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Velho Mercado Novo: o melhor lugar de Belo Horizonte

Mais do que comer bem e sem frescura, o Mercado Novo resgata a identidade da capital mineira na estética e nos cardápios

Por Fabricio Brasiliense
Atualizado em 15 nov 2022, 15h28 - Publicado em 8 jul 2022, 20h48
Velho Mercado Novo de Belo Horizonte
Cachaçaria Lamparina: viagens por Minas Gerais em busca dos melhores alambiques.  (FBrasiliense/Arquivo pessoal)
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Lembro até hoje da grata surpresa que foi pisar na loja A Vida Portuguesa, em Lisboa. O resgate do comércio tradicional capitaneado por Catarina Portas foi responsável por trazer de volta marcas e produtos esquecidos, mas que ainda habitavam a memória afetiva dos portugueses. Em tese, eram negócios que tinham perdido o bonde da história para as redes de lojas e franquias, que tomavam cada vez mais o lugar dos tradicionais comércios de bairro. Nada mais equivocado. As águas de colônia, os cadernos feitos à mão, os brinquedos de madeira, os rebuçados, tudo aquilo que passou a ser chamado de vintage virou objeto de desejo na linda loja do Chiado (e em suas três filiais). E o sucesso foi tanto que acabou impulsionando outros negócios no mesmo estilo.

O Mercado Novo de Belo Horizonte é a transposição desse movimento de Lisboa para Minas Gerais. Tanto que o nome “Novo” pode soar enganoso para quem não é de BH e assim surgiu a ideia de um rebranding – os idealizadores talvez odiassem o termo, mas foi o que ocorreu, e passaram a chamá-lo de Velho Mercado Novo. Foi uma volta radical às origens. Por trás de tudo, um jovem designer e alguns sócios que não queriam apenas empreender, mas enfatizar a importância de um mercado para a vida de uma cidade.

Casa Tupis
Casa Tupis: um balcão, um Guaramão e o chef Pedro Cunha no preparo das especialidades do dia. (FBrasiliense/Arquivo pessoal)

Posso ter ficado encantado com A Vida Portuguesa, mas o Velho Mercado Novo me tocou mais fundo porque não é apenas uma loja, é um movimento. Não é um suvenir, é a vida acontecendo. O mentor da empreitada, Rafael Quick, traduziu muito bem a ideia: “os mercados são, ou ao menos deveriam ser, uma grande celebração da nossa cultura, das diferenças e especificidades de cada povo. Os produtos que se acumulam nos balcões e nas prateleiras compõem um retrato do que nos torna uma comunidade, da nossa identidade e da essência do que nos faz únicos perante os outros. Precisamos cuidar dos nossos mercados.” 

O Mercado Novo, como você já sabe, não é novo, funciona desde 1963, mas apenas o térreo operava a todo vapor abastecendo diariamente restaurantes da cidade. Há também um comércio raiz, que é composto por gráficas de notas fiscais, loja de vela, oficina de conserto de máquinas costura, lanchonetes. A ocupação mais recente, conduzida por Rafael e alguns sócios, aconteceu em 2018 e se deu no segundo andar, há anos abandonado. Lá foram abertos o Cozinha Tupis, a Cervejaria Viela e dezenas de outros negócios vieram na carona. O lugar segue uma estética que dialoga muito bem com a arquitetura do prédio, que tem paredes de cobogó do chão ao teto e privilegia a luz natural. Quando a fome bate, o melhor é sentar no balcão da Tupis e saber do Pedro Cunha o que tem no dia. Os acepipes, servidos em marmitinhas, são divinos: ovo de codorna defumado, língua, frango a paçoquinha. E nada de bebidas da Ambev, ali é Guaramão, que apesar do toque de limão é doce feito rapadura.

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Jequitiboca
Jetiboca: grãos selecionados, moagem e aquele cheirinho no ar. (FB/Arquivo pessoal)

A essa altura já deve estar claro que não basta dinheiro e nem sanha empreendedora para abrir um negócio no Mercado Novo. Temakeria, hamburgueria, bowl ou avocado toast não sobem a rampa, mas em compensação entram o pão moiado, a sopa de pão, o galopé. A ideia é que os negócios resgatem a cozinha belorizontina e não apenas mineira.

Mas, se não há como fugir do mundo, é preciso dizer que é, sim, tudo muito instagramável: a loja de revelação de filmes analógicos Super Câmera, a torrefação de café Jetiboca, a cachaçaria Lamparina, a barbearia Olegário – onde o cidadão “entra feio e sai bonito” – entre tantos outros. Se o cineasta Wes Anderson rodasse um filme em BH, teria no Mercado Novo o seu cenário ideal.

O Velho Mercado Novo não é um segredo bem guardado, a turma que frequenta o Edifício Maletta está lá em peso, assim como muitos turistas. Os corredores ficam abarrotados nas noites de quinta-feira a sábado. As lojas fecham por volta das 19h, os restaurantes lá pelas 22h e alguns bares seguem até quase meia-noite. O ideal é visitá-lo ao menos duas vezes: durante o dia, para conhecer as lojas e comer com calma, e depois à noite para beber nos diversos bares.

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Olegário BH
Barbearia Olegário: propaganda é a alma do negócio. (FBrasiliense/Arquivo pessoal)

Uma ocupação mais recente é a do terceiro andar, onde está a Drinkeria Margô, que serve um bloody mary que ganhou um nome muito melhor, Maria Sanguinária. E o Jota Quest Rogério Flausino é o curador da galeria de arte Cobo, aberta em maio, que busca incentivar novos artistas mineiros.

Alguém pode estar se perguntando, e o Mercado Central? Ele é praticamente vizinho do Mercado Novo e segue sendo o centro de compras por excelência de BH, com seus boxes de queijo de São Roque, goiabada, café, artesanato e, como nem tudo é perfeito, com a ultrapassada ala de bichos engaiolados.

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Mais do que nunca, BH está na vanguarda porque sabe valorizar o que é autêntico, informal e diverso. O Velho Mercado Novo é brasilidade e identidade. É o que trouxe BH até aqui.

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Endereço: Rua Rio Grande do Sul, 499, Centro; saiba mais aqui.

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