Chega essa época do ano e sempre ouço a mesma pergunta: “vou passar uma semaninha em Gramado e pretendo fazer um bate-volta em Bento Gonçalves. Como é a estrada para lá?”
Bom, sempre tento demover meus amigos dessa ideia apresentando três argumentos, mas nunca obtive êxito. São eles:
1 – Você está menosprezando/diminuindo o tempo que Bento Gonçalves merece. É bom estar ali por no mínimo, dois dias para o básico – e mais um dia se incluir Garibaldi e Carlos Barbosa.
2 – Duvido que você não irá degustar alguns vinhos no Vale dos Vinhedos, em Bento. Duvido mais ainda se irá pedir um baldinho para cuspir a bebida. Lembrando que álcool e direção não combinam.
3 – Apesar de não muito longa, a viagem é cansativa devido até mesmo à topografia local.
Posto isso e consciente de que esse bate-volta vai ficar mais rotineiro, apresento-lhes os dois caminhos possíveis entre os dois destinos mais turísticos da Serra Gaúcha.
São duas rotas com diferença de nove quilômetros entre elas, mas a mais curta – de 110 km, via Caxias do Sul – costuma levar mais tempo para ser percorrida do que a rota com 119 km, via Bom Princípio e Carlos Barbosa. Os primeiros 47 quilômetros e os últimos sete são comuns aos dois roteiros:
Rota mais curta e demorada (63 km a partir do trevo do Rio Caí)
Esse caminho só é indicado para quem quer economizar alguns quilômetros, ainda que dirija por mais tempo (acredite, esse tipo de gente existe) ou deseja conhecer Caxias do Sul, a maior metrópole da Serra Gaúcha ou pelos apaixonados por estradas que, assim como eu, gostam de ir por um caminho e voltar por outro.
Prosseguindo pela BR-116, o sucesso da empreitada está relacionado a esse trecho, agora ascendente. A terceira pista surge com mais frequência, ainda assim, se pegar uma carreta na pista simples, pode preparar a sua paciência. O visual continua bonito e, na localidade de Galópolis, até existe uma cachoeira Véu de Noiva, com direito a mirante.
A subida termina justamente em Caxias do Sul. Hora de pegar o anel viário da cidade até chegar na RS-122, o trecho de estrada duplicado até Farroupilha, em que podemos recuperar um pouco do tempo perdido. Os últimos 26 km até Bento Gonçalves são por uma estrada relativamente plana com tráfego moderado.
Rota mais longa e rápida (72 km a partir do trevo do Rio Caí)
Voltamos ao trevo da BR-116 após a ponte sobre o Rio Caí. A placa sugere que você vire à esquerda. Alguns instantes na RS-452 e você já entendeu a razão: além de ser bonita, a rodovia tem movimento quase zero de terreno plano. Em 22 km, você dirigirá pelo vale do Rio Caí (embora ele nunca vai aparecer no trajeto), atravessando algumas cidadezinhas de colonização alemã – uma delas com sugestivo nome de Feliz.
Em Bom Princípio, começa novamente o aclive. Primeiro de forma leva na providencialmente duplicada RS-122. Depois de São Vendelino, entra-se na RS-446 e aqui o bicho pega um pouco: 20 km de subida de serra em pista mais estreita, mas pouco sinuosa – algumas vezes uma desejada terceira pista aparece pelo caminho. Já no alto da serra encontramos a cidade de Carlos Barbosa para a última perna da viagem, com traçado tranquilo, mas muitas carretas pelo caminho.
Trecho comum às duas rotas (os primeiros 47 km até o trevo do Rio Caí)
Apesar de estar na Serra Gaúcha, os 35 km iniciais até Nova Petrópolis são relativamente tranquilos, afinal dirige-se pela crista da serra, sem grandes aclives ou declives. O visual é bonito especialmente na metade final da RS-235 quando surgem os distritos de Nova Petrópolis com suas igrejinhas e construções de madeira. A partir daí, à direita, tem-se um belo visual das montanhas.
Quem for apenas passar o dia em Bento Gonçalves deve passar reto por Nova Petrópolis. Com mais tempo, você pode visitas as lojas de malha (os preços são bons) e se divertir no Labirinto Verde, na pracinha central.
A perna seguinte é pela BR-116 em um trecho belo e sinuoso, especialmente os nove quilômetros de descida intensa, com um ou dois pontos de ultrapassagem segura. Ou seja, se pegar um caminhão lento, dançou. Aproveite para curtir a paisagem do lado direito.
Dois quilômetros após a ponte sobre o Rio Caí, surge o trevo que dividirá as rotas.