Depois do show aqui em Barcelona, no dia 13 de julho, Gil e Caetano foram petiscar e biritar – consta que Cae tomou um uisquinho e Gil pediu uma cachacinha. O lugar escolhido foi o Arola, do chef Sergi Arola, que já viveu dias melhores. Que pena. Se tivessem um ombro amigo por dentro das boas da cidade, poderiam ter curtido um lugar mais gostoso e autêntico. O matador Bar Cañete, afinal de contas, está escondidinho numa quebrada do Raval, justamente ao lado do Teatro Liceu, onde os dois maiores patrimônios da MPB se apresentaram.
No pasa nada, Cae. Eu também demorei para descobrir o Cañete, aberto desde 2012 — mesmo já estando pelas Ramblas do planeta, pertinho das torres traçadas por Gaudí, há mais de 15 anos. Instalado numa rua discretíssima do Raval, a Carrer de la Unió, o lugar ainda não entrou para o circuito dos bares celebridades da cidade (ainda que a edição local da Time Out, por exemplo, já o tenha na lista dos melhores). Numa segunda-feira de verão, quando a fila na Cervecería Catalana demandava uma hora e meia de espera, demorei apenas 15 minutos para sentar no Cañete.
O lugar está dividido em duas partes: “barra y mantel”. Mantel, em espanhol, significa toalha de mesa, coisa de restaurante. Barra quer dizer balcão e indica que se trata de um bar (neste caso, de tapas). Só é possível fazer reservas na parte Mantel.
Muitíssimo mais simpática e animada, a parte Barra tem um balcão de 17 metros e apenas cinco mesas com bancos altos, algumas bem espremidinhas (por pouco não tive que rastejar por baixo de outra mesa para chegar até a minha) e outras maiores compartilhadas. O lugar tem um quê de alegria da Andaluzia tanto na decoração (consta uma cabeça de touro empalhada na parede) como no cardápio e no espírito. Renda-se a uma ou outra fritura, uma especialidade andaluza — aqui vale.
A comida é um negócio seriíssimo, preparada com produtos fresquíssimos — o restaurante fica a poucos metros do mercado da Boquería. Croquetes matadores de jamón bellota para começar. Eles vêm à mesa numa mini cestinha de fritadeira, sequinhos, perfeitos, redondinhos. Há uma lista ultra tentadora de tapas tradicionais. Mas, uma vez lá, preferi apostar por invenções da casa. Primeira etapa: atum com abacate e maionese de chipotle, sutilíssimo. Segundo passo: uma panelinha de favas de Santa Pau com lulinhas (uma combinação temperadíssima e intensamente saborosa). Mas o Cañete entrou definitivamente para a minha lista dos lugares essenciais de Barcelona no último pratinho, uma cocotte de rabo de touro desfiado com vinho tinto e purê. Nocaute.
Se o Cañete fosse um bar mais barato, passaria lá toda semana só para repetir a rabada. Mas, sem muito esforço, a conta passa de € 40 por cabeça. A saída para durangos é o menu de almoço. Com opções bem atraentes (como o ceviche de vieiras com maracujá), custa € 16 por pessoa com dois pratos, sobremesa e uma tacinha de vinho.
Siga @drisetti no Twitter, no Instagram e no Snapchat
Leia sobre outros restaurantes escondidinhos de Barcelona que valem a viagem:
O restaurante que mudou a minha vida: Mariona