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Bélgica: 24 horas em Bruges, com arquitetura, história e rendas

Minúscula, berço das rendas, é uma cidadezinha romântica - tem até Lago do Amor. E pode ser desbravada em 24 horas!

Por Bruno Favoretto
Atualizado em 4 mar 2022, 15h15 - Publicado em 21 jun 2018, 17h08

Certa vez, me relataram um papo entre mãe e filha. “Sei que seu noivo mora em Birigui, mas não é melhor fazer o casamento aqui, em São Paulo? Assim, seus tios mais velhos não vão ter que viajar por 500 quilômetros”, disse a mãe. “Mas os tios podem aproveitar pra turistar num lugar diferente”, argumentou a rebenta. “Birigui não é Bruges, minha filha”, treplicou a mãe.

Nada contra a aprazível Birigui, pelo contrário, mas associar Bruges a um destino inesquecível diz muito sobre a cidade. A 23 minutos de trem de Ghent ou a uma hora de Bruxelas, é tão minúscula quanto graciosa. Pode até ser percorrida a pé, então rende como bate e volta – mas melhor mesmo seria permanecer ao menos 24 horas.

“Ponte”, em flamengo, Bruges foi construída sobre as águas no século 12 e, como Ghent, preserva a atmosfera medieval, com canais que lhe renderam a alcunha de Veneza do norte. Existem até carruagens com cocheiros, algo que abomino, mas me garantiram que os cavalos trotam um dia e folgam dois, além de descansarem e beberem água durante os passeios de meia hora. Acreditei, por tudo que se vê.

Arquitetura e história

Outra razão para se valer da máxima de que ela parou no tempo: conserva quatro portais da velha muralha de pedra que a rodeava e um estandarte defensivo de 1401, a Poertoren Tower, a Torre de Pólvora. Pertinho da Station Brugge, a torre pode ser seu primeiro contato com a cidade.

Sugiro, porém, voltar numa outra hora, sem mala, para combiná-la com um piquenique no Minnewater, parque conhecido como Lago do Amor, atraente no inverno com árvores cobertas de neve, no verão com festivais.

Belfast, Bruges, Bélgica
O campanário Belfort é meio torto, como a Torre de Pisa, e tem um sino que badala a cada 15 minutos. Crédito: (Pieter D'Hoop/Reprodução)

Bagagem guardada, começo meu giro pelo epicentro de tanta beleza, que foi aumentada nos tempos em que Bruges era ricaça, um dos maiores núcleos comerciais e artísticos da Europa entre os séculos 13 e 15. Saindo da Rua Oude Burg, logo chego a uma espécie de pátio de tijolos. Avisto o Belfort, campanário cujo sino badala a cada 15 minutos.

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Seu topo, alcançado após 366 degraus, te faz enxergar tudo. Com 83 metros de altura, é como a Torre de Pisa, pois está torto em 1 metro, mas não fica cedendo e sendo consertado como na Itália. Segundo a Anne, guia que arranha o espanhol, lá é tudo de tijolo porque ele é abundante no solo de Flandres, é mais em conta que trazer pedras da França.

Centrinho

O campanário Belfort está emendado no burburinho justificável da Grote Markt, a praça do mercado, que há décadas aboliu os carros. Coração de Bruges desde 958, nas manhãs de quarta mantém uma feira com barracas de queijos e frutas. A praçona também é legal pelas casinhas coloridas que abrigam restaurantes e cafés; pelo neoclássico prédio da Corte da Província; e pelo Historium, museu interativo que remonta à Bruges medieval, com realidade virtual e teatro de bonecos, bom para crianças – tome uma Duvel no bar-café do terraço, o Duvelorium.

