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Paris Lado B: passeios por lugares menos óbvios da Cidade Luz

Delicie-se com os arrondissements que ficam na borda de cima do mapa em formato de caracol! E mais: faça dois bate e voltas deliciosos a partir da capital!

Por Lívia Scatena
2 ago 2018, 16h33

Parques e canais

No escargot geográfico de Paris, estar longe do 1º arrondissement significa ficar distante do burburinho da metrópole superturística – e de lugares sensacionais e obrigatórios, como Louvre, Arco do Triunfo e Torre Eiffel.

A sorte é que o metrô está por toda parte e que a Cidade Luz não é das maiores (é 12 vezes menor que Roma, por exemplo). E explorar as pontas do caracol pode ser um dos adoráveis passeios parisienses.

Com exceção da região de Montmartre, que fica no 18º arrondissement, os estrangeiros não conhecem muito o lado norte da cidade – mais precisamente, a parte de cima do caracol que fica entre os bairros 16º e 20º. Mas vale muito passar por lá.

De forma geral, a região tem generosos espaços ao ar livre e uma atmosfera descolada e menos apressada. O 16º, por exemplo, concentra parte da população mais rica da cidade em suas ruas tranquilas e arborizadas – é onde fica a pós-moderna Fondation Louis Vuitton, no Bois de Boulogne, um parque grã-fino bem maior que o londrino Hyde Park e que o nova-iorquino Central Park.

Fondation Louis Vuitton
A Fondation Louis Vuitton (Instagram @fondationlv/@nevermind1107/Reprodução)

Um jeito bom de explorar esse lado menos turístico começa no 19º, pelo Parc de la Villette, um espaço multiuso cuja área verde toma metade de seus 135 hectares e uma baita solução de urbanismo para substituir os abatedouros que existiam ali até os anos 1970.

Referência entre os parisienses, o parque tem museus como o Cité de la Musique, também com salas de concertos, e o Cité des Sciences et de l’Industrie, que mostra como a tecnologia e a ciência transformam o mundo, e a impressionante construção recortada que abriga a Filarmônica de Paris. É dividido ao meio pelo Canal de l’Ourcq, cheio de brinquedos para crianças. E abriga La Géode, a bola de espelho grandona e perfeitinha – o cinema mais diferentão da cidade.

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As margens do canal são cheias de restaurantes e bares. Quase na mesma altura das estações Riquet e Laumière do metrô, fica a cervejaria Paname Brewing Company, com terraço superdisputado nos dias quentes. A IPA escura bête noire acompanha bem o sanduíche de cordeiro marinado na cerveja.

Parc de La Villette
O Parc de La Villette (Philippe Levy/Parc de la Villette/Reprodução)

É só seguir reto pelas margens do canal até chegar à Place de la Bataille-de-Stalingrad, onde está o peculiar prédio La Rotonde de la Villette, do fim do século 18. A galeria de arte contemporânea do espaço arredondado abre de terça a sábado, das 14h às 20h, e o hypado restaurante local tem brunch aos domingos.

Amantes de arquitetura adoram visitar a construção de Oscar Niemeyer, o edifício do Partido Comunista Francês (PCF), que fica a 600 metros dali, na Place du Colonel Fabien, com fachada curva e auditório com teto que lembra uma nave espacial.

O lar do PCF fica a dez minutos a pé do Parc des Buttes-Chaumont, que tem uma colina disputada no verão, na hora do pôr do sol, e o Temple de Sibylle – no meio de um lago artificial e de onde se descortina uma vista inesquecível de Montmartre. Se for até lá de metrô, só não se assuste com a escadaria da estação, da linha 7-bis: são 149 degraus até a superfície!

La Rotonde de La Villette
A La Rotonde de La Villette, no Place de la Bataille-de-Stalingrad, hoje abriga restaurantes e galerias (Shuji Shintani/Grupo Keystone/Reprodução)

O bar Rosa Bonheur, uma ótima e divertidíssima atração noturna da cidade, fica dentro do parque – de metrô, o acesso é mais fácil pela estação Botzaris. Para driblar a fila, faça como o parisiense mais precavido: chegue cedo, por volta das 19h, principalmente se for num domingo – o lugar lota no calor. O bar tem vista panorâmica do parque, DJs residentes com repertório modernoso, comidinhas e bière pression (aquele chopinho amigo). Ah! E o vinho da casa é ótimo.

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Novidades e compras

Há quase dez anos, um antigo galpão público usado para serviços funerários no 19º arrondissement foi transformado em um complexo de arte contemporânea bonito, com programação cultural eclética e bem-sucedida. O 104 tem um pé-direito altíssimo e mostras de artes visuais, teatro, dança e música. Lá dentro fica o simpático Café Caché, lotado de gente descolada e com decoração minimalista. No menu, pratos feitos com ingredientes do dia.

O Marché de l’Olive, ou de La Chapelle, fica a dez minutos caminhando desde o 104. Mercadão à moda europeia, tem bancas de frutas, flores e vegetais, peixarias, açougues, uma infinidade de queijos à disposição, embutidos e até casa de chá. Também dá para comprar uma comidinha e ficar por lá mesmo. A estação Marx Dormoy, da linha 12, é a mais próxima. Não abre às segundas.

