak é indispensável, só para ter o gostinho de provar a linzertorte, uma receita que nasceu no século 17 e leva avelãs, especiarias e groselha.
E o ponto final do dia é em Melk, exatos 103 quilômetros adiante, uma vila de pouco mais de 5 mil habitantes onde o grande highlight é a Stift Melk , a mais famosa e grandiosa abadia austríaca, erguida em branco e amarelo no topo de uma colina, debruçada sobre o Danúbio. As vistas lá do alto, sobre os telhados da cidade, são incríveis, em todos os seus ângulos.
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Dia 3
Melk-Dürnstein
Distância: 30 quilômetros
Prepare-se para entrar num cenário de conto de fada para ser percorrido lentamente. Os quase 40 quilômetros que separam Melk de Krems an der Donau, sempre às margens do Danúbio, são recheados de vilinhas coloridas cercadas de vinhedos que sobem as montanhas em socalcos e vão ao encontro de fortalezas e imponentes ruínas de castelos.
Conhecida como Wachau, essa região da Áustria foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2000 – e é a cereja do bolo do roteiro. Há estradinhas dos dois lados do rio, a B3 e a B33. E, como as pontes não são muito frequentes, o ideal é, primeiro, percorrer um lado e, depois, explorar o outro. Sem pressa.
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A B3 liga Melk a Dürnstein pela margem esquerda do Danúbio, e é o caminho perfeito para a estreia na região. Feito de uma vez, o percurso leva menos de meia hora, mas aqui os mapas, as placas e os ponteiros do relógio importam menos que as vistas, os cafés e as taças do delicioso vinho branco local. Cada curva é uma surpresa.
A cerca de 15 minutos de Melk, está Willendorf, vilarejo famoso pelo sítio arqueológico que revelou ao mundo, em 1908, uma estatueta de Vênus de 25 milanos de idade. Esculpida em calcário e com 11,1 centímetros de tamanho, a original está exposta no Museu de História Natural de Viena.
Menos de cinco minutos depois, Spitz é um encanto de cidadezinha vinícola e uma parada estratégica para um café ou almoço às margens do rio. Enquanto os barcos embalam as horas nas suas curvas, aproveite para provar as delícias da região no Strandcafe Spitz, onde há simpáticas mesinhas em uma varanda debruçada sobre as águas. A salada de batatas é imperdível para acompanhar as carnes.
Na sequência, explore Weissenkirchen a pé – a igreja gótica, do século 15, brota abruptamente em uma pracinha e é dona de um impressionante altar barroco. Circular sem rumo pela região pode render algumas belas surpresas – foi assim que, numa despretensiosa tarde de domingo, chegamos a Elz a tempo de ver a banda da cidade tocando, com músicos em trajes típicos, e danças infantis.
Aconchegantes bares de vinhos, cafés e lojinhas de chocolate aguardam na micro Dürnstein (são apenas 800 habitantes!), dez minutos adiante, o ponto final do roteiro do dia e pouso ideal para as próximas duas noites. Ali, cerejeiras carregadas de frutas fazem sombra às margens do Danúbio (alguém pensou em piquenique?) e ruelas calçadas de pedras se espalham aos pés das ruínas do Castelo Kueringerburg, no alto da montanha.
Foi lá que, no final do século 12, o guerreiro rei Ricardo I, da Inglaterra, conhecido como Ricardo Coração de Leão, ficou preso por insultar o duque Leopoldo V, da Áustria (reza a lenda que, para ser libertado, ele teria pago a fiança com 35 mil quilos de prata).
O centrinho de Dürnstein é coroado por uma icônica igreja de fachada azul, a Stift Dürnstein, que se abre para lindas vistas do Danúbio a partir de sua varanda principal. Junto com os povoados adjacentes de Oberloiben e Unterloiben, a região concentra as mais famosas vinícolas locais, perfeitas para visitas e degustações. A maior delas é a Domäne Wachau; a mais aconchegante, a Weingut Emmerich Knoll.
