As opiniões são as mais antagônicas possíveis. Ele já foi estrela de programa de televisão de turismo e está sempre concorrido. Mas também já esteve no centro de uma discussão ferrenha depois que uma das mais respeitadas críticas e escritoras de gastronomia do país (Maria de Lourdes Modesto) disse se tratar de uma “obscenidade” (no mau sentido).
Eu confesso que nunca tinha sentido vontade de provar, mas ontem, enquanto passeava pela Baixa de Lisboa, a curiosidade me venceu e eu resolvi entrar na tão comentada Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau. Em tempo: o que o português chama de pastel de bacalhau nós chamamos de bolinho de bacalhau.
Meu choque começou ainda no caixa do pré-pagamento: uma unidade, € 4. Oi? Um mero bolinho custar mais de R$ 20? Mais: as bebidas para acompanhar seguem a lógica exorbitante de preços. Uma tacinha pequena de vinho Madeira, € 5; uma imperial, € 3; refrigerante e Água das Pedras, também € 3 (o normal é tipo a metade do preço). Começamos mal, pensei. Mais um lugar para turista ver, como outros tantos que têm pipocado pela cidade aproveitando os bons ventos.
Sigamos. O bolinho estava quente. Viva! Num país onde os salgados são comidos frios com a maior naturalidade, fui muito surpreendida positivamente. A casquinha estava crocante. E logo na primeira mordida o queijo Serra da Estrela escorreu, numa textura bem gostosa. Mais pontos! Mas depois da segunda mordida eu confesso que já estava enjoada. E achei a massa mais com gosto de batata do que de bacalhau.
Resultado: fiquei com a clara sensação de ser mais uma grande jogada de marketing (de sucesso, obviamente, a julgar pelo movimento constante e pelas longas filas) do que qualquer outra coisa. Primeiro porque, mesmo não sendo nenhuma especialista, me parece muito oportunismo – para não dizer ousadia – juntar duas marcas registradas portuguesas (o bacalhau e o queijo Serra da Estrela) numa receita só, quando eu acho que peixe e queijo definitivamente não nasceram um para o outro.
Segundo porque a casa faz de tudo para parecer bem tradicional e antiga: recriou um ambiente pomposo, com brasões, salões dourados e mais um monte de mimimi. Tem mais: o ano de 1904 aparece em várias referências com destaque – detalhe: só com muita atenção, percebe-se que ele se refere ao ano em que a primeira receita de pastel de bacalhau teria sido oficialmente registrada (a receita praticada pela casa, procurei saber, teria se inspirado nela – só que COM queijo, ou seja, totalmente diferente, ou seja, nada de 1904). A realidade: a Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau existe há apenas três anos. Por fim, e para encerrar o assunto: só havia estrangeiros, o que acho sempre suspeito.
Na dúvida, eu diria: vá, prove, tire as suas próprias conclusões. Há uma unidade da loja em Lisboa, na Rua Augusta, e outra no Porto, nos Clérigos. Para mim, dou como visto. Fui, provei e… sinceramente ainda não sei se gostei (e nem sei se preciso saber ).
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