Já passa das 6 da tarde quando, junto com o sol, o movimento se esvai da pequena vila de Monsaraz, estrategicamente erguida no alto de um morro quase na fronteira do Alentejo com a Espanha (a 190 quilômetros de Lisboa). Restam uns quantos moradores – ao todo são pouco mais de 100 -, uns cachorros a se preparar para a noite que promete ser fria, uma luz que se acende aqui e ali, o silêncio só quebrado pelo badalar dos sinos da igreja. E nós.
Dormir dentro das muralhas do castelo, que, desde os idos do século 13, abraçam o casario branco imaculado, é ganhar de presente uma das mais encantadoras e bem preservadas cidadelas portuguesas. Com sorte, com direito a uma bruma que deixa o cenário ainda mais mágico e só se esvai já tarde da manhã.
Monsaraz ocupou, durante séculos, uma importante posição de defesa do território português. A vista que se descortina dos arredores a partir de suas muralhas e terraços parece infinita: vê-se a Barragem de Alqueva, o Rio Guadiana, um mar de vinhedos e oliveiras. Rua principal tem uma só. No meio, a Igreja Nossa Senhora da Lagoa, de estilo renascentista, do século 16.
Tudo o que interessa em Monsaraz concentra-se nos quase 300 metros metros de extensão da Rua Direita: um punhado de restaurantes, um colorido comércio, hospedarias que se contam nos dedos. A Casa Dona Antónia (diárias desde € 65) é das mais tradicionais. Existe há quase meio século, tem apenas sete quartos e terraços que se abrem para as mais lindas vistas da região. Quase em frente, a Taverna Os Templários serve delícias tipicamente alentejanas. A sopa de cação é um clássico. Nos dias mais quentes, a varanda dos fundos é providencial.
Entre as lojinhas que se enfileiram por trás das fachadas, duas são especiais: a Casa Tial, com um gostoso café de sotaque francês; e a Mizette, que vende lindas mantas de lã fabricadas à moda antiga, em velhos teares, pelo último lanifício que sobreviveu ao passar do tempo na região (quem quiser visitar a fábrica, que tem também um pequeno museu, basta tocar a campainha do número 79 da Rua dos Mendes, a cerca de 15 quilômetros de distância, na vizinha Reguengos de Monsaraz).
No fim, tudo termina em vinho. Monsaraz fica no coração de uma das mais importantes zonas produtoras do Alentejo, casa de grandes nomes como Esporão, Ervideira, Carmim. Visitar vinícolas – e participar de boas degustações – é atividade imperdível na região. Mas isso já é tema para o próximo post…
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