Os proprietários da Knoll são da mesma família que opera o restaurante Loibnerhof – logo depois da Segunda Guerra Mundial, dois irmãos decidiram os negócios da família: um cuidaria das refeições e o outro dos vinhos para acompanhá-las. A casa é a melhor opção para uma deliciosa refeição típica. Ali, sob a sombra de frondosas macieiras, em grandes mesas de madeira com toalhas quadriculadas, prova-se um inesquecível parfait de foie gras com chutney de pêssego de entrada, boas carnes em receitas tipicamente austríacas e uma saborosa torta de massa folhada e creme de sobremesa. Para brindar, vinhos da casa, claro.
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Dia 4
Wachau
Distância: cerca de 80 quilômetros
Meros 8 quilômetros separam Dürnstein da maior cidade da região, a universitária Krems an der Donau. Para os padrões locais de vilas com poucas dezenas de pessoas, seus 25 mil habitantes, sinais de trânsito e postos de gasolina surpreendem num primeiro momento, mas a cidadezinha mantém os ares pacatos de campo cultivados nos arredores. Entre suas principais atrações, alguns museus, uma bela catedral barroca e bares de vinhos providenciais para provar a especialidade da região.
Do outro lado do rio, aonde se chega ao atravessar uma cenográfica ponte de ferro, fica a margem menos badalada (mas não menos interessante) do Danúbio. E quem prova isso de imediato é a Stift Gottweig, uma imponente construção cujos primeiros indícios remontam ao século 11.
O que se vê hoje em dia é resultado de uma bela reforma no século 18, depois de um incêndio. Mosteiro beneditino ainda em atividade, ele descortina linda vista do vale e do Danúbio – seja dos mirantes, seja das mesas ao ar livre estrategicamente posicionadas à beira do promontório do restaurante, que prepara menus tipicamente austríacos com toques moderninhos.
Quem, desde o início, pensou em rio e imediatamente associou a ideia a praia vai ter seus desejos realizados a pouco mais de 11 quilômetros dali, em Mauternbach. Sim, é possível nadar no Danúbio! E com direito a faixas de areia e pedra para tomar sol e um belo visual das cidadezinhas logo em frente como companhia.
Depois do relax, um desvio morro acima conduz ao vilarejo de Unterbergern – uma vez no Centro, em frente à igreja de fachada amarela, siga as placas para Ferdinandswarte. Quando a estrada acaba, uma trilha curta leva a um espetacular mirante, encarapitado na floresta, que desafia as leis da gravidade com as melhores vistas dos vinhedos de Oberloiben e Unterloiben, na margem oposta do rio.
As prainhas continuam em Rossatzbach, em que os vinhedos vão ao encontro das águas do Donau. Do outro lado agora é Dürnstein que se exibe com a sua bela igreja. Fica ali nos arredores uma das melhores pedidas para o almoço: as gostosas mesinhas ao ar livre espalhadas entreos vinhedos do restaurante Pulker’s Heuriger. Se o clima não estiver grandes coisas, o salão com um irresistível jeito de taberna, ambiente rústico e lareira substitui o cenário lá de fora com uma boa dose de aconchego. No menu, queijos e embutidos artesanais fazem companhia ao famoso leitão com a pele tostadinha à pururuca.
O grand finale está reservado para 20 minutos adiante, pela B33. Erguido em uma poética curva do Danúbio no início do século 12, o Castelo-Fortaleza Schönbühel é um daqueles típicos castelos que temos no imaginário. Hoje propriedade particular, ele foi construído sobre um promontório de pedra a cerca de 40 metros de altura e compõe o cenário de um dos mais belos fins de tarde da região. O melhor ponto para admirá-lo fica às margens do rio, ao lado do camping da cidade.
Melk está agora a pouco mais de 5 quilômetros de distância. O retorno a Dürnstein pode ser feito por qualquer uma das estradas que serpenteiam ao lado do rio – basta escolher a de que você mais gostou; tanto a B3 quanto a B33 somam cerca de 30 quilômetros.
