“Eu não gosto de museu”, foi a frase que ouvi de uma amiga, culta, inteligente e viajadona.
Eu, que sempre babo nas crianças sentadinhas em frente às obras em museus europeus – e uso como exemplo de civilização – fiquei pensativa.
No fim da reflexão cheguei à conclusão que realmente ninguém é obrigado a gostar de museu ou de qualquer outra coisa. É super legal oferecer esta opção para crianças durante a formação, claro, mas depois, quando a gente cresce, não existe regra, obrigação e muito menos vergonha se não rolar aquela afinidade com as artes.
Não é porque eu achei que valia a pena fazer corpo a corpo nos corredores do museu do Vaticano pra enfim ver a Capela Sistina por míseros dois minutos ou porque quase caí de joelhos em frente ao mármore quase se transformando em carne pelas mãos de Bernini, na Galleria Borghese, que devo esperar o mesmo de todo mundo.
Me examinei mais, fui além, e pensei em tantos museus que já visitei olhando as obras como se fossem transparentes! Em horas e horas que gastei sem registrar as informações, que se esvaiam assim que eu saía pela porta da frente, pra liberdade do mundo, das ruas, dos passeios ao ar livre das cidades que conheci.
Pensei também como, com o passar do tempo, fui me desapegando desta função quase obrigatória, desta ditadura cultural e comecei a visitar os museus cujos temas realmente me interessavam.
De cara parei de visitar o que chamo de (não se ofendam) “museu de penicos”, que são aqueles que expõem utensílios cavados meticulosamente por arqueólogos, pelos quais eu tenho a maior admiração e respeito, mas decidi que outras pessoas aproveitarão melhor este esforço, não eu.
Acho que nos últimos tempos a exceção foi o lindão Museu do Ouro, em Bogotá. Um ótimo museu de penicos.
E a arte contemporânea? Esta me leva do amor ao ódio em minutos, não existe meio termo. Minha visita ao Inhotim, que considero o melhor museu do Brasil – quiçá do mundo – teve o poder de me levar ao buraco da insignificância como ser humano moderno, artista e aspirante cultural.
Com exceção de uma meia dúzia de obras achei aquilo tudo um porre, me senti uma fraude. Antes de me xingar, vejam bem, estou dizendo que “eu” sou a fraude, não o museu e seus jardins podados milimetricamente em torno das galerias chiques com nomes mais chiques ainda assinando cada uma delas! Mesmo assim, aprendi que a vida nos prega surpresas.
No fim da visita, quando não havia mais esperança pro meu ego artístico, a obra Forty part motet me acertou como se fosse um chute no peito e fez a visita toda fazer sentido. Adorei.
Depois desta confissão, limpo a barra dizendo que quase pirei quando entrei na ala de Impressionismo do museu D’orsay, em Paris. Meu Deus! Salas e salas de Monets! Ali, ao meu alcance sem vidros e sem limite de distância obras de Renoir, Degas e de “troco” Gauguin, Cézanne, Manet, Toulouse-Lautrec…
No entanto, na mesma viagem, me senti sufocada pelo supermercado de arte que, na minha humilde e ignorante opinião, me parece o Louvre. Sem peso na consciência fiz um roteiro com apenas as obras mais desejadas, vi o que estava no caminho entre uma e outra e saltei fora, rápido. Deixei espaço e encurtei a fila pra gente que pudesse aproveitar mais que eu.
Portanto, caro leitor, não se sinta mal. Você é livre pra gostar de museus, mas é mais livre ainda pra vagabundear sem peso na consciência em cafés, ruas e praças.
A gente te entende.
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