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Absurdo – Flor do deserto

Em La Serena, a vida é bela, colorida e cheia de observatórios astronômicos 

Por Talita Ribeiro
Atualizado em 16 dez 2016, 09h13 - Publicado em 13 set 2011, 19h17

Participar da décima chuva do ano não parece ser um bom presságio para quem chega a uma cidade litorânea onde boa parte das atrações depende do tempo bom. Mas em La Serena, 474 quilômetros ao norte de Santiago, essa tempestade trouxe as flores – as flores do deserto. Esse espetáculo, raro, deve seguir até novembro por causa do fenômeno climático El Niño, que aumenta a temperatura no Oceano Pacífico de tempos em tempos. Neste ano, já choveu três vezes mais que o usual nessa que é a segunda cidade mais antiga do Chile (a primeira é Santiago). Como consequência, flores, como a simbólica añañuca vermelha, brotaram no ressequido chão. Para vê-la, basta seguir até o Parque Nacional Fray Jorge, declarado Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco.

Outra opção é fazer um passeio ao Valle Elqui, lugar muito interessante se você tiver um ou dois dias, já que ali ficam as principais empresas produtoras de pisco, o destilado de uva, bebida que é a base dos deliciosos pisco sours, a caipirinha chilena. E no vale também há observatórios astronômicos. Você pode embarcar em um ônibus no terminal de La Serena, desde $ 2 000 (cerca de R$ 8), rumo a Pisco (é o nome do lugar), ou contratar um tour nas agências do centro, desde $ 8 000, que inclui visita a um produtor da bebida, almoço no restaurante solar – onde a comida é feita em “fogões” aquecidos pelos raios do sol – e paradas em Monte Grande e Vicuña, esta última a cidade onde nasceu a prêmio Nobel Gabriela Mistral (pois é, o Chile tem dois Nobel, o outro é Neruda). Nos versos da escritora chilena há, quase sempre, a lembrança da infância próxima aos Andes.

Mas, para quem não cresceu por aqui, o que realmente impacta é o céu, considerado um dos mais limpos do mundo. A olho nu é possível ver planetas do tamanho de azeitonas. Não é de estranhar que na região de Coquimbo, onde está La Serena, existam dez observatórios astronômicos, sendo cinco turísticos. Também é possível visitar os observatórios científicos, como o de Cerro Tololo, mas aí é preciso fazer a reserva com bastante antecedência e se segurar para não cometer gafes, como chamar os meteoritos que entram na atmosfera de estrelas cadentes. Vale, de qualquer forma, cruzar os dedos e fazer um ou mais pedidos escondidos.

O sol aparece 320 dias por ano, em média, em La Serena, e facilita muito que você embarque rumo às islas Choros e Damas, que formam a Reserva Nacional Pinguino de Humbold, casa de pinguins, golfinhos-nariz-de-garrafa, lobos-marinhos e pelicanos. Para chegar ali, porém, é preciso encarar 120 quilômetros de carro até o povoado de Punta Choros e mais uma hora e meia de navegação pelo Pacífico até Damas, onde é possível mergulhar em águas azuizinhas e frias (em média, 10 graus). O passeio dura um dia inteiro. Na volta a La Serena, bata pernas pelo centro, onde há lojas interessantes na Calle Arturo Prat e uma bela catedral na Plaza de Armas. Para as lembrancinhas, o mercado La Recova é infalível, com artesanato, luvas de lã de alpaca e doces feitos do papaia local.

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