Mochila Pride

A jornalista Ludmilla Balduino leva na mochila uma vontade de percorrer o mundo ocupando as ruas, conhecendo o diferente, conversando com as pessoas e trocando boas ideias
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Viajar é conectar-se com o mundo, observá-lo e absorvê-lo

Viajar pode mudar a sua existência no planeta Terra - mas você precisa abrir-se para isso. E mostrar o seu outro lado

Por Ludmilla Balduino
Atualizado em 14 jul 2017, 13h55 - Publicado em 23 jul 2015, 22h42

Viagem para a Europa. Roma. Três dias. Entra na igreja, tira foto, sai da igreja, selfie, Coliseu, foto, fonte, moeda, foto, aeroporto. Paris. Dois dias. Torre Eiffel, museu, uh-la-la que mal educado, selfie, rio, rua, pão, compras, compras, compras, selfie, foto, fim.

Se alguma de suas viagens já se resumiu a essas palavras (e pode reparar, tem um monte de palavras repetidas aí em cima), pare. Você está fazendo isso errado.

Antes que cada pedacinho do mundo que pareça ser interessante aos olhos de quem viaja torne-se uma Disney de adultos, pare e pense. Vale mesmo a pena tirar férias (com a reforma trabalhista, meu bem, pode ir dizendo adeus às suas férias), sair de casa, pegar um avião, sobrevoar mais de 6 mil quilômetros, só para tirar foto e mostrar aos outros? Mostrar o quê, o valor que você dispensou para viajar? E que valor é esse? Apenas aquele relacionado ao dinheiro que você gastou?

Dá para extrair um valor maior. Só que você precisa entender: este valor nada tem a ver com dinheiro. Viajar tornou-se uma maneira bem cara de preencher aquele vazio que todos nós sentimos, mas morremos de medo de mostrar que ele existe.

Existe sim. Dá pra ver daqui, enquanto subo e desço pela timeline e pelo meu perfil do Instagram.

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Tá bom, então como é que é que a gente resolve essa parada? Como viajar e o que é esse tal valor maior?

Bom, já que as críticas ao mundo vêm acompanhadas de soluções, uma boa maneira de começar a extrair um valor maior às viagens, e dar um sentido real ao ato de viajar é perceber que viajar pode não ser resumido apenas à busca por prazer. Pode não ser só gastar dinheiro para comer bem, passear nos lugares, tirar foto, comprar. Não é se movimentar sem perceber o movimento. Não tem nada a ver com milhas.

Você pode dar a volta ao mundo, ir até a Lua, mas se você não se moveu junto, se você continua o mesmo depois de todas essas andanças… Você está fazendo isso errado. Está sendo apenas mais um bonequinho que age em completa anestesia.

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Viajar é encontrar o outro. O diferente. E se vislumbrar com isso. Se permitir. Se abrir. Deixar entrar. Mas também continuar vazio. E não ter medo disso.

É parar. Sentir. Absorver. Enxergar. Escutar. Conversar. Se entregar. E nem sempre entender.

Viajar é se conectar com a terra. É baixar aqui. Descer um nível. Sentir a matéria. Sair da tela.

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Porque somos ultraconectados. Mas perdemos a visão sobre isso no momento em que a viagem tornou-se um bem, mais uma maneira que o capitalismo criou de diferenciar as classes sociais.

Uma das melhores formas de entender essa nossa conexão com o mundo é viajando. E nem precisa girar o planeta, gastar suas milhas. Você pode ir ali, no vizinho. No quarteirão ao lado. O que interessa de verdade é se abrir para o que está à sua frente. E deixar tudo entrar. Sem querer digerir alguma coisa. Só absorver. E observar.

Quando a gente entende isso, meu amigo, aí a gente começa a levar as nossas viagens para este outro nível. Espero que você entenda também. Como diz Arthur Veríssimo:

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Tudo que você vive – não sendo um simples turista de passagem, mas sendo um viajante verdadeiro -, você traz para o seu dia a dia e traz para as outras pessoas. Cada um tem a sua história pessoal. Vivemos uma história coletiva no planeta.

Arthur Veríssimo

Siga-me no Instagram: @ludmillabalduino

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