O Teatro Cultura Artística, que acaba de ser reinaugurado atrás da Praça Roosevelt, mal abriu as portas e já se tornou um programa imperdível no centro de São Paulo. Estive lá no sábado, 31 de agosto, para a apresentação da soprano búlgara Sonya Yoncheva e do pianista escocês Malcolm Martineau. Foi antológico!
A casa projetada por Rino Levi e Roberto Cerqueira César foi quase inteira destruída por um incêndio em 2008. O que restou da tragédia foi o painel da fachada feito em mosaico de 48 metros de comprimento de autoria de Di Cavalcanti. Agora, após 16 anos e investimentos de R$ 150 milhões, o teatro volta a abrilhantar a rua Nestor Pestana com todo seu esplendor.
No térreo, com acesso direto pela calçada, abriu uma unidade da livraria Megafauna, que já existe no edifício Copan. À esquerda de quem entra no saguão fica o átrio onde foi instalado o café do foyer. Um janelão imenso descortina a Praça Roosevelt, que se vê melhor do andar de cima. O que impressiona no café são as duas imensas tapeçarias da artista Sandra Cinto, que também idealizou, junto com engenheiros, a arte que decora as paredes da sala principal de concertos.
Ainda no térreo fica a sala menor, de 150 lugares, que sediará apresentações, palestras e seminários com enfoque na formação de público. Em parceria com a Sala Jaú, uma série eventos estão agendados para acontecer antes dos espetáculos e também cursos propondo um diálogo entre música e literatura.
No primeiro andar, uma ampla ante-sala muito aconchegante convida a ficar antes dos espetáculos e nos intervalos. O espaço é decorado com poltronas que são releituras de peças desenhadas por Giancarlo Palanti, arquiteto que foi sócio de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Barbi no Studio D’Arte Palma.
Basta entrar no auditório principal para o queixo cair. Chama a atenção o fato de ser uma sala intimista, de 773 lugares (originalmente eram 1150), e também o amarelo das paredes que ganhou intervenções em relevo de Sandra Cinto e que colaboram com a acústica. O palco todo com ripas de madeira tem portas camufladas nas duas laterais para acesso dos artistas.
E que apoteose foi a entrada da diva Sonya Yoncheva e do pianista Malcolm Martineau! Na segunda parte do programa o ponto alto foi Sonya esbanjando sensualidade e humor ao interpretar Habanera, a mais famosa ária da ópera Carmen, de Bizet.
O Cultura Artística renasce tendo o suprassumo da acústica. Quando em algum ponto da sala uma pessoa da plateia tossiu e uma outra deixou cair o libreto no chão, foi como se tivesse acontecido do meu lado. Sim, um celular também tocou lá pelas tantas e foi um breve auê – menos mal que aconteceu entre uma canção e outra e os artistas até fizeram piada.
Agora a melhor notícia: o teatro soltou no Instagram que venderá os ingressos que sobrarem no dia do espetáculo por R$ 20, com direito a meia-entrada, sempre meia hora antes, pagamento apenas em dinheiro – no sábado, os ingressos disponíveis na internet custavam R$ 550 mais R$ 110 de taxa. A boa notícia é que uma série de concertos dominicais a preços na casa dos R$ 30 estão programados para acontecer até o fim do ano, fique ligado na programação.
A rua Nestor Pestana tem programas para se fazer antes e depois do teatro. Antes: café no Por um Punhado de Dólares, que abriu uma padaria na porta ao lado. Depois: esticada no Drosophyla, um dos bares mais lindos de São Paulo.