Além-mar

Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Golpes de taxistas no aeroporto de Lisboa estão de volta

Mau humor, agressividade, cobranças indevidas e taxímetros desligados voltaram a ser praxe como anos atrás

Por Rachel Verano
19 jul 2024, 20h00

Primeiro veio a concorrência dos Ubers, depois a pandemia e finalmente parecia que pegar táxi no aeroporto de Lisboa tinha se transformado numa experiência normal para qualquer passageiro desembarcando numa capital europeia. Confiante, cheguei inclusive a apagar do celular os “TVDEs” – forma como os transportes por aplicativos são chamados oficialmente em Portugal.

Doce engano.

Meus últimos quatro ou cinco desembarques em Lisboa, recentemente, me provaram que eu estava redondamente enganada. Ou como diz uma amiga, “não há nada tão ruim que não possa piorar”.

Na primeira vez, não havia fiscal na fila e o cenário era de dar vergonha: motoristas fora dos carros gritando e escolhendo quem queriam levar, como num leilão – e invariavelmente escolhiam estrangeiros que não falavam uma palavra em português (no desembarque seguinte entendi o motivo). Depois de esperar quase meia hora até que alguém me “aceitasse”, querendo acreditar que aquela situação absurda era passageira, peguei um motorista encrenqueiro com direito a discussão e cobrança indevida na porta de casa.

No segundo episódio, um motorista jovem me perguntou o que eu queria antes de entrar no carro: “um táxi, como parece ser óbvio, não?” Eu já estava pronta pro embate. Com fiscal na fila, seguimos viagem. Descuidada, só perto de casa vi que ele não tinha ligado o taxímetro. O que ele não esperava era que eu soubesse o valor de cor. E explicou a razão: ele agora só quer pegar americanos – que dão gorjetas gordas e ainda agendam corridas privadas para os dias a seguir. 

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Uma semana antes, uma amiga desavisada pagou quase cinco vezes o valor normal de uma corrida, sem saber. Inacreditáveis cinquenta euros no trecho aeroporto-Campo de Ourique! 

Sem qualquer embasamento científico ou denúncia legal, infelizmente acabei de assumir que a fama tenebrosa de outros tempos está de volta. Com o agravante de que os Ubers não podem mais pegar passageiros na saída – apenas num estacionamento bem mais longe do desembarque.

Será que é difícil perceber que chegar bem numa cidade é fundamental para as pessoas continuarem a voltar? Ou vale a lei do Algarve de que ninguém tem que tratar ninguém bem só porque está de passagem? Enquanto Portugal estiver mergulhado nesta onda do turismo desenfreado, eu temo que a situação só piore. Perdem os portugueses, perdem os moradores, perdem os turistas. Perdemos todos. Será que ganham os taxistas? Tenho as minhas dúvidas.

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