Mas, antes de voltar ao hotel, ainda vale fazer uma parada tática em Krems an der Donau para investir em um jantar tão inesquecível quanto o roteiro do dia. Um dos melhores restaurantes de Wachau, o Zum Kaiser von Österreich serve aconchegantes jantares à luz de velas com as criações do chef Hermann Haidinger, um grande fã dos pratos de caça e dos ingredientes típicos da região.
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Dia 5
Dürnstein-Viena
Distância: 85 quilômetros
Ao longo da S5 e da A22, o caminho segue verde e pacato até que, menos de uma hora depois, o Danúbio retorna ao cenário, junto com um improvável skyline, para dar as boas-vindas à capital imperial da Europa. Viena aparece na paisagem com seus sofisticados palácios, clássicos edifícios renascentistas, praças majestosas e cúpulas pontiagudas de basílicas, como uma ária abrupta e dramática.
Delineado pelo Ringstrasse, um anel com três pistas, o centro histórico, chamado Innere Stadt, concentra as principais atrações e pode ser totalmente explorado a pé. Deixe o carro em um estacionamento e prepare-se para bater perna. O coração de Viena bate mais forte na Stephansplatz, a praça principal, ladeada por garbosos cocheiros com as suas charretes, onde fica a impressionante Catedral de Santo Estêvão, ou Stephansdom, com o seu belo telhado colorido em zigue-zague. A torre norte eleva-se a 70 metros de altura como uma guardiã de tamanha elegância. Para alimentar os prazeres mundanos, bem em frente está uma loja temática da Manner , marca dos melhores waffers – o de avelã é imperdível – e chocolates da Áustria.
Como a lista de atrações essenciais de Viena pode preencher dias e dias, um dia perfeito na cidade exige certo planejamento e algumas escolhas certeiras. A 1 quilômetro de distância da catedral fica a Wiener Staatsoper, a famosa Ópera de Viena, a casa erguida no século 19 que consagrou gênios como Gustav Mahler e Richard Strauss.
Se não for possível assistir a algum espetáculo, vale fazer uma visita pelos interiores. “Eu estou tããão feliz!”, exclama uma turista canadense – assim, para todos e ninguém – , no banheiro de um café nos arredores. “Esta é a minha primeira vez em Viena e é tudo tão lindo.” Viena tem dessas coisas.
Na saída, já deve ser a hora do almoço, e as cercanias guardam algumas das melhores especialidades locais. Colado na Galeria Albertina, ali ao lado, o Bitzinger Würstelstand (bitzinger-wien.at) serve o melhor cachorro-quente da cidade, com a típica salsicha bratwurst grelhada, em seu quiosque decorado com um imenso coelho verde no teto. Inconfundível, entre tantos estandes que vendem a comida de rua mais famosa do país.
Para acompanhar, há cervejas artesanais e até champanhe. O glamour fica completo com um lugar nas escadarias da fonte logo em frente. Para fechar a refeição, a sobremesa dos deuses está a poucos passos de distância dali, geralmente com filas à porta. Desde 1832, a confeitaria do Hotel Sacher serve um dos doces mais saborosos do planeta, a sachertorte, feita com chocolate e geleia de damasco, finalizada com uma generosa (e divina) capa de chocolate. Já que está por lá, aproveite e peça também um café com licor e chantilly.
Reserve a parte da tarde para gastar todas as calorias do almoço no Hofburg, um complexo de palácios que abrigou a dinastia dos Habsburgo entre os séculos 13 e 20. Ali o destaque são os kaiserappartments, os aposentos imperiais, onde fica o Museu de Sissi, a imperatriz. O acervo de roupas e joias é fascinante – está lá, inclusive, o vestido que ela usou às vésperas de seu casamento.
Junte toda a sua reserva de energia e rume para o MuseumsQuartier, onde estão reunidos os melhores museus da cidade, caso do Leopold, dono de um reluzente acervo da arte austríaca, e do Mumok , o museu de arte moderna com peças de artistas consagrados, como Pablo Picasso e Andy Warhol.
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No final do dia, rume novamente para as margens do Danúbio, sempre ele. Mais especificamente para o Donaukanal, entre as pontes Augatrenbrücke e Salztorbrücke, onde, nos meses mais quentes do ano, os bares e restaurantes ficam animadíssimos e com clima de praia. Alguns deles capricham e espalham mesinhas sobre um piso de areia.
