Paris é uma cidade tão visitada quanto desconhecida. Prova disso é a obsessão quase monotemática dos estrangeiros (junto da boina e do croissant) pela Torre Eiffel, o Santo Graal dos turistas de todo o mundo.
Mas se a olharmos bem, trata-se, mais ou menos, de uma antena de rádio superestimada. O pai da Semiótica – e romântico platônico – Roland Barthes dedicou um ensaio lhe dando ares de vestal: um símbolo de ascensão, um facilitador do olhar de dentro pra fora, dizia. Mas de outro lado e perspectiva, a Torre Eiffel é um tipo de totem fálico que dá a ilusão ao turista de ter transado com Paris. Tanto parece plausível que temos mais souvenires de torre do que de qualquer outra obra arquitetônica ou artística criada na Cidade Luz.
Verdade, porém, que a torre é mais imponente e bonita de perto, onde é possível ver toda a sua renda metálica da sua estrutura, pesada, mas que parece leve, ou como cumpre na própria definição do Belo, em Schiller: “Num ser ou objeto a beleza é o equilíbrio entre todas as suas forças vivas. Veja o cavalo, ele é pesado, mas é leve, enquanto o caranguejo é leve, mas é pesado”. Idem para A Girafa (o seu apelido carinhoso), uma proeza de engenharia e de beleza.
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Mas você precisa mesmo subir? Se quer ver Paris do alto sem o inconveniente de uma fila enorme (e no verão embaixo de um sol de 40ºC), e se levarmos em consideração que não é a única e nem a mais alta vista da cidade, você pode se contentar em tomar um sorvete no entorno, na praça do Trocadéro, ou até ir jantar na brasserie e no restaurante do 2º e 3º andares, se fizer assim tanta questão. Porque Paris é mesmo muito maior que a Torre Eiffel, essa espécie de exibicionismo técnico no meio de uma cidade onírica. A anedota do poeta Maupassant é deliciosa: ele detestava a torre, mas jantava com frequência no seu segundo andar: “o único lugar de onde não posso vê-la”. Sim, se quiser entrar no clima parisiense raiz, comece por torcer o nariz aos clichês e cultivar o senso de rebeldia, ou no mínimo, escolher a torre menos óbvia.
Enfim, pra ver a Cidade Luz do ponto mais alto, é preciso caminhar para a margem esquerda do Sena, em direção a Montparnasse, lá onde fica a torre homônima. Você verá que a Torre Montparnasse é um trambolho, um rinoceronte numa loja de cristais. Mas com essa perspectiva em mente entenderá o porquê a Torre Eiffel, inaugurada com sensacionalismo em 1889, provocou na época tanto incômodo entre os parisienses: não só porque olhavam a cidade no máximo da janela de um apartamento no 6º andar ou do morro da igreja Sacré Cœur, mas porque os espigões destoam da paisagem. Vendo da perspectiva de quem mora e convive com o parisiense e o seu temperamento típico, o meu palpite é que as duas torres foram mais admitidas pela sua inevitabilidade do que exatamente admiradas pela celebridade.
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Mas no topo do mítico quartier de Montparnasse (onde boa parte da arte do século 20 foi criada), do 56ª andar, é redundante e inevitável dizer que a vista é deslumbrante. E com o euro igualmente nas alturas, o preço deste arranha-céu também é mais camarada: €19 enquanto a torre mais cobiçada custa €26,80, com o bônus de mais liberdade de tempo e espaço, e com direito a espreguiçadeiras pra se deter na contemplação dos telhados de Ratatouille. E se vier ainda neste verão, aproveite pra ver a exposição imersiva no mesmo andar chamada Paris dan tes yeux (Paris dentro dos seus olhos), que vai te levar a uma sala de espelhos com o skyline mais famoso do mundo pra uma dose mais robusta e lisérgica do que almejava ver. Pura vertigem.
P.S.: A Torre Eiffel é a maior torre no total contando com o prolongamento da estrutura, mas não a vista mais alta, que é de cerca de 40 e poucos andares, enquanto que o mirante da Tour Montparnasse fica no 60º andar. Longe de mim querer fazer uma competição entre as torres, mas um fato é indiscutível: da Montparnasse se tem a melhor vista da Eiffel.
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