Historium, museu em Bruges, Bélgica
O museu interativo Historium tem realidade virtual e teatro de bonecos. Crédito: (Divulgação/Divulgação)

Bastam poucos passos, mesmo, para chegar à outra praça queridinha e mandatória, a Burg. Ideal para flagrar o vai e vem, a antropologia local. Ver o povo sujando o rosto com a calda dos waffles e o molho das fritas, que teriam sido inventadas pelos belgas, há mais de 300 anos, num inverno rigoroso que congelou os rios e a pesca, aí o jeito foi cortar as batatas no formato dos escassos mariscos.

Mas, na Burg, curti mais entrar na Basílica do Sangue Sagrado, gótica e escura por fora, cheia de ouro por dentro. Razões: a) na capelinha do térreo é possível tocar o joelho de uma figura de Jesus de madeira e fazer um pedido – o meu se realizou; b) no segundo piso, é exibido, às sextas, o frasco que conteria o sangue de Cristo, preservado por José de Arimateia após a lavagem do corpo, e levado pelo conde de Flandres, em 1250.

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Basílica do Sangue Sagrado, Bruges, Bélgica
A Basílica do Sangue Sagrado, escura por fora, cheia de ouro por dentro. Crédito: (Hemis\/\Alamy Stock Photo/Latinstock/Reprodução)

Essa basílica é meio escondida numa esquina da Praça Burg, à esquerda do Stadhuis, grandioso prédio da prefeitura. Na fachada de pedra arenisca, um carnaval classificado por especialistas como gótico-romanesco, com janelas em forma de ogiva, figuras sacras e de governantes de Flandres. Lá dentro, obras de arte esplendorosas, inclusive paredes pintadas com afrescos do século 19.

À direita da edificação, despeça-se da Burg com uma olhada no Oude Griffie, prédio adornado por um conjunto de estátuas douradas.

Das rendas aos sabores

Segui o passeio pela Hoogstraat, ruela com comércio criativo. Há galerias de arte pop como a 30/Highstreet. Ateliês como o Djamil Zenasni, restaurador de tecidos, e lojas como a Madam Mim, onde a dona tece roupas retrô a mão.

Bruges e Flandres são consideradas berço da renda no século 15 – italianos contestam. Há melhores barganhas até em toalhas, blusas e enfeites ao sair um pouco desse burburinho, nos negócios menores em que se vê a manufatura – e sem o risco de comprar uma peça made in Bangladesh, como nas lojas de suvenir.

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Rendas de Bruges, Bélgica
Rendas de Bruges. Crédito: (Divulgação/Divulgação)

A ‘t Apostelientje vende peças criadas 100% a mão e rendas antigas emolduradas. É anexa ao Kantcentrum, o museu dedicado à renda, que também oferece produtos pacientemente confeccionados por senhorinhas.

De volta às cercanias da Grote Markt, desfecho noturno bacana é combinar um jantar no Café Marcel, no hotel homônimo, com um espetáculo no renascentista Stadsschouwburg.

Juliette's, Bruges, Bélgica
A loja Juliette’s vende os típicos biscoitos speculoos e formas bacanas para presentar. Crédito: (Divulgação/Divulgação)

É dia da minha saideira. Encantado, acordei. Me esbaldei com os pães da Le Pain de Sebastien. Provei chocolates no Choco Story, museu da matéria. Belisquei biscoitos speculoos, típicos belgas/holandeses, na Juliette’s, loja que vende forminhas legais para presentear.

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Pena que não deu para ir aos moinhos de vento. Speculoos, moinhos, canais… Não, não vou comparar de novo a Bélgica à Holanda, países mais que fronteiriços, quase gêmeos. E que nenhum belga ou dutch leia isso, pois, como vizinhos, sustentam certa rivalidade, podem ficar brabos e escrever uma matéria nos comparando aos argentinos.

Quando ir

De abril a junho, na primavera, o clima é agradável e as paisagens atingem o ápice. De julho a setembro, os turistas chegam em peso para os festivais e os preços sobem um pouco. Ainda que chuvoso, o outono, de setembro a novembro, deixa os bosques alaranjados. O inverno é rigoroso, venta muito – vale para quem procura os mercados de Natal de Bruxelas e Bruges.

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