5 locais que guardam a memória de massacres da humanidade
Estes locais foram palco ou são memoriais sobre a história sangrenta da humanidade - e devem ser conhecidos para que tais episódios jamais se repitam
O ser humano pode ser ruim, às vezes. Porém, é necessário admirar a força que as pessoas encontram para se reerguerem em situações difíceis. A destruição pode ser bela justamente porque a beleza encontra-se na capacidade de renascer, na resiliência. Esse é o encanto do homem: a habilidade de se transformar, crescer e permanecer.
Prepare-se para conhecer lugares que foram massacrados, dizimados, destruídos e levados abaixo. Saiba o porquê e o que os levou a mudar sua história e renascer como um novo lugar, hoje, propícios para turismo para você visitar procurando por história – e fique ciente para que episódios assim jamais se repitam.
1. Memorial Nyamata, Ruanda
Os hutus eram o grupo étnico com o maior número de pessoas em Ruanda, na África. O segundo eram os tutsis que, apesar de minoria, detinham grande poder – sempre foram os líderes do país. Em 1994, extremistas hutus tomaram conta do país e, entre 6 de abril e 4 de julho, um período de apenas três meses, manejaram matar mais de 500 mil pessoas de forma extremamente violenta. Os que conseguiram escapar fugiram para campos de refugiados, enquanto a maiorias das mulheres capturadas foram abusadas sexualmente, dando luz a crianças que mais tarde foram assassinadas.
Até hoje o país sofre com problemas econômicos, com a pobreza extrema e com conflitos étnicos e religiosos. O lugar escolhido para lembrar as vítimas é o Memorial Nyamata, onde se erguia uma igreja católica, que refugiou milhares de tutsis durante o massacre. Atualmente, o espaço abriga os restos mortais de mais de 45 mil pessoas – destas, 10 mil foram mortas ali mesmo. Os mais impressionantes de se ver são os crânios que expõem marcas de perfurações causadas por armas brancas e buracos de tiros e as manchas de sangue nas paredes, onde crianças tiveram suas cabeças batidas até a morte.
Sala onde as crianças foram brutalmente assassinadas (foto: iStock)
2. Auschwitz, Polônia
Um silêncio onipresente e inquietante. É assim que se encontram os locais construídos em memória aos judeus mortos no Holocausto. Durante a Segunda Guerra, os hebreus e – o que poucos sabem – gays, ciganos, deficientes físicos e mentais – foram mandados para campos de concentração e forçados a trabalhar e a viver em condições extremas. Muitos morreram em câmaras de gás, por fome, cansaço, doenças ou assassinados. Foram seis milhões de judeus mortos.
Um passeio importante para entender a história da guerra são os campos de concentração. O maior de todos eles foi o de Auschwitz, na Polônia, onde mais de 400 mil pessoas morreram e que é conhecido pela frase “arbeit macht frei”, que significa “o trabalho liberta” e era vista pelos prisioneiros ao entrar no campo. Um verdadeiro sinal de falsa esperança.
Entrada de Auschwitz com a famosa frase “o trabalho liberta” (foto: jechstra)
Já em Berlim, na Alemanha, o Memorial do Holocausto é uma atração obrigatória e uma parada em respeito a história da humanidade. O monumento consiste em 2,711 blocos retangulares de concreto que representam os judeus mortos. Uma sala subterrânea, conhecida como “Local da Informação”, ainda forma um pequeno museu que mostra a história das vítimas do nazismo.
O Memorial do Holocausto em Berlim, também conhecido como Memorial aos Judeus Mortos da Europa, projetado pelo arquiteto Peter Eisenman (foto: Jonathan)
3. Hiroshima e Nagasaki, Japão
Hiroshima e Nagasaki eram cidades de madeira. Não foi à toa que os americanos as escolheram para realizar um dos eventos mais chocantes da história da humanidade. Quando as bombas caíram, não só as pessoas morreram instantaneamente, como a cidade inteira queimou. Alguns pereceram com a radiação, outros com queimaduras, com a fumaça ou bebendo água contaminada. Considerando o passar do tempo e o contato prolongado com a radiação, foram mais de 300 mil mortos.
