Barra do Sahy: a praia mais astral do Litoral Norte de São Paulo
A capelinha, o rio, o costão, a vibe natureba. A praia de São Sebastião mudou quase nada em uma década – e que assim seja
Há uns dez anos, quando pisei pela primeira vez na Barra do Sahy, no Litoral Norte de São Paulo, foi amor à primeira vista. E que vista! Uma baía pequena, faixa de areia preservada sem prédio ou caixotão interferindo na paisagem. E, coroando a cena, uma ilha logo em frente que, numa ilusão de ótica, parece mudar de lugar à medida em se anda pela areia. Voltei lá há menos de um mês e foi um alento ver que tudo continua praticamente igual.
Enquanto Riviera de São Lourenço e Juquehy atraem quem quer sair de São Paulo, mas prefere ficar a uma distância segura da infra de São Paulo, o Sahy tem uma pegada mais natureba, ainda que esteja longe de ser um lugar roots. Há boas pousadas, alguns restaurantes, tudo pertinho. E se praia boa é praia onde você estaciona o carro e só pega na hora de ir embora, o Sahy cumpre o requisito com louvor.
O mar é perfeito. Pode haver correnteza, indicada com placas de “Perigo”, mas entrando no lugar certo você ultrapassa alguns buracos e pode ficar no sobe e desce das ondas ou ainda pegar alguns jacarés. Pode acontecer de estar quase uma piscina, vai depender do dia. Se quiser, é possível alugar um caiaque e ir até As Ilhas, que apesar do nome é uma só, ou alugar um barco que larga você lá e volta mais tarde pra buscar.
No Sahy, a muvuca na areia se concentra logo na passagem principal onde alguns carrinhos à guisa de barraca de praia ficam a postos vendendo biritas e lanches. A tradicional barraca da Helô segue firme e forte com seus sanduíches caprichados preparados na hora. Basta andar um pouco para a direita para o índice demográfico cair para um terço.
À esquerda, um riozinho deságua no mar e serpenteia um cenário de restinga e mangue. Algumas pessoas fincam base ali mesmo. Famílias lançam mão de pequenos botes infláveis que fazem a alegria dos pequenos. A cena é idílica e parece até que foi cenografada: uma ponte de madeira sombreada por uma amendoeira cruza o canal e, na outra margem, surge uma capelinha pintada de azul e branco que poderia estar em Caraíva. Dali você pega um caminho de terra e vai passando por casas – melhor dizer refúgios? – muitas com placas de “aluga-se” (no Airbnb você encontra várias delas). Em alguns momentos pode ser preciso parar e encostar em alguma cerca para dar passagem aos quadricíclos, transporte oficial de quem tem casa por aquelas bandas. Você sobe uma pequena ladeira e logo encontra uma passagem estreita que revela o enquadramento perfeito: o rio encontrando o mar e a faixa de areia em sua completude. Em vez de voltar pelo mesmo caminho, vale levantar a camiseta, segurar celular e chinelos e atravessar o rio com água quase na cintura.
Voltemos um pouco até a ponte sombreada pela amendoeira. Na margem oposta à capelinha, há uma trilha que passa pelos fundos de algumas casas e que vai dar em uma passagem de pedestres ladeada por muros, e que seria apenas isso, uma passagem ladeada por muros, não fossem os coloridos grafites do início ao fim e que termina (ou começa) na trilha principal que leva à praia.
O costão oposto, o da direita, é para corações fortes. Árvores muito altas, bambuzais e uma trilha coberta por um tapete de folhas que facilita o acesso para quem estiver descalço. Lá pelas tantas, uma placa alerta que há risco de morte para quem ousar pular de cima da pedra. E há quem ouse. Foi chegar ao final da trilha e, uau, o costão forma um quase-abismo e alguns malucos pulavam na água e nadavam até um maciço em frente, que forma uma piscina natural. Perigoso e tentador.
O Sahy é vizinho da praia da Baleia, aonde se chega a pé, mas o cenário muda bastante: faixa de areia larga e batida, extensão de uns dois quilômetros (do outro lado já é Cambury). O mar é tão lindo quanto o do Sahy, mas a praia é tomada por casarões, muitos com guaritas e vigias à postos. O negócio é encontrar uma sombra embaixo de uma amendoeira e aguardar a chegada do vendedor de ruffles caseiras. Você até recusa num primeiro momento, mas ele insiste que você prove, a gente prova e leva dois saquinhos por R$ 20 mais uma bandeja de queijadinhas por R$ 10.
O Sahy tem até noite. Na divisa entre o Sahy e a Baleia, a Casa Hüls Backÿard é um empório de vinhos que tem um amplo jardim com mesas espalhadas em um terreno acolhedor que termina na beira do canal. Não posso dizer mais do que isso porque fui à tarde a caminho da Baleia e não voltei, mas voltaria. A foto abaixo diz um pouco do astral do lugar.
A Barra do Sahy tem algumas boas pousadas como a Aroeira, a Tiê Sahy e a Aldeia de Sahy, mas se você estiver com um grupo, como foi o meu caso, o mais indicado é alugar uma casa no Airbnb. A casa em que ficamos era muito boa, confortável, equipada, com um quintal amplo e bem-cuidado. Ainda que estivesse às margens da rodovia, ela estava mais abaixo da estrada e o barulho não atrapalhou o sono. Se voltasse, buscaria alguma para os lados da capelinha, como essa, essa, essa ou, sonho meu, essa daqui.
O Sahy só tem um defeito: o trânsito de São Paulo até lá. Em um trajeto que levaríamos umas 3 horas pela Mogi-Bertioga, acabamos levando 4 horas na ida e 7 – sim, 7 horas! – na volta, de modo que só devo voltar daqui uns dez anos. Mentira. Basta não pegar a estrada depois das 10h aos domingos, sobretudo em feriados.
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