Uma das melhores opções do lugar é o Tel Aviv Beach, que serve uma ótima salada de quinoa com aspargos frescos grelhados e iogurte grego, além de falafel, kebab, húmus… É o lugar ideal para fazer muitos brindes de cerveja ou com algum dos vinhos locais. E para traçar os planos de voltar – é que a cidade imperial merece muitos outros dias mais.
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Dia 6
Viena-Bratislava
Distância: 70 quilômetros
Enquanto desenha o skyline do centro histórico minuciosamente, o arquiteto e artista tcheco Pavel Filgas resume seus sentimentos sobre a capital da Eslováquia, cidade que escolheu para viver sete anos atrás. “A arquitetura é tão fascinante quanto a de outras capitais europeias dos arredores, caso de Viena, Praga, Budapeste”, diz ele. “A diferença é que, aqui, você realmente se sente em casa, nada é muito cheio, as pessoas são amigáveis, tudo é perto.”
A despeito de seus 430 mil habitantes, Bratislava tem escala humana – e é esse o seu maior trunfo. O centro histórico, delimitado pelas águas do Danúbio, é repleto de ruelas estreitas (muitas delas fechadas para carros) e pode ser percorrido em poucos minutos a pé ou em um simpático trenzinho vermelho que se mistura à paisagem. A Hlavné Námestie, a praça principal, é recheada de simpáticos cafés com mesinhas ao ar livre, e onde fica a fonte de Roland, de meados do século 16.
De lá são poucos passos até a Catedral de São Martinho (Rudnayovo Námestie, 1), que data do século 14, palco da coroação de nada menos que 11 monarcas do Império Austro-Húngaro – entre eles, a rainha Maria Theresa. Na rua de trás do templo fica uma das melhores pedidas para quando bater a fome: a sopa aveludada de aspargos com creme azedo do Kontakt, restaurante moderninho que serve também frango com páprica acompanhado de nhoque grelhado e um delicioso confit de barriga de porco.
Bratislava, como toda cidade tradicional do Leste Europeu, tem uma sólida tradição musical clássica, e sua principal casa de ópera, o Teatro Nacional Eslovaco, erguido em 1886, é a estrela da Hviezdolavovo Námestie. Vale checar o calendário e tentar assistir a uma apresentação.
A principal ponte que cruza o Danúbio é a SNP – ela se estende por mais de 300 metros sobre o rio. Em uma das pontas fica o UFO , uma torre em forma de disco voador onde funciona um mirante e um restaurante com belas vistas da cidade. Lá do alto, a quase 100 metros, tem-se um panorama completo da cidade com a ponte no meio: de um lado, o centro histórico; do outro, o Castelo de Bratislava , nosso próximo destino.
A poderosa construção, cercada de muralhas de pedra e com quatro torres emblemáticas, começou a ser construída no século 9 e paira majestosamente sobre a cidade e o rio. Fica em um dos seus pátios o restaurante Hradná Hviezda, dono de um interior elegante e com gostosas mesinhas ao ar livre. Ali o jantar pode ser embalado por entradas como a truta defumada com espuma de limão e o cordeiro em crosta de parmesão e manjericão sobre vinagrete quente de frutas e batatas ao alecrim.
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Dia 7
Bratislava-Budapeste
Distância: 200 quilômetros
De um lado, colinas e monumentos medievais. Do outro, uma metrópole vibrante, plana, com monumentos que vão do barroco e neoclássico ao art nouveau. Separadas pelas águas do Danúbio, Buda e Peste se transformaram em uma só cidade apenas em 1873 e desde então ficam honrosamente entre os centros mais belos e impressionantes do mundo. Tudo é monumental e grandioso às margens do rio, a começar por suas suas pontes – a principal delas, Széchenyi Lánchíd (a lendária Ponte das Correntes), foi a primeira ligação permanente entre as duas margens, erguida com duas torres em 1849.