Ao pisar em Hiroshima é quase impossível pensar no horror que se passou por aquelas ruas. O passado está para trás e tudo que os japoneses pensam é no futuro. Porém, há locais como o Memorial da Paz de Hiroshima, um prédio que sobreviveu quase intacto ao bombardeio e que que foi preservado, mesmo estando a apenas 150 metros do local em que a bomba caiu. Ali, encontra-se um museu com fotos, documentos e resquícios que discutem a necessidade de ataques nucleares. O Parque Memorial da Paz também faz parte do roteiro em respeito a tragédia.
Genbaku ou Memorial da Paz de Hiroshima, o prédio símbolo da sobrevivência japonesa (foto: cmbjn843)
Já em Nagasaki, há um monumento construído no Ponto Zero, o local exato que a “Fat Man” – como era chamada a bomba – caiu e explodiu, espalhando calor e radiação.
O Ponto Zero, em Nagasaki (foto: Emil Olsen)
4. Killing Fields, Camboja
Vermelho. É essa a cor do sangue das pessoas que foram assassinadas e a cor do grupo comunista “Khmer Vermelho”, o responsável por realizar o que ficou conhecido como “genocídio cambojano”, entre 1975 e 1979.
Foram 4 anos de regime e quase 2 milhões de vítimas. Parece pouco para um quadriênio? Mas, para números da época, cerca de 25% da população do país foi eliminada. Entre as vítimas, estavam políticos da oposição, cristãos, muçulmanos, pessoas de classe média consideradas “estudadas” e pessoas com mãos macias, o que pode parecer bobo, mas demonstrava como o líder, Pol Pot, queria eliminar pessoas que considerava levar uma vida “leve”.
Um belo e agradável campo aberto disfarça os montes de crânios empilhados, os túmulos coletivos e as atrocidades que ali aconteceram. Não é uma cena para os fracos do estômago, mas os Killing Fields servem em memória dos que morreram em um dos mais violentos episódios da humanidade. Visitar este lugar pode ser difícil, mas é o principal ponto turístico do Camboja.
Crânios em exposição nos Killing Fields (foto: Suzanne)
A capital, Phnom Penh, ainda conta com o Museu do Genocídio Tuol Sleng. O lugar costumava ser uma escola, mas durante a carnificina, continuou funcionando como um lugar de tortura e “ensino” das regras às pessoas que se opunham ao regime. Somente 12 prisioneiros saíram das celas com vida.
As celas da prisão, onde os prisioneiros eram mantidos (foto: Thinkstock)
5. Catedral Armênia da Santa Cruz, Turquia
A Constantinopla já foi palco de importantes eventos históricos ao longo dos séculos. Mas, foi em 1915, que assistiu um dos seus piores episódios. Por discriminação, o governo otomano decidiu eliminar a população armênia de seu território aos poucos, chegando em 1923 a quase 1,5 milhões de pessoas mortas. Os nazistas não foram os primeiros ou únicos a matar por xenofobia.
Antes da Grande Guerra, o massacre começou assassinando os homens de origem armênia. Depois, mulheres, crianças e idosos foram induzidos a participar de marchas da morte ao Deserto Der-El-Zor, na Síria, sem comida, água e frequentemente passando por abusos como estupros, roubos e agressões. Esse segundo grupo também sofreu com queimaduras em campos de extermínio e bebês foram jogados contra árvores até a morte. Até hoje, o deserto contem túmulos de parte dessas pessoas.
Atualmente, não existe um memorial ou monumento que homenageia a morte dos armênios na Turquia, porque o país se recusa a admitir o acontecimento como um genocídio, argumentando que as mortes ocorreram somente graças à Primeira Guerra. Entretanto, há locais de origem armênia que resistiram ao massacre, como a Catedral Armênia da Santa Cruz, na ilha de Akhtamar, que foi parcialmente destruída e teve seus monges brutalmente aniquilados. Presentemente, há um museu em seu interior.
A igreja armênia que foi atacada pelos turcos (foto: University of Hawaii Museum Consortium)
Na Armênia, no entanto, há o Tsitsernakaberd, um belo memorial em sua capital, Yerevan, que lembra com pesar a morte de parte de seu povo e, ao mesmo tempo, simboliza o renascimento da nação armênia.
Memorial do Genocídio Armênio, em Yerevan, capital da Armênia (foto: Richard Tanton)
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