Café Caché, Paris
O minimalista Café Caché (Facebook Café Caché/Divulgação)

Cruzando (mesmo) a estação de trens metropolitanos Rosa Parks, está uma área recentemente remodelada, com prédios modernos e uma boa oferta de restaurantes. A hamburgueria belga Ellis Gourmet Burger tem clássicos que fizeram sua fama no país vizinho: fritas à moda e cervejas. O autodenominado “melhor hambúrguer do mundo” tem o sanduíche meatlover como seu carro-chefe, numa porção feita com carne especial da região de Flandres, alface, tomate, pepino e cebola vermelha.

Ali perto, o Fratellini Caffè não esconde seu acento italiano: tem decoração retrô, cadeiras vermelhas, salames e presuntos no aperitivo, pizzas como as feitas em Nápoles (grandonas e individuais) e um gostoso tiramisù.

Para fazer compras ou passar um tempo vendo vitrines bonitas, com mobília que sobreviveu ao tempo e pechinchas, pegue o caminho da estação Porte de Clignancourt (linha 4) e vasculhe o Mercado de Pulgas parisiense. Um sem-número de revistas, óculos de sol, taças, xícaras, espelhos, quadros, joias se espalham por mais de 2 mil lojinhas. Cafés bonitinhos e bancas de crepe completam a paisagem.

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Ellis Gourmet Burguer
Os clássicos belgas da Ellis Gourmet Burger (Instagram @elisgourmetburguer/Reprodução)

A meia hora a pé dos artigos de segunda mão fica o primeiro museu dedicado à arte de rua em Paris. O Art 42 é um misto de escola de informática e galeria, e tem em suas paredes obras de Bansky, cuja fama dispensa apresentações, e JR, conhecido por seus retratos em preto e branco, entre outros.

Flores, flores

Ficam no miolinho turístico de Paris, bem perto do Sena, as ninféias que Monet pintou em sua casa-jardim em Giverny, nos arredores da capital. Os oito painéis, expostos nas paredes curvas do Musée de l’Orangerie, foram doados pelo artista ainda em vida. Mas ele, apegado à sua obra e a tudo aquilo que tinha a ver com sua propriedade cheia de plantas, só se separou das pinturas depois de sua morte, em 1926.

O lago com as plantas aquáticas que inspiraram o pintor impressionista faz parte do roteiro de um bate e volta superfácil de fazer entre Paris e Giverny. O jardim de flores (clos normand) é encantador: os pontinhos coloridos derramados sob os arbustos evidenciam a delicadeza de um pintor que era também jardineiro.

Os jardins inacreditáveis da casa de Monet (StefanoVenturi/iStock)

A casa é igualmente graciosa, decorada com cores predominantes: uma sala de jantar em tons de amarelo e solar, um quarto de leitura com paredes e móveis azuis. O local abre de abril até o começo de novembro, e os ingressos podem ser comprados antes no site da Fundation Claude Monet.

Para chegar lá, basta fazer uma esperta combinação entre metrô, trem e ônibus. Você pega o trem na estação Gare Saint-Lazare, por onde passam os comboios das linhas 3, 12, 13 e 14, e parte em direção a Vernon. Dá para comprar a passagem antes pelo site (na busca, é só preencher as estações de partida e chegada e determinar um horário de ida e volta), mas não é imprescindível: comprar na hora, em uma das máquinas de autoatendimento da estação parisiense, não é difícil.

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A tarifa média sai por 14,70 euros. A depender do dia e do horário, você encontra o trecho em promoção – mas não validar a passagem comprada na estação em uma das máquinas “carimbadoras” pode render multa. De Vernon, pega-se um ônibus até o jardim: o trajeto até a casa não chega a 15 minutos. O fluxo de turistas ajuda a alcançar os ônibus que fazem o percurso, estacionados nas proximidades da estação. O bilhete de ida e volta sai por 10 euros. É um passeio simples de fazer, delicioso e inesquecível.

Horinhas de realeza

Outro bate e volta da capital parte em direção ao Château de Fontainebleau, palácio menos famoso que Versalhes, mas também grandioso. Cinco dinastias passaram pelo local, continuamente, em sete séculos, período mais longo em que um castelo foi ocupado pelo império e pela realeza franceses.

O embasbacante Château de Fontainebleau (@florianbrioude/ Instagram @chateaufontainebleau/Reprodução)

É verdade que os jardins causam bem menos impacto que aqueles de seu, digamos, concorrente mais conhecido, mas o requinte da construção, “atualizada” a cada geração que viveu ali, encanta mais que seu primo rico. Em uma das salas fica o trono de Napoleão. A biblioteca, um de seus salões mais impactantes, tem colunas de livros que vão do chão até o frontão dourado que adorna o teto, todo revestido de afrescos.

Para chegar lá, pega-se um trem na estação Gare de Lyon, parada das linhas 1 e 14 do metrô, e, de lá, um trem regional em direção a Montargis ou Montereau. Depois de um trajeto de cerca de 40 minutos, você desembarca na estação Fontainebleau-Avon. Em frente a ela, pega-se um ônibus da linha 1, e aí é só descer bem no ponto mais próximo ao château – você pode perguntar ao motorista ou apenas seguir o fluxo dos demais turistas.

Os arrondissements de Paris (Adriana Alves/Revista Viagem e Turismo/Reprodução)
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Publicado na edição 267 da revista Viagem e Turismo

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