Um dia perfeito em Budapeste deve começar por Peste por uma única razão: Buda concentra as melhores vistas da cidade, ainda mais especiais no final do dia. Belváros, o seu centro histórico, tem o epicentro na praça da Basílica de Santo Estêvão, erguida em tons de vermelho e dourado.
O templo guarda um elemento com um quê de estranheza que é venerado pelos católicos húngaros: a mão mumificada de Santo Estêvão. A poucos passos dali fica o Parlamento, finalizado, em estilo neogótico, em 1902. É ele o grande cartão-postal que domina a margem direita do Danúbio e que pode ser observado, em todo o seu esplendor, a partir das colinas de Buda.
Assim como Viena, Budapeste venceu séculos à sombra da tradição dos cafés, pomposos e elegantes, pontos de encontro para um drinque, uma refeição ou, apenas, um simples café propriamente dito. Passar pelo Central, aberto desde 1887, é como voltar a esses anos dourados, com direito a confortáveis poltronas de couro, balcões de madeira e lustres rococós. Um lanche por lá pede um dobos, uma espécie de bolo de caramelo em várias camadas.
Quem já estiver no mood do almoço pode provar criações mais elaboradas, como o coelho servido com um molho cremoso. Entre os drinques, o central cappuccino martini impõe respeito: leva expresso, Kahlúa, Baileys, vodca, espuma de leite e grãos de café. Não muito longe dali, o Up and Down é uma versão mais moderninha mas com o mesmo propósito – e com belas vistas da Szabadság, a Ponte da Liberdade. Entre os drinques, a especialidade da casa é o bloody mary. Não deixe de visitar o andar de baixo, decorado com materiais de uma antiga e tradicional fábrica de metais desativada.
Nos últimos anos, Budapeste lançou um contraponto a essa cena elitista. Tudo começou quando imóveis históricos em ruínas abandonadas começaram a ser ocupados para festas e, depois, para bares improvisados. A moda pegou e hoje, oficializados, os romkocsmas, ou, literalmente, “pubs-ruínas” são uma febre na cidade. O precursor da onda foi o Szimpla Kert , casarão com vários ambientes, animado desde o meio da tarde até altas horas.
A incursão por Peste fica completa com uma ida ao Budapest Batthyány Market Hall , onde é possível conhecer (e levar para casa) as mais saborosas iguarias locais, caso do foie gras, do adocicado vinho Tokaji e da autêntica páprica. Quem preferir provar os sabores típicos na rua tem uma baita opção no supercool Karaván, um mercado meio hipster dedicado à street food.
A essa altura já deve ser o fim de tarde, hora de atravessar o Danúbio e curtir o visual em Buda, onde o principal cartão-postal é o Castelo. Há mais de 700 anos a região abriga um castelo no mesmo ponto, mas a enorme construção que se vê hoje é recente – foi erguida, nos moldes do palácio que lá havia no século 18, depois da Segunda Guerra Mundial.
De qualquer ponto das colinas a vista das pontes e de Peste são arrebatadoras, mas algumas são realmente especiais – é o caso daquela que se tem a partir do Bastião do Pescador. O acesso às varandas e torres, que se erguem a 140 metros de altura, é gratuito. E é lá no alto que termina a viagem, com os olhos pousados nas águas salpicadas de luzes de um Danúbio sempre a correr rumo ao fascínio do Oriente.
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Quando ir?
O inverno é rigoroso. Prefira viajar entre abril (quando já começa a esquentar e a primavera deixa tudo mais colorido) e setembro (antes dos ventos frios do outono). Agosto é o auge das férias escolares: tudo fica mais cheio e caro.
Dinheiro
O euro, exceto na Hungria, que usa o forinte ( €1 = HUF 308).
Língua
Na Alemanha e na Áustria, alemão; na Eslováquia, eslovaco; na Hungria, húngaro. Inglês fluente não é tão comum, mas isso não chega a ser um problemão.
Documentos
Passaporte válido por seis meses.
Como chegar?
A Latam e a Lufthansa voam direto até Frankfurt. De lá, o trem da Deutsche Bahn sai desde €20 até Passau ou €50 até Bratislava.
Publicado na edição 262 da Revista Viagem